São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

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Sindicato aceita negociar com VW, mas recusa corte

Montadora anunciou que pode demitir 6.100 e fechar fábrica se não chegar a acordo

Trabalhadores aprovam em assembléia retomada de negociações, mas não abrem mão de empregos nem de direitos trabalhistas


Jorge Araújo/Folha Imagem
Trabalhadores da Volkswagen durante assembléia na fábrica de São Bernardo do Campo (SP)


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os funcionários da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, decidiram que vão negociar o plano de reestruturação da montadora para reduzir custos e atrair investimentos para a fábrica, mas recusam demissões e corte de direitos trabalhistas, como já propôs a empresa.
A montadora anunciou na segunda-feira aos sindicalistas que, se não aceitarem negociar medidas para reduzir os custos em 15% e aumentar a competitividade da fábrica, o grupo pode demitir 6.100 dos 12,4 mil empregados e fechar a unidade do ABC. Um dos marcos da industrialização do país, a fábrica chegou a empregar 42 mil pessoas no final dos anos 70.
A empresa estaria preparando uma lista dos demitidos para pressionar e forçar o sindicato a fechar um acordo, segundo informaram dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT). Pelo menos 1.800 nomes estariam selecionados.
A montadora não confirma. Os trabalhadores sabem que podem ser dispensados a partir de novembro, quando acaba acordo de estabilidade negociado em 2001 na Alemanha por Luiz Marinho (ministro do Trabalho e, na ocasião, presidente do sindicato). Há cinco anos a VW tenta redimensionar suas atividades, mas enfrenta resistência do sindicato.
A Volks afirma que precisa fechar até sexta-feira um acordo sobre a reestruturação porque a matriz alemã cobra uma posição da filial para definir, em reunião marcada para setembro, na Alemanha, novos investimentos. Com o acordo, a VW afirma que precisa demitir 3.672 empregados para compensar a queda nas exportações em razão da desvalorização do dólar. Sem o acordo, o número de dispensas subiria para 6.100.
A retomada das negociações foi aprovada ontem em assembléia com cerca de 10 mil trabalhadores, segundo o sindicato. No sábado, os empregados fazem nova assembléia para avaliar o rumo das negociações e podem definir protestos, manifestações e até mesmo paralisações, caso não saia um acordo.
"Não podemos abrir mão de negociar. Mas será um desafio, porque não vamos aceitar que se arranquem direitos (como redução salarial dos novos contratados em 35%) nem demissões", afirma José Lopez Feijóo, presidente do sindicato.
O dirigente descartou ainda negociar um acordo como o realizado na Volks de Taubaté -a empresa indicará 700 demitidos nessa unidade até 2008 e concede incentivo de 0,4 salário por ano trabalhado.
O sindicato atribui as dificuldades que a VW enfrenta à má administração da empresa. "A fábrica cometeu uma série de erros administrativos, investiu em carros que não deram certo no mercado e agora quer chamar o trabalhador para pagar a conta?", questiona Feijóo.
Ele cita, por exemplo, que a empresa estimava, quando iniciou a produção do Fox no país, exportar 140 mil modelos do carro em 2006. "Agora, esses números estão revistos para 60 mil neste ano, 30 mil em 2007 e 7.000 em 2008."
Para os funcionários, a empresa está fazendo "terrorismo" ao anunciar o fechamento da fábrica. "Isso aqui dá lucro. Não há carro suficiente no mercado, a Volks está vendendo, e estamos cansados de ser convocados para trabalhar fora do horário para dar conta da demanda", diz André Rodrigues Linhares, 48, há 28 anos na VW.
"A empresa nos pressiona, deixa nossas famílias preocupadas dizendo que vai fechar. Duvido que faça isso. O que ela faz, mesmo, é terrorismo", diz André, 45, que prefere não revelar o sobrenome por temer represálias.


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