São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Saldo das contas externas cai ao menor nível em 4 anos

BC atribui declínio ao aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior

Banco diz que situação do país é confortável, pois investimento estrangeiro em alta é suficiente para financiar o balanço de pagamentos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O saldo das contas externas brasileiras chegou, no mês passado, ao seu menor nível em quase quatro anos. A principal causa do declínio, segundo o Banco Central, é o aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior, que neste ano já registram aumento de 19%.
Nos últimos 12 meses, a chamada conta de transações correntes -que inclui todas as negociações de bens e serviços com outros países- teve um superávit de US$ 9 bilhões, ou 0,75% do PIB do período. Embora o saldo continue positivo, a sua relação com o PIB é a mais baixa desde novembro de 2003.
Isso significa que, se consideradas as operações como as de comércio exterior, remessas de lucros e pagamento de juros, o Brasil ainda recebe mais dólares do que envia para fora. Essa folga, porém, tem caído.
Entre janeiro e setembro deste ano, o superávit em transações correntes foi de US$ 5,640 bilhões, queda de 45% ante o mesmo período de 2006.
Ainda assim, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a situação do país é confortável. "Há uma redução [no superávit em transações correntes], mas o saldo continua positivo e é acompanhado por um fluxo de investimento estrangeiro ainda elevado, o que é mais do que suficiente para financiar o balanço de pagamentos."
Ou seja, para Lopes, ainda que as transações correntes -cujo principal item é a balança comercial- apresentem resultados menos expressivos, as contas externas podem ser financiadas pelos investimentos estrangeiros que o Brasil deve receber daqui para a frente.
O economista Luciano Miceli, da Tendências Consultoria, afirma que o aumento nas remessas de lucros não é um sinal ruim. "Pelo contrário, é o natural. Ainda bem que [as empresas] estão lucrando", diz.
No mês passado, essas remessas somaram US$ 1,686 bilhão, o maior valor já apurado num mês de setembro. No ano, o total enviado ao exterior chega a US$ 13,784 bilhões -valor que inclui tanto os ganhos obtidos por empresas estrangeiras instaladas no Brasil quanto por investidores internacionais que aplicam seus recursos no mercado financeiro nacional.
Miceli cita ainda outros eventos que compensam a redução do saldo em transações correntes, como o aumento das reservas internacionais e a redução da dívida externa. Combinados, esses fatores ajudariam a proteger o país: no caso de uma crise mais acentuada na economia global, o país não teria necessidade de honrar grandes compromissos e ainda poderia contar com suas reservas.
Relatório do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) ressalta ainda que o aumento das remessas também foi afetado pelo câmbio, já que, em agosto, o dólar se valorizou. "Certamente os agentes preferiram aguardar um câmbio mais favorável para efetuar as remessas."
Quanto mais valorizado o câmbio, maior é o estímulo para as remessas, pois uma mesma quantidade de reais consegue comprar um volume maior de dólares.


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