São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Mercado já havia antecipado melhora na avaliação do Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A promoção do Brasil a grau de investimento pela agência Moody's não deve se refletir em uma enxurrada de recursos externos para o mercado doméstico, dizem analistas. Isso porque a mudança já estava embutida no preço dos ativos. Ou seja, os investidores procuraram comprar ações e títulos prevendo que a decisão da Moody"s se concretizasse a qualquer hora.
Para Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Banco Santander e ex-diretor do BC, o mercado não deverá ter a mesma reação do ano passado, quando o país obteve o grau de investimento das agências Standard & Poor's e Fitch.
Schwartsman afirma que a revisão é positiva porque vem após a crise e num contexto de piora das contas fiscais.
"Tenho a impressão que sim [estava no preço]. Estava sendo discutido havia algumas semanas e havia, inclusive, gente dizendo que o mercado "subiu no boato e cairia no fato". Como o que interessava já existia, o grau de investimento por duas agências, não há o impacto de acesso [ao país] de fundos restritos a operar com papéis de grau de investimento."
Os estrangeiros já trouxeram líquidos para a Bovespa R$ 16,1 bilhões em 2009, até agora o melhor ano da história em ingressos externos. A Bolsa brasileira é destaque no mercado acionário mundial. Em dólares, a Bolsa soma valorização de 111% no ano. Os analistas confiam na continuidade desse ritmo, mas sem uma euforia extra por conta da Moody's.
Segundo Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e ex-diretor do BC, o novo grau de investimento já estava em parte "no preço" do mercado. "A primeira [avaliação] teve um significado, a segunda mais ainda; a terceira tem, na margem, algum significado. Não é zero. Dá uma ideia de que o país está indo para a frente."
Segundo Edemir Pinto, presidente-executivo da BM&F Bovespa, a crise atrasou o terceiro grau de investimento. "O mercado aguardava isso desde que se teve a percepção de que o país estava saindo da crise. E até por conta do que ele passou [durante a crise], isso reforçava uma nota da Moody"s", disse.
A recuperação do mercado brasileiro neste ano não tem se restringido à Bolsa. Ontem a cotação do dólar desceu a seu menor patamar em um ano, vendido a R$ 1,798 no fim do dia. No ano, o dólar tem depreciação de 22,96%.
Alkimar Moura, ex-diretor do BC, também concorda que não haverá euforia nos mercados. "Não vai ter muito efeito. É apenas uma confirmação meio atrasada da situação. As outras agências foram mais agressivas porque fizeram [a elevação da avaliação] antes da crise. Como o Brasil passou bem pela crise, agora ela confirmou isso."
Para Otto Nogami, professor de finanças do Insper (ex-Ibmec-SP), a melhora do "rating" do país coincide com a reabertura do mercado de capitais como opção de capitalização de empresas por meio da venda de ações e emissão de dívida. "Não estava inteiramente no preço, tanto que a Bolsa continuou subindo [ontem]. A Bolsa estava próxima de uma correção. Faz com que fundos que ainda não podiam investir no Brasil tenham agora essa opção", disse.
(TONI SCIARRETTA E FABRICIO VIEIRA)


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