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LUÍS NASSIF
A greve da Justiça
A greve do Judiciário
paulista merece uma reflexão maior e lições a serem tiradas. Não se trata de uma mera questão salarial, como coloca o governador Geraldo Alckmin. É a mais longa greve já
ocorrida no Poder Judiciário
no Brasil. É a segunda greve de
mais de 80 dias, no curto espaço de três anos.
Houve um erro básico na
Constituição de 1988, que foi
destinar recursos orçamentários ao Poder Judiciário, sem
definir formas de aplicação.
Um cheque em branco para
um poder que não dispunha
nem de experiência, nem de
preparo, nem de mecanismos
de gestão desses recursos. Até
hoje o Poder não tem controladoria e gestão financeira eficientes para fiscalizar o uso
desses recursos de forma centralizada.
A Justiça paulista é a maior
do país. Tem direito a 6,5% da
arrecadação do Estado -acima do limite legal de 6%. Também dispõe de receitas próprias, que não passam pelo Tesouro. O TJ (Tribunal de Justiça) administra cinco tribunais,
três de Alçada mais o TRE (Tribunal Regional Eleitoral), num
total de mais de 50 mil funcionários trabalhando em ambiente caótico. É das Justiças
menos informatizadas do país.
E lida com 12 milhões de processos.
O TJ controla uma massa de
depósitos judiciais da ordem de
R$ 8 bilhões, colocados na Nossa Caixa. Como a remuneração é insignificante (6% ao
ano), permite um formidável
lucro ao banco. Em troca, fez
um convênio pífio -pelo qual
a Nossa Caixa deveria informatizar o Judiciário-, de meros R$ 70 milhões por ano.
Existe um Fundo de Modernização e Informatização do próprio TJ, constituído de taxas e
tarifas extra-orçamentárias
arrecadadas diretamente nos
seus guichês. Nunca se procurou aplicá-lo de acordo com visão estratégica. Compram-se
carros, mas não computadores.
Nos últimos anos, desembargadores foram alojados em
prédios modernos nos Jardins,
enquanto as sessões de julgamento são no centro velho, em
prédios antigos, com computadores muitas vezes dos próprios
funcionários. O chamado Anexo Fiscal, na rua Vergueiro,
onde se processam as execuções
fiscais estaduais e municipais,
é um pardieiro, prédio completamente inadequado, onde
centenas de milhares de processos se amontoam no chão de
cada cartório.
Hoje em dia, é um poder com
funcionalismo em excesso e
trabalhando em condições subumanas, com algumas funções que foram superadas pelo
tempo (como a do oficial de
Justiça, incumbido de avisar as
partes). E o poder tem uma dificuldade invencível em trabalhar com auto-regulação. Embora a maioria absoluta de juízes e desembargadores seja de
pessoas honradas, não havia
um mecanismo interno para,
por exemplo, interromper a
ação do juiz Nicolau, no episódio do TRT.
Se a Secretaria de Reforma
do Judiciário do Ministério da
Justiça não fosse tão trapalhona, já poderia ter se iniciado o
grande pacto pela modernização do Judiciário, a partir do
próprio Judiciário. Mas alguém precisa conduzir essa tarefa, que é trabalho para estadista.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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