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Batalha pelo FMI ameaça reunião do G20
Para o Brasil e emergentes, prioridade é elevar seu peso no Fundo, mas europeus, que têm mais a perder, resistem
Já a China pode obstruir maior monitoramento das economias, enquanto França insiste em limitar bônus para os banqueiros
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PITTSBURGH (EUA)
A batalha dos grandes países
emergentes para obter mais
voz e voto no FMI (Fundo Monetário Internacional) coloca
em risco a cúpula do G20 a iniciar-se amanhã em Pittsburgh
(EUA), a terceira em menos de
um ano do clube das 21 maiores
economias do mundo mais a
União Europeia.
Para o Brasil, é prioridade absoluta aumentar o peso dos
emergentes no FMI, de forma a
que a distribuição de poder fique, grosso modo, em 50% para
ele mais países em desenvolvimento e 50% para os ricos,
quando hoje é, respectivamente, de 43% e 57%.
Mas, nas negociações entre
os técnicos do G20, ficou evidente a fortíssima resistência
dos países europeus à mudança
pretendida pelos Bric (Brasil,
Rússia, Índia e China).
Os europeus é que perderiam
na alteração, já que eles estão
sobre-representados no FMI.
Os Estados Unidos apoiam a
mudança, embora ainda não
esteja claro, para a delegação
brasileira, se aceitam as porcentagens desejadas pelos
emergentes.
Agora ou nunca
Para a delegação brasileira, a
cúpula de Pittsburgh é o agora
ou nunca para consolidar a mudança no Fundo (e também no
Banco Mundial), por mais que,
em reuniões anteriores, a decisão técnica sobre as novas cotas
tenha sido jogada para 2011 (no
FMI) e 2010 (no Banco Mundial).
O Brasil acredita que a alteração só se dará se houver um impulso político, que só pode ser
dado pelos chefes de governo, e
só pode ser agora, em um momento em que a crise parou de
piorar -até melhorou em muitos países. Sem a urgência que
uma crise sempre impõe, acreditam os brasileiros, o impulso
reformista se diluirá.
A batalha pelo FMI, se não
for bem conduzida de parte a
parte, acabará causando uma
vítima colateral: o plano norte-americano para a cúpula, batizado de "Moldura para um
Crescimento Equilibrado e
Sustentável".
Em resumo, a ideia básica do
plano é escapar dos desequilíbrios pré-crise, caracterizados
por taxas de poupança e de exportações elevadíssimas por
parte da China (principalmente mas não só ela) e, na outra
ponta, por um nível de consumo e endividamento insustentáveis nos Estados Unidos.
O que o FMI tem a ver com
isso? Tudo, segundo o projeto
norte-americano: caberá justamente ao Fundo a função de
monitorar os equilíbrios econômicos globais, o que significa
vigiar variáveis como o câmbio,
exportações, transações com o
exterior etc.
Para o Brasil e para seus pares dos BRIC, essa nova função
do FMI é inaceitável sem que
haja previamente uma reequilíbrio nos votos na instituição.
China
Se não bastasse esse nó, há
ainda o fato de que a China está
pouco disposta a deixar-se monitorar por agentes externos,
por mais que concorde, em tese, com a necessidade de estimular o consumo interno, para
tê-lo como motor do crescimento ao lado (ou acima) das
exportações.
Contribui para a resistência
chinesa o fato de ter sido o país
que mais ganhou com o modelo
vigente até a crise e que os Estados Unidos pretendem agora
alterar.
É eloquente que, na antevéspera da cúpula, o Banco Asiático de Desenvolvimento tenha
anunciado que o crescimento
chinês em 2009 será de 8,2%,
nível superior aos 7% antes estimados -o que revela a quase
plena recuperação da China.
Não é apenas a China que resiste: a Alemanha, outro pais
que tem nas exportações sua
principal alavanca econômica,
também não se entusiasma
com a mudança de modelo.
Tanto é assim que sua chanceler, Angela Merkel, enviou
carta a seus pares do G20 em
que defende, como o plano norte-americano, enfrentar os desequilíbrios globais, entre outros pontos.
Mas a carta contém apenas
princípios gerais, sem prever
monitoramento, ao contrário
do projeto dos EUA.
De todo modo, o reequilíbrio
econômico global subiu ao topo
da agenda, deixando em segundo plano o outro contencioso,
este entre os Estados Unidos e
a Europa, em torno da remuneração de banqueiros e agentes
financeiros.
O presidente francês, Nicolas
Sarkozy, chegou a ameaçar retirar-se do G20 se não houver,
em Pittsburgh, alguma providência forte em relação aos ganhos dos banqueiros, em especial os bônus que recebem.
Já o presidente Barack Obama pergunta, em entrevista à
Bloomberg: "Por que vamos limitar os salários dos banqueiros de Wall Street, e não o dos
empreendedores do Vale do Silício ou das estrelas da Liga Nacional de Futebol [americano]?".
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