|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Intenção é reduzir necessidade de aumentar as taxas de juro
Governo eleva meta fiscal
para 4,5% do PIB em 2004
KENNEDY ALENCAR
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reunião ontem no Palácio
da Alvorada, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva decidiu elevar
a meta de superávit primário deste ano de 4,25% para 4,5% do PIB
(Produto Interno Bruto). A economia adicional com a nova meta
equivale a R$ 4,189 bilhões -valor do custo previsto para a obra
de transposição das águas do rio
São Francisco.
A nova meta foi anunciada oficialmente pelo ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda), ao deixar
a reunião no Alvorada. O ministro informou ainda que Lula determinou redução na carga tributária e que o país está preparado
para adotar o sistema anticíclico
de superávits.
A novidade reforça a posição do
Brasil antes da reunião do FMI
(Fundo Monetário Internacional)
na próxima semana, nos EUA.
Para 2005, será mantida, por
ora, a meta de 4,25%, como consta da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). Mas, na prática, a tendência é repetir o que foi feito
agora, elevando a meta para 4,5%
se houver condições econômicas
e políticas.
"O crescimento da arrecadação
nos permite trabalhar com o [superávit] primário de 4,5% do PIB
neste ano. E esse passa a ser o nosso objetivo agora. Vamos fazer
um superávit primário maior
porque é possível e necessário
neste momento fazer isso", disse
Palocci.
Será a segunda a vez que Lula
elevará o superávit primário, toda
a economia do setor público para
pagar juros da dívida. Em 2003, ao
assumir o governo, subiu a meta
de 3,75% para 4,25%.
Ontem, durante a reunião com
Lula, o ministro Guido Mantega
(Planejamento) estimou uma arrecadação extra de cerca de R$ 4
bilhões neste ano.
Ao anunciar a nova meta, o ministro da Fazenda informou que o
país está preparado para ter um
"sistema anticíclico de superávit".
Segundo ele, "neste momento de
crescimento maior, é a hora de
começar a tomar medida em relação a isso. Não estamos implantando o sistema anticíclico". Por
esse sistema, o país economiza
mais para pagar juros em anos de
crescimento econômico maior e
poupa menos em tempos de retração econômica.
Como antecipou a Folha, o ministro da Fazenda trabalhava nos
bastidores para convencer o presidente a aumentar a meta de superávit como forma de atenuar a
necessidade de elevação da taxa
básica de juros (Selic). Essa articulação teve início antes da última
reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária), quando a Selic subiu 0,25 ponto percentual
-de 16% para 16,25% ao ano.
Na prática, o superávit primário
tem sido superior à meta. No primeiro semestre, a meta era de R$
32,6 bilhões. Resultado: R$ 46,183
bilhões -R$ 13,583 bilhões acima. Entre janeiro e julho, o superávit foi de R$ 52,796 bilhões
(5,59% do PIB). Nos 12 meses encerrados em julho, de 74,641 bilhões (4,65% do PIB).
Como os gastos reais do Orçamento público se concretizam
mais no segundo semestre, a cifra
5,59% tenderá a cair. Ou seja, não
será difícil cumprir os 4,5%.
Superávit e juros
Do ponto de vista público, Palocci buscará não condicionar
uma eventual queda ou menor alta dos juros à elevação do superávit. Lula e Palocci, apesar de trabalharem nos bastidores por juros menores, não querem pressionar em excesso o Copom, órgão do BC (Banco Central) que se
reúne mensalmente para fixar a
Selic. Ambos avaliam que minaria
a credibilidade do BC.
Lula e Palocci ficaram contrariados com declarações de membros do governo, especialmente
do ministro da Casa Civil, José
Dirceu, a respeito de juros.
Texto Anterior: Luís Nassif: A greve da Justiça Próximo Texto: Entenda: Arrecadação extra ajudará a elevar superávit de 2004 Índice
|