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Foco
Família "não miserável" só come carne uma vez na semana e dorme no chão
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Sheila da Silva, 16, (de pé) cuida de crianças de família considerada não miserável pela FGV, em Paracambi (Rio de Janeiro) |
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A PARACAMBI (RJ)
As crianças não têm o que
calçar, vestem-se todos os dias
com as mesmas roupas, comem carne, quando muito,
uma vez por semana, dormem
no chão sem piso de um casebre sem banheiro e brincam
em um riacho de esgoto. Mesmo assim, não são miseráveis,
segundo metodologia da FGV.
Os cinco filhos (Jéssica, 16,
Wanderson, 13, Taís, 11, Tainá,
8, e Jonatan, 4) e o neto Gabriel, de 8 meses, de Nilcéia de
Lurdes da Silva, 35, vivem com
ela e o companheiro Aílton de
Oliveira, 34, em barraco pendurado em uma encosta no
bairro Quilombo, próximo ao
centro de Paracambi, município que, a 75 km do Rio, separa
a Baixada Fluminense da região centro-sul do Estado.
Somada, a renda familiar
chega a R$ 1.000 por mês, o
que dá R$ 125 por pessoa, exatamente a quantia estipulada
pela FGV para diferenciar o
miserável do pobre.
Nilcéia ganha R$ 800 mensais, trabalhando do início da
manhã ao início da noite em
um lixão, onde recolhe plásticos, papéis e metais vendidos
para uma firma de reciclagem.
Há dois meses, deixou de receber o Bolsa Família, sem saber
a razão. Desempregado, Oliveira faz biscates que lhe rendem os R$ 200 que garantem a
retirada da família da miséria,
conforme a pesquisa.
Na prática, a diferença fixada pela estatística não existe.
Embora Nilcéia diga ter melhorado de vida nos últimos
meses, mesmo que -mais uma
vez- não saiba o motivo, suas
crianças continuam na situação miserável que as acompanha desde a nascença. Na última sexta, não comeram nada
de manhã. O barraco da família não tem água. A luz é clandestina, puxada do poste da
rua. O esgoto, uma vala negra
que corre no quintal. As crianças só andam descalças. Pisam
nos dejetos sem dar importância. É o chão delas, afinal.
Para trabalhar, o casal deixa
as crianças aos cuidados da filha de 11 anos. Às vezes, uma
amiga de Jéssica, Sheila da Silva, 16, vai lá para dar comida
aos pequenos. Quando não vai,
Taís faz a comida. Quando não
tem, roda o comércio para "pedir favor", como diz.
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