São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009

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Crédito privado é o que mais cresce sob Lula

Desde 2003, instituições privadas ampliaram mais o volume de empréstimos concedidos do que os bancos públicos

Durante a crise, porém, bancos privados frearam os financiamentos, enquanto os controlados pelo Estado agiram no sentido contrário


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Apesar de os bancos públicos terem mantido um ritmo acelerado de empréstimos durante a crise, foram as instituições privadas nacionais que mais expandiram o crédito durante o governo Lula. Não só o crescimento foi maior como o volume total do crédito também superou o dos bancos públicos.
Em dezembro de 2002, no apagar das luzes do governo Fernando Henrique Cardoso, os bancos públicos respondiam por uma parcela do crédito total correspondente a 8,3% do PIB, enquanto a das instituições privadas nacionais estava em 8,2% do PIB. Os bancos estrangeiros absorviam 5,5%. O estoque total do crédito somava apenas 22,1% do PIB.
Para 2009, a previsão é que os bancos privados nacionais atinjam em crédito neste ano a marca de 18,8% do PIB, superior aos 18,4% do PIB estimados para o setor público, apesar de toda a ação mais agressiva do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Já a parcela dos bancos estrangeiros deverá atingir 8,5%. O estoque total do crédito deverá saltar para 45,7% do PIB, mais do que o dobro em relação a 2002.
Os números fazem parte de um documento elaborado pelo departamento econômico do Credit Suisse Brasil para avaliar o comportamento do crédito do Brasil nos últimos anos. Uma das conclusões do trabalho é que, apesar da ação mais cautelosa na crise, os bancos privados nacionais tiveram um papel preponderante no crescimento do crédito no país.
A partir de 2004, só nos anos da crise recente -em 2008 e 2009- o ritmo de expansão de empréstimos dos bancos públicos foi superior ao dos privados. Para o economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Nilson de Oliveira, esses dados indicam que, com o fim da crise, os bancos privados nacionais deixarão o conservadorismo de lado e voltarão ao ritmo anterior de concessão de empréstimos.
Segundo o economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Rubens Sardenberg, esse crescimento acelerado dos empréstimos públicos durante a crise não pode ser encarado como uma mudança estrutural no processo de expansão do crédito. Trata-se, a seu ver, de um período muito curto para ser visto como uma mudança de tendência.

Polêmica
A polêmica em torno do desempenho do crédito público em relação ao do privado foi desencadeada após o Banco do Brasil ter recuperado, há duas semanas, a liderança em ativos no ranking bancário do país. A ação agressiva do BB no crédito foi fundamental para ter superado o Itaú Unibanco.
Na ocasião, quando o BB retomou o primeiro lugar, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que os privados deveriam seguir o exemplo dos públicos, senão iriam "comer poeira". A declaração soou como uma espécie de resposta a muitos banqueiros privados que criticaram a estratégia agressiva das instituições públicas de baixar os juros e manter acelerado o ritmo dos empréstimos na crise.
Nesse período, os bancos privados nacionais pisaram no freio dos empréstimos. No primeiro semestre de 2008, o crédito privado estava crescendo a um ritmo de 35% a 40%; na crise, se desacelerou para 10% a 15%. Já os bancos públicos fizeram exatamente o contrário.
O comportamento mais agressivo do BB e da Caixa fez com que o volume de crédito dos bancos públicos se aproximasse do dos privados. Em dezembro de 2007, o setor privado respondia por 15% do crédito em relação ao PIB, e o público, por 11,7%. A diferença, portanto, era de 3,3 pontos.
Já em 2008, quando explodiu a crise, a diferença caiu para 2,7 pontos. O setor privado tinha 17,7% do PIB em crédito, e o público, 15%. A previsão do Credit Suisse para o final deste ano é que a diferença caia para apenas 0,4 ponto percentual.
A tendência, no entanto, é a de que essa diferença volte a se alargar com o fim da crise. Para o economista Demian Fiocca, presidente do Nossa Caixa, essa retomada do crédito pelos bancos privados já deve estar acontecendo. Sua previsão é que os empréstimos privados devam crescer num ritmo mais acelerado no segundo semestre.
"O meu palpite é que, apesar dos discursos [dos banqueiros], o crédito privado já deva estar retomando a normalidade."
Em tom conciliador, Fiocca diz que mais importante do que todo esse debate foi o fato de o crédito ter mais do que dobrado em sete anos. Em dezembro de 2002, o estoque do crédito total no país correspondia a apenas 22% do PIB. Em junho de 2009, subiu para 43,7% do PIB, o que significa hoje uma montanha de R$ 1,3 trilhão.
A previsão do Credit Suisse Brasil é que o crédito encerre o ano em 45,7% do PIB e, em 2010, salte para 48,6%. Ou seja, nos oito anos do governo Lula, o crédito vai chegar muito perto da marca de 50% do PIB.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que esses números mostram que o país está, pouco a pouco, se aproximando dos padrões internacionais de crédito, apesar de a distância ainda ser muito grande. Nos EUA, o crédito corresponde a 200% do PIB; no Japão, a 180%; na Espanha, a 170%. Mesmo em países como Coreia do Sul e Chile, o total varia em torno de 100% do PIB.


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