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Entidade "adianta" cadastro de bom pagador
Associação comercial dará nota a consumidor com seus dados que pretende ser prévia do cadastro positivo de crédito
Apenas classificação dos clientes será divulgada, sem que financeiras e lojistas tenham acesso a seus dados detalhadamente
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A ACSP (Associação Comercial de São Paulo) lançou ontem um produto de análise de
risco de inadimplência com a
ambição de adiantar o chamado cadastro positivo de crédito,
uma base de dados que quando
for aprovada trará informações
hoje confidenciais sobre o nível
de comprometimento de renda
e hábitos de pagamento dos
consumidores.
Por meio de um software, os
clientes receberão uma pontuação que levará em conta seu
histórico de bom -ou mau-
pagador, renda, dívidas assumidas, além de preferências de
consumo. A pontuação funcionará como uma nota, que varia
de 300 a 850 -quanto maior,
menor o risco de calote.
Segundo a associação, os
clientes lojistas ou financeiros
terão acesso apenas à pontuação do consumidor e não às informações propriamente ditas
constantes dos bancos de dados, que levaram à atribuição
da nota. Essa foi a forma encontrada pela ACSP de viabilizar a
utilização das "informações positivas" sem dar margem a contestação judicial ou inviabilizar
sua utilização por entraves comerciais ou operacionais, como
um concorrente saber de informação confidencial de outro, o
que só deve acontecer quando o
cadastro positivo for adotado.
"Não haverá um armazenamento de informação, que é
proibido por acordo de confidencialidade. Vamos ter um beneficiamento e uma potencialização do [uso] do banco de dados do cliente. As informações
transmitidas pela empresa têm
seu sigilo preservado", disse
Carlos Celso Orcesi, superintendente jurídico da ACSP.
De acordo com a associação,
a ferramenta permitirá diminuir o risco de inadimplência e
possibilitará às empresas trabalharem com juros menores
ao consumidor. O produto será
on-line e a consulta poderá ser
feita pelos associados da ACSP
em até três segundos.
O projeto de lei do cadastro
positivo tramita no Congresso
desde 2003. No início de agosto, foi aprovado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados.
No início de 2007, a expectativa
era que o cadastro entrasse em
funcionamento até o final deste
ano, mas isso não deve acontecer antes de meados de 2008.
Atualmente, a análise de crédito leva em conta apenas dados negativos -ou seja, de nome sujo- dos últimos cinco
anos. Bancos e financeiras argumentam que não podem baixar mais os juros por não conhecerem melhor a situação do
consumidor adimplente, aquele que paga suas contas em dia e
tem renda suficiente para assumir mais dívida.
Para Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste (associação de defesa do consumidor), apesar não ser instituída,
a troca de "informações positivas" confidenciais acontece na
prática entre lojas de varejo e
mesmo financeiras. "Vemos isso por meio das reclamações
que recebemos aqui. Mesmo
sem ter o nome sujo, o consumidor tem o crédito negado em
uma loja, depois em outra, e
mais outra", disse.
A coordenadora da Pro Teste
lembra que o Código de Defesa
do Consumidor prevê que o
cliente seja avisado caso tenha
seu nome incluído em qualquer
tipo de cadastro. Ela afirma que
o consumidor tem o direito de
conhecer a sua pontuação e saber claramente quais critérios
levaram a recebê-la. "Até para
poder se defender. Tem de ter
um critério absolutamente
transparente, para que não tenha um tratamento desigual.
Hoje, eles já tem esses dados de
bom pagador. Poderiam oferecer juros menores. Se é fato por
que não colocam isso em prática?", disse.
Para o advogado Ricardo
Castilho, sócio do escritório
Castilho & Advogados Associados, o uso das "informações positivas" vai criar uma terceira
categoria de consumidor, aquele que não é inadimplente, mas
que também não tem dados de
consumo que o levem a ter uma
nota alta de "bom pagador".
"Temos hoje o bom e o mau pagador. Este "nada", que não está
nem em um nem em outro
[segmento], partindo desde o
princípio, fere a isonomia. O
acesso ao crédito é um patrimônio do consumidor", disse
Castilho.
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