São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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No melhor dia da crise, Bolsa sobe 3,8%

Apesar de alta, Bovespa ainda acumula perdas de 10,8% desde início da crise no mercado financeiro, em 24 de julho

Ausência de más notícias faz mercados nos EUA e na Europa se recuperarem, embora analistas ainda prevejam instabilidade

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Bovespa teve ontem seu melhor pregão desde o início da turbulência que abala o mercado financeiro global, há um mês. Com a valorização de 3,87% de ontem, as perdas acumuladas pela Bolsa em agosto passaram a ser de 4,5%. A alta de ontem foi a maior desde o pregão de 6 de março -e a segunda mais forte do ano.
Com o mercado menos tenso, notícias de aquisições por parte de grandes empresas internacionais repercutiram positivamente nas Bolsas. Mas, alertam analistas, a melhora dos últimos dias não significa que as turbulências acabaram.
O índice Dow Jones, principal referência da Bolsa de Nova York, subiu 1,11% e saiu do vermelho no mês (tem agora alta mensal de 0,18%). A Nasdaq teve alta de 1,25% ontem. A Europa também teve dia de altas: 1,81% em Londres, 1,02% em Frankfurt e 1,83% em Paris.
Apesar da melhora dos últimos dias, a Bovespa -que subiu 7,77% nos últimos quatro pregões- ainda registra desvalorização de 10,8% desde o início da crise, em 24 de julho.
"O fato de os ativos [ações, títulos de dívida] terem caído exageradamente nas últimas semanas faz com que o estímulo para a saída diminua", diz Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas.
O giro financeiro de R$ 5,27 bilhões registrado na Bolsa ontem -23% maior que a média diária do ano- mostra que o movimento de compra de ações foi consistente. As duas ações de maior peso, Petrobras PN e Vale do Rio Doce PNA, tiveram ganhos de 5,56% e 5,47%.
Mesmo os estrangeiros, que têm se destacado na ponta vendedora desde meados de julho, têm voltado a comprar ações nos últimos dias. Até o dia 15, o saldo mensal das operações dos estrangeiros na Bolsa paulista estava negativo em R$ 2,14 bilhões. No dia 20, esse balanço havia melhorado, ficando negativo em R$ 1,47 bilhão.
O dólar teve queda de 1,18% e terminou o dia a R$ 2,013. A moeda tem mostrado certa resistência para voltar abaixo dos R$ 2, patamar rompido na semana passada. No melhor momento do dia, o dólar foi negociado ontem a R$ 2,004.
"A estabilização do câmbio é fundamental para os juros caírem. Por enquanto, ainda acho que há espaço para o Copom cortar a taxa básica em 0,25 ponto", afirmou Lintz.
A diretoria do Banco Central se reunirá nos dias 4 e 5 de setembro para definir a taxa Selic, que está em 11,5% anuais, e há quem preveja que a turbulência externa e a alta do dólar façam o BC reduzir ou mesmo interromper a queda dos juros, que vinha ocorrendo num ritmo de meio ponto por reunião.
Com o mercado menos arisco, houve procura por papéis da dívida de emergentes, o que derrubou seus riscos ontem.
O risco-país brasileiro desceu 3,23%, a 210 pontos.
O mercado agora espera que o Fed (o BC dos EUA) reduza a taxa básica americana, que está em 5,25%. A próxima reunião do Fed está marcada para o dia 18 de setembro, mas especula-se que ele possa antecipá-la para cortar a taxa, caso o mercado não demonstre sinais mais firmes de recuperação. Menor taxa de juros ajuda a atividade econômica e as empresas e tira atratividade dos títulos do Tesouro dos EUA, que em crises são vistos como porto seguro.
O Fed voltou ontem a injetar dinheiro no mercado -US$ 2 bilhões. Tem feito isso há duas semanas, para aumentar o volume de recursos disponíveis no sistema financeiro, evitando assim que a crise faça os juros de mercado dispararem.
Na Europa, o BCE anunciou que fará hoje uma operação de refinanciamento no mercado de cerca de US$ 55 bilhões com vencimento de três meses.
Entre as notícias corporativas que animaram o mercado ontem, estava a informação de que as corretoras on-line americanas TD Ameritrade Holding e E*Trade Financial planejam uma fusão, o que criaria a maior companhia do setor. O resultado da gigante da mineração BHP Billiton, que anunciou alta de 19% no lucro do segundo semestre fiscal, também repercutiu positivamente.
O fato de não ter havido nenhuma novidade negativa envolvendo fundos ou instituições financeiras favoreceu a melhora do humor.
Os problemas de solvência no setor de crédito habitacional de alto risco nos EUA, estopim da turbulência, trazem o temor de contágio do setor financeiro como um todo, derrubando o desempenho de fundos e de bancos. Com isso, há um mês os investidores têm preferido se desfazer de ativos de maior risco, como as ações, e buscam títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

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