São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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MERCADO FINANCEIRO

Executivos acreditam que a Bolsa tende a cair e o dólar, subir; "efeito Lula" ainda não foi absorvido

Resultado de pesquisa deve elevar tensão

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Executivos do mercado financeiro afirmam temer o comportamento dos mercados na reabertura dos negócios hoje, em razão dos resultados desfavoráveis ao (PSDB), na pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana.
Além das eleições, o cenário externo negativo continua a preocupar.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu quatro pontos percentuais na pesquisa e está com 44% das intenções de voto para presidente. Seus adversários somam 48%. José Serra (PSDB) caiu dois pontos, está com 19% e lidera em rejeição.
O tucano está no limite do empate técnico com Anthony Garotinho. O candidato do PSB tem 15% e está, por sua vez, tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PPS), com 13%.
Analistas dizem que o dólar deve subir e a Bolsa, cair. O "efeito Lula" ainda não teria sido completamente embutido nos preços.
"Será uma ducha de água fria no mercado. Não sei quanto o dólar sobe, se explode agora. Quanto mais caro, menor o poder de remessa", diz Pedro Thomazoni, diretor do Lloyds TSB.
Serra é o candidato do mercado que o identifica com a continuidade da atual política econômica.
"Se o mercado acreditar na vitória do Lula", afirma Thomazoni. "Porque o investidor estrangeiro acha que Serra se recupera."
Analistas dizem que Lula não tem credibilidade com investidores estrangeiros e que, se vencer, o país enfrentará um difícil teste.

Catástrofe
"Será uma catástrofe [hoje, em razão dos resultados do Datafolha"", diz Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner. "O câmbio vai tentar subir, e a Bolsa vai cair."
Para Vaz das Neves, um limite para o dólar pode ser a "resistência do câmbio argentino. A cotação de R$ 3,60 seria razoável, pois o câmbio no Brasil não pode ficar mais alto que no país vizinho, com aquele caos".
A cotação do dólar na Argentina era de 3,61 pesos no fechamento de sexta-feira.
"Pode soar irracional, mas é como o mercado pensa", diz.
Para ele, a recuperação dos ativos na sexta-feira foi "muito frágil e veio muito mais pela pequena melhora em Wall Street".
A semana será de volatilidade alta, com possível influência do dólar sobre a Bolsa, segundo Gregório Rodriguez, da Socopa.
O Banco Central anunciou que não vai rolar os vencimentos de quarta-feira (US$ 1,516 bilhão) da dívida pública atrelada ao dólar.
Analistas avaliam que era melhor não rolar os vencimentos a pagar as altas taxas que o mercado exigia. Na sexta-feira, o FRA (Forward Rate Agreement, que melhor mede o cupom cambial) fechou a 41% ao ano, depois de chegar perto de 50%.
Para Vaz das Neves, porém, o anúncio do BC foi desnecessário.
"Não há leilões de linha. Não precisava avisar que não vão rolar. Parece terrorismo [para fomentar medo da candidatura Lula", como quando disseram que o país viraria uma Argentina."

Estados Unidos
O mercado aguarda resultados de lucros de empresas norte-americanas no terceiro trimestre. Na agenda, entre outros índices, estão o dos indicadores-líderes e de confiança do consumidor.
"A economia dos EUA está devagar. As Bolsas vão mal. Se caírem mais, aumenta a escassez de recursos e fica faltando dólar no mercado, lá também", diz Thomazoni, do Lloyds TSB.
Analistas esperam manutenção da taxa básica de juros em 1,75%, na reunião do Federal Reserve (o banco central dos EUA) amanhã.


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