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Para Giambiagi, BC deve ser motivo de orgulho
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Economista de carreira do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), com passagem pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos anos FHC, Fabio Giambiagi acha que o Banco Central
acertou ao perceber antes de todos o risco inflacionário que o levou a elevar a taxa de juro ao patamar de 19,75%, sem nenhum corte por 17 meses consecutivos. A
taxa só caiu 0,25 ponto neste mês.
Giambiagi disse ainda que o BC
indicou na ata do Copom, divulgada ontem, que poderá cortar de
0,25 a 0,5 ponto percentual em
outubro. Segundo ele, o BC é uma
das únicas instituições que "funcionam" no Brasil.
Folha - O sr. acha que a ata do Copom indica novas quedas da Selic?
Fábio Giambiagi - Entendi a ata
como um documento sóbrio, em
tom moderado, com as chamadas
de cautela de praxe, mas que seria
consistente tanto com uma queda
de 25 pontos quanto de 50 pontos
na próxima reunião. Quero só
chamar a atenção para a importância do tema fiscal. Enquanto o
governo insistir em se negar a
adotar para o futuro uma meta de
superávit primário elevada, como
a que na prática alcançará em
2005, o BC continuará a ser obrigado a trabalhar com o parâmetro
oficial [de meta de superávit]. Assim, reduzir o superávit primário
da ordem de 5% do PIB em 2005
para 4,25 % do PIB em 2006 será
um desserviço ao combate à inflação. E é natural que o BC diga nas
entrelinhas que, se a política fiscal
for expansionista, o espaço para
reduzir juros será menor. Se o governo adotasse uma meta de superávit primário de 5% para 2006,
haveria uma larga avenida para
reduzir juros. Com 4,25 %, a avenida será apenas uma rua.
Folha - O sr. acha que o BC poderia ter cortado os juros antes?
Giambiagi - No Brasil, o Executivo tem dificuldades para executar
o Orçamento porque, nas áreas
setoriais, mesmo quando há recursos, falta competência técnica
para colocar os investimentos em
pé. O Legislativo tem dificuldades
para legislar, porque, desde a votação das reformas em dezembro
de 2003, o Congresso está praticamente paralisado, por uma razão
ou outra, e pesquisas indicam que
o cidadão tem dificuldades em
acreditar na Justiça. O fato de termos uma instituição como o BC
deveria ser motivo de orgulho.
Seus diretores levam a sério o
mandato recebido para atingir
uma inflação que fique o mais
próximo possível da meta. Em
um país, portanto, onde o setor
público funciona mal, o BC funciona: cumpre o que promete.
Posso ter algumas ressalvas pontuais acerca de algumas das decisões do Copom tomadas ao longo
de 2004 e 2005, mas são ressalvas
no varejo e que considero sem importância. No atacado, o BC acertou. Percebeu antes da maioria o
risco de aumento da inflação, parou de reduzir os juros quando o
coro geral era para que continuasse a diminui-lo, teve coragem de
aumentar a taxa quando fazer isso
era um anátema e colhe hoje uma
vitória contra a inflação, na qual
há alguns meses ninguém acreditava. Os críticos do BC deveriam
no mínimo ter a humildade de reconhecer alguns méritos no comportamento da instituição.
Folha - Mas não houve um excesso de conservadorismo?
Giambiagi - Pessoalmente, entendo que não era necessário ter
chegado aos 19,75%. Creio que a
taxa poderia ter caído antes e
francamente não acho uma inflação de 5,5% tão diferente de uma
de 5,2%. São, entretanto, nuances,
porque no atacado, sem dúvida, o
BC acertou. E não faz muito sentido imaginar que, se a Selic tivesse
parado em 19,25% ou tivesse caído em agosto, o PIB cresceria
4,5% no lugar 3,5%.
Folha - O que levou então a economia a crescer, especialmente no
segundo trimestre, mesmo com a
elevação dos juros?
Giambiagi - Nós, os economistas, temos uma boa explicação para o arrefecimento do crescimento a partir do terceiro trimestre de
2004: o aperto monetário. E temos uma boa explicação para o
crescimento do segundo trimestre de 2005: a expansão do crédito
e o crescimento das exportações.
O problema é que o aperto monetário continuou no segundo trimestre do ano e que o crédito e as
exportações estão "bombando"
sem parar desde 2003, ou seja, há
um quebra-cabeça na dinâmica
da economia ao longo dos últimos trimestres que ainda requer
uma melhor explicação.
Folha - É possível chegar a qual
nível de juros no fim do ano com o
atual cenário de inflação e atividade?
Giambiagi - Penso que o terreno
está pavimentado para três cortes
de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões do Copom [que
levariam a taxa a 18%], se não
houver alguma "bomba" estourando no campo da política.
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