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Agrofolha
Prejuízo já reduz investimentos no álcool
Crescimento acelerado da oferta, custos elevados e falta de reação do consumo freiam aplicações nos EUA e no Brasil
Crédito para o setor fica mais difícil, e rentabilidade, que bateu em 33% nos EUA em outubro de 2006, virou perda de 3% em setembro
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Promessa de lucros certos
até o ano passado, a produção
de álcool começa a sofrer as dores de um crescimento muito
rápido. A oferta superou a demanda mais cedo do que o previsto e os preços recebidos pelo
setor já não são remuneradores
como no ano passado. Começam os prejuízos.
Esse cenário vale tanto para
o Brasil como para os EUA, os
dois líderes mundiais na produção e consumo dessa nova alternativa de combustível.
Nos Estados Unidos, onde a
produção teve aceleração ainda
mais rápida do que no Brasil,
vários investimentos estão sendo adiados, algumas usinas pararam as atividades temporariamente e outras diminuíram
o ritmo de produção. Até o crédito já ficou mais difícil para os
investidores do setor.
Uma das principais empresas
a suspender investimentos foi a
VeraSun Energy, uma das líderes de mercado. As bruscas mudanças nas condições de mercado levaram a VeraSun a suspender um projeto de produção de 415 milhões de litros de
álcool por ano, que estava sendo desenvolvido em Indiana
(EUA), conforme comunicado
da empresa no início deste mês.
Excesso de produção, demanda estagnada e custos elevados são os fatores responsáveis para essa mudança no cenário no mercado norte-americano, diz Daniela Siqueira, analista da Agência Rural, em Iowa, nos Estados Unidos.
A luz amarela acendeu no setor, mas o que ocorre é apenas
uma reorganização. "São dificuldades de percurso, normais
e até esperadas após um crescimento que se mostrou explosivo de 2006 para cá", afirma Siqueira, referindo-se aos EUA.
O primeiro sinal concreto de
que as coisas não vão bem surgiu no final do mês passado,
quando as contas dos produtores norte-americanos de álcool
não fecharam. Acostumados a
uma rentabilidade de 33% em
outubro de 2006, os dados de
setembro indicaram perda de
3%. Neste mês, a rentabilidade
voltou, mas ainda é muito pequena. "Está zero a zero", afirma Siqueira.
Essa redução de margem de
lucro ocorre porque os preços
do milho, que representa de
65% a 70% do custo do álcool,
dispararam do ano passado para cá. Já o valor do álcool desabou.
Há um ano, o produtor de Iowa, importante Estado dos
EUA na produção de grãos, recebia US$ 2,75 por bushel (25,2
quilos). O galão de álcool, o correspondente a 3,785 litros,
mesmo distante dos US$ 4 do
período de maior euforia naquele país, estava a US$ 1,83,
mas ainda era remunerador para as usinas.
No final do mês passado, no
entanto, o preço do milho pago
ao produtor já estava a US$
3,44 e as usinas conseguiram
colocar o álcool no mercado
por apenas US$ 1,49.
Um outro drama para as usinas foi que o álcool se descolou
dos preços do petróleo e tomou
caminhos diferentes. O que se
esperava é que o petróleo, que
continua batendo recordes, puxasse também os preços do álcool, o que não ocorreu.
O motivo básico dessa queda
é que a demanda não cresce no
mesmo ritmo da oferta, diz Siqueira. Embora exista a promessa de uma substituição de
20% da gasolina pelo álcool, o
que está em prática ainda nos
Estados Unidos é um programa
que estabelece o uso de 7,5 bilhões de galões (28,4 bilhões de
litros) até 2012. "Ainda estamos em 2007 e a capacidade de
produção já chegou aos 26,2 bilhões de litros", afirma.
Existem outras 73 usinas em
construção, com capacidade
para produzir mais 24,8 bilhões
de litros até 2009.
Não é o fim do álcool nos Estados Unidos, mas o início de
uma reorganização, conforme
analisa Eitan Bernstein, outro
especialista no setor. Já para
Siqueira, há muito espaço para
o setor crescer, mas primeiro
deve fazer ajustes na produção,
superar obstáculos na distribuição e conquistar consumidores. "O álcool ainda não conquistou os americanos", diz ela.
No ano passado, os Estados
Unidos consumiram 20,4 bilhões de litros de álcool, apenas
4% dos 510 bilhões de litros de
gasolina. "Potencial para crescer, portanto, há de sobra", diz.
Um dos grandes obstáculos é
que a produção fica no centro
dos Estados Unidos, mas o
maior consumo de combustível
está nas duas costas (leste e
oeste) do país. Se na área de
produção os preços do álcool já
não são muito atrativos no momento, fica ainda mais difícil
elevar o consumo distante dessas áreas de produção.
A definição de uma nova meta de consumo, que passa pelo
Congresso dos Estados Unidos,
vai sofrer pressões de dois grupos poderosos. De um lado, os
defensores dos produtores de
milho. De outro, os da produção de ração e de carnes que
não estão contentes com a elevação de preços de uma das matérias-primas básicas para esses setores.
Entra na batalha, ainda, a indústria automobilística que,
com 20% de adição, deverá fazer adaptações nos motores.
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