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Crédito privado é o que mais cresce sob Lula
Desde 2003, instituições privadas ampliaram mais o volume de empréstimos concedidos do que os bancos públicos
Durante a crise, porém, bancos privados frearam os financiamentos, enquanto os controlados pelo Estado agiram no sentido contrário
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar de os bancos públicos
terem mantido um ritmo acelerado de empréstimos durante a
crise, foram as instituições privadas nacionais que mais expandiram o crédito durante o
governo Lula. Não só o crescimento foi maior como o volume total do crédito também superou o dos bancos públicos.
Em dezembro de 2002, no
apagar das luzes do governo
Fernando Henrique Cardoso,
os bancos públicos respondiam
por uma parcela do crédito total correspondente a 8,3% do
PIB, enquanto a das instituições privadas nacionais estava
em 8,2% do PIB. Os bancos estrangeiros absorviam 5,5%. O
estoque total do crédito somava apenas 22,1% do PIB.
Para 2009, a previsão é que
os bancos privados nacionais
atinjam em crédito neste ano a
marca de 18,8% do PIB, superior aos 18,4% do PIB estimados para o setor público, apesar
de toda a ação mais agressiva do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Já a parcela
dos bancos estrangeiros deverá
atingir 8,5%. O estoque total do
crédito deverá saltar para
45,7% do PIB, mais do que o dobro em relação a 2002.
Os números fazem parte de
um documento elaborado pelo
departamento econômico do
Credit Suisse Brasil para avaliar o comportamento do crédito do Brasil nos últimos anos.
Uma das conclusões do trabalho é que, apesar da ação mais
cautelosa na crise, os bancos
privados nacionais tiveram um
papel preponderante no crescimento do crédito no país.
A partir de 2004, só nos anos
da crise recente -em 2008 e
2009- o ritmo de expansão de
empréstimos dos bancos públicos foi superior ao dos privados. Para o economista-chefe
do Credit Suisse Brasil, Nilson
de Oliveira, esses dados indicam que, com o fim da crise, os
bancos privados nacionais deixarão o conservadorismo de lado e voltarão ao ritmo anterior
de concessão de empréstimos.
Segundo o economista-chefe
da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Rubens Sardenberg, esse crescimento acelerado dos empréstimos públicos durante a crise não pode ser
encarado como uma mudança
estrutural no processo de expansão do crédito. Trata-se, a
seu ver, de um período muito
curto para ser visto como uma
mudança de tendência.
Polêmica
A polêmica em torno do desempenho do crédito público
em relação ao do privado foi desencadeada após o Banco do
Brasil ter recuperado, há duas
semanas, a liderança em ativos
no ranking bancário do país. A
ação agressiva do BB no crédito
foi fundamental para ter superado o Itaú Unibanco.
Na ocasião, quando o BB retomou o primeiro lugar, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os privados
deveriam seguir o exemplo dos
públicos, senão iriam "comer
poeira". A declaração soou como uma espécie de resposta a
muitos banqueiros privados
que criticaram a estratégia
agressiva das instituições públicas de baixar os juros e manter acelerado o ritmo dos empréstimos na crise.
Nesse período, os bancos privados nacionais pisaram no
freio dos empréstimos. No primeiro semestre de 2008, o crédito privado estava crescendo a
um ritmo de 35% a 40%; na crise, se desacelerou para 10% a
15%. Já os bancos públicos fizeram exatamente o contrário.
O comportamento mais
agressivo do BB e da Caixa fez
com que o volume de crédito
dos bancos públicos se aproximasse do dos privados. Em dezembro de 2007, o setor privado respondia por 15% do crédito em relação ao PIB, e o público, por 11,7%. A diferença, portanto, era de 3,3 pontos.
Já em 2008, quando explodiu
a crise, a diferença caiu para 2,7
pontos. O setor privado tinha
17,7% do PIB em crédito, e o
público, 15%. A previsão do
Credit Suisse para o final deste
ano é que a diferença caia para
apenas 0,4 ponto percentual.
A tendência, no entanto, é a
de que essa diferença volte a se
alargar com o fim da crise. Para
o economista Demian Fiocca,
presidente do Nossa Caixa, essa
retomada do crédito pelos bancos privados já deve estar acontecendo. Sua previsão é que os
empréstimos privados devam
crescer num ritmo mais acelerado no segundo semestre.
"O meu palpite é que, apesar
dos discursos [dos banqueiros],
o crédito privado já deva estar
retomando a normalidade."
Em tom conciliador, Fiocca
diz que mais importante do que
todo esse debate foi o fato de o
crédito ter mais do que dobrado em sete anos. Em dezembro
de 2002, o estoque do crédito
total no país correspondia a
apenas 22% do PIB. Em junho
de 2009, subiu para 43,7% do
PIB, o que significa hoje uma
montanha de R$ 1,3 trilhão.
A previsão do Credit Suisse
Brasil é que o crédito encerre o
ano em 45,7% do PIB e, em
2010, salte para 48,6%. Ou seja,
nos oito anos do governo Lula,
o crédito vai chegar muito perto da marca de 50% do PIB.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que esses
números mostram que o país
está, pouco a pouco, se aproximando dos padrões internacionais de crédito, apesar de a distância ainda ser muito grande.
Nos EUA, o crédito corresponde a 200% do PIB; no Japão, a
180%; na Espanha, a 170%.
Mesmo em países como Coreia
do Sul e Chile, o total varia em
torno de 100% do PIB.
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