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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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CONTAS

Para economistas, maior fluxo de capital estrangeiro pode não ser consistente

Analista pede cautela com retomada

ADRIANA MATTOS
JOSE ALAN DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A CAMPOS DO JORDÃO

A retomada no fluxo de investimentos estrangeiros no Brasil em julho não pode ser interpretada como melhora na confiança do investidor externo no país. Ou mesmo que será consistente. A conclusão é de economistas presentes a um evento sobre finanças promovido pela BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), em Campos do Jordão (SP).
"Os últimos números devem ser observados com certa cautela. Há muitos pontos de volatilidade na economia brasileira ainda. No ano o Brasil deve fechar com volume de investimentos inferior ao de 2002", disse à Folha José Alexandre Scheinkman, vice-presidente do banco de investimentos Goldman Sachs e consultor da Mckinsey Global Institute.
Em julho, esses investimentos somaram US$ 1,2 bilhão. Para agosto, até a quarta-feira, o volume atingia US$ 700 milhões e o governo já prevê uma entrada de US$ 1,1 bilhão em todo o mês.
"É bom lembrar que esse dinheiro é, em grande parte, operação de conversão em que dívidas são transformadas em investimentos, sem entrada real de recursos", afirmou ontem Eduardo Giannetti da Fonseca, membro do conselho de Economia da Fiesp, maior entidade industrial do país.
"Há uma desconfiança arraigada nos mercados internacionais em relação à moeda brasileira. Essa falta de confiança leva à forte volatilidade interna, afasta investimentos e inibe o crescimento", disse. A dívida pública brasileira deverá representar 60% do PIB (Produto Interno Bruto) até o final de 2003. Em 2002, a taxa estava em 55,9%.
Na avaliação de Márcio Garcia, professor de economia da PUC-RJ, "o país tem várias fontes de incertezas, como a não definição das reformas previdenciária e tributária. Isso faz com que quem tenha de "enterrar" dinheiro aqui acabe esperando mais", afirmou.
Para ter uma noção da relevância dessa entrada de recursos no país, é preciso dividir o volume pelo déficit em conta corrente, segundo Giannetti. Esse montante de investimentos ajuda a "cobrir" o déficit. O país precisa de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões em investimentos para compensar o buraco. Neste ano, devem entrar, no entanto, cerca de US$ 10 bilhões.
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Luiz Augusto Candiota, disse que a instituição manterá a previsão de ingressos de US$ 10 bilhões neste ano. ""No primeiro semestre, os investidores estavam recuperando a confiança em relação à política macroeconômica. Os investimentos vão fluir agora em maior escala porque o governo tem mantido um esforço para resolver questões como o marco regulatório", disse. A única voz discordante ontem, ao comentar a questão dos investimentos, foi Albert Fishlow, diretor da Universidade de Columbia (EUA). "Faz tempo que o Brasil não tinha tantos resultados positivos recentes. Essa entrada de recurso externo é um ponto a favor, ainda que boa parte do montante seja conversão de dívida."


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