São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 2006

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Antes de controle, é preciso cortar juros

Para economistas, país precisa diminuir mais a taxa caso queira adotar o controle de capitais na entrada de recursos<

Tema voltou ao centro das discussões depois das recentes declarações do economista Yoshiaki Nakano sobre o assunto

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de adotar o controle de capitais na entrada de recursos, o país tem muito a cortar de juros, afirmam economistas ouvidos pela Folha.
A possibilidade de criação de controle de capital para favorecer a desvalorização do câmbio voltou ao centro das discussões nos últimos dias. O economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, afirmou que poderia se adotar o controle por um curto período, até que a taxa de juros interna ficasse próxima da externa.
Luiz Carlos Bresser Pereira, ex-ministro da Administração do governo Fernando Henrique Cardoso, disse em entrevista à Folha na semana retrasada que prefere "não ter controle de entrada", mas o defende se a redução dos juros não for suficiente. Com o controle de capitais impõe-se uma quarentena, durante a qual o dinheiro aplicado não pode deixar o país, o que restringe o investimento mais volátil.
"Muito mais fácil que adotar controle de capital é cortar juros", diz Paulo Tenani, do banco UBS. "Se colocar o controle, não precisa baixar juros."
A diferença entre o que o Brasil paga no exterior, 6,7%, e os 13,75% da Selic (taxa básica de juros) é muito grande. "A Selic poderia baixar para 10% que ainda ficaria neutra para o câmbio", diz Tenani. "Se o governo quer que o câmbio não se aprecie, mas também não quer cortar juros [mais fortemente]... é um enfoque quase socialista esse de querer controlar todas as variáveis."
O controle de capital geralmente é usado quando um governo não quer que a taxa de juros doméstica fique vinculada à taxa de juros externa e dependente da alta do risco-país. Quando o Brasil, por exemplo, pagava 13% em dólar no exterior e aqui os juros já eram muito elevados, se o risco-país subisse, e com ele a taxa externa fosse para 15%, teria de aumentar muito mais a taxa de juros doméstica.
Na Malásia, o controle de capitais foi adotado na entrada porque o país não queria aumentar sua taxa de juros interna, pressionada pela elevação do risco-país, depois da crise asiática. Não é o que ocorre hoje no Brasil.
"Tudo força a taxa de juros para baixo", diz Tenani. Na avaliação de economistas, mesmo recebendo menos juros internos, continuará forte o fluxo de dólares para o Brasil. Pelos cálculos do estrategista do UBS, a Selic neutra para câmbio é de 10%.
"A tendência em 2007 é entrar mais dólares: a taxa de juros americana vai cair, a taxa de risco do Brasil também. Para ter efeito sobre o câmbio, a Selic terá de ficar abaixo de 10%."
"Agora que até o exterior está ajudando, porque a tendência sempre foi o contrário, é só o Banco Central baixar mais os juros", diz Tenani. As expectativas de inflação tanto para este ano quanto para 2007 estão abaixo das metas do governo.
Se o Brasil virar "investment grade", o que se espera para daqui dois ou três anos, o país será inundado por dólares, e a moeda brasileira se valorizará ainda mais porque o risco de investir terá caído muito.
"Há muitos fundos estrangeiros querendo colocar dinheiro aqui, à espera do "investment grade". Vai ter de comprar muito dólar", diz Roberto Dumas, do Ibmec.
Na avaliação de Tenani, só entrará muito dólar se o BC não baixar os juros. "Com a taxa doméstica alta, investir em dólar no Brasil é um ótimo negócio porque investidores estão dispostos a receber bem menos do que recebem."


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