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Antes de controle, é preciso cortar juros
Para economistas, país precisa diminuir mais a taxa caso queira adotar o controle de capitais na entrada de recursos<
Tema voltou ao centro das discussões depois das recentes declarações do economista Yoshiaki Nakano sobre o assunto
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de adotar o controle de
capitais na entrada de recursos,
o país tem muito a cortar de juros, afirmam economistas ouvidos pela Folha.
A possibilidade de criação de
controle de capital para favorecer a desvalorização do câmbio
voltou ao centro das discussões
nos últimos dias. O economista
Yoshiaki Nakano, diretor da
Escola de Economia de São
Paulo da FGV, afirmou que poderia se adotar o controle por
um curto período, até que a taxa de juros interna ficasse próxima da externa.
Luiz Carlos Bresser Pereira,
ex-ministro da Administração
do governo Fernando Henrique Cardoso, disse em entrevista à Folha na semana retrasada que prefere "não ter controle de entrada", mas o defende se a redução dos juros não
for suficiente. Com o controle
de capitais impõe-se uma quarentena, durante a qual o dinheiro aplicado não pode deixar o país, o que restringe o investimento mais volátil.
"Muito mais fácil que adotar
controle de capital é cortar juros", diz Paulo Tenani, do banco UBS. "Se colocar o controle,
não precisa baixar juros."
A diferença entre o que o
Brasil paga no exterior, 6,7%, e
os 13,75% da Selic (taxa básica
de juros) é muito grande. "A
Selic poderia baixar para 10%
que ainda ficaria neutra para o
câmbio", diz Tenani. "Se o governo quer que o câmbio não se
aprecie, mas também não quer
cortar juros [mais fortemente]... é um enfoque quase socialista esse de querer controlar
todas as variáveis."
O controle de capital geralmente é usado quando um governo não quer que a taxa de
juros doméstica fique vinculada à taxa de juros externa e dependente da alta do risco-país.
Quando o Brasil, por exemplo,
pagava 13% em dólar no exterior e aqui os juros já eram
muito elevados, se o risco-país
subisse, e com ele a taxa externa fosse para 15%, teria de aumentar muito mais a taxa de
juros doméstica.
Na Malásia, o controle de capitais foi adotado na entrada
porque o país não queria aumentar sua taxa de juros interna, pressionada pela elevação
do risco-país, depois da crise
asiática. Não é o que ocorre hoje no Brasil.
"Tudo força a taxa de juros
para baixo", diz Tenani. Na
avaliação de economistas, mesmo recebendo menos juros internos, continuará forte o fluxo
de dólares para o Brasil. Pelos
cálculos do estrategista do
UBS, a Selic neutra para câmbio é de 10%.
"A tendência em 2007 é entrar mais dólares: a taxa de juros americana vai cair, a taxa de
risco do Brasil também. Para
ter efeito sobre o câmbio, a Selic terá de ficar abaixo de 10%."
"Agora que até o exterior está ajudando, porque a tendência sempre foi o contrário, é só
o Banco Central baixar mais os
juros", diz Tenani. As expectativas de inflação tanto para este
ano quanto para 2007 estão
abaixo das metas do governo.
Se o Brasil virar "investment
grade", o que se espera para daqui dois ou três anos, o país será inundado por dólares, e a
moeda brasileira se valorizará
ainda mais porque o risco de
investir terá caído muito.
"Há muitos fundos estrangeiros querendo colocar dinheiro aqui, à espera do "investment grade". Vai ter de
comprar muito dólar", diz Roberto Dumas, do Ibmec.
Na avaliação de Tenani, só
entrará muito dólar se o BC
não baixar os juros. "Com a taxa doméstica alta, investir em
dólar no Brasil é um ótimo negócio porque investidores estão dispostos a receber bem
menos do que recebem."
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