São Paulo, terça-feira, 23 de outubro de 2007

Texto Anterior | Índice

Rentabilidade no Brasil fica comprometida

DA REDAÇÃO

A situação brasileira não difere da dos Estados Unidos. "Vivemos um problema igual ao deles", diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Isso faz com que haja reavaliação de projetos e muitos esperam definição melhor do mercado, afirma.
Na avaliação de Padua, uma eventual interrupção de investimentos no Brasil é ainda pior do que nos Estados Unidos. Por lá, um investimento pode ser concretizado em apenas seis meses e, quando desativado, a matéria-prima, o milho, vai para o silo e tem outro aproveitamento.
No Brasil, um investimento no setor tem um período bem mais longo de maturação do que nos Estados Unidos. Dura de seis a oito anos, considerando os investimentos industriais e o ciclo da lavoura de cana-de-açúcar, matéria-prima básica na produção de álcool no Brasil.
A cana-de-açúcar só pode ser utilizada para produzir álcool ou açúcar, o que dificultaria ainda mais a interrupção de um projeto desse. Por isso, muitos investimentos estão sendo mais bem avaliados, segundo Padua.
O Brasil, com produção total prevista de 20,5 bilhões de litros de álcool na safra 2007/2008, recebeu 19 novos projetos neste ano. Para o próximo, estão previstos 30, e outros 23 já estão encaminhados para 2009. Ainda estão em análise outros 21 projetos também para 2009.
Assim como nos Estados Unidos, o excesso de oferta derruba os preços também no Brasil. A diferença é que aqui há uma garantia de 25% na mistura de álcool na gasolina e um aumento contínuo de carros bicombustíveis.
Mesmo com esses incentivos, os investidores estão pisando no freio. Segundo Padua, as usinas estão com perdas neste ano devido à queda de preços, e o cenário não é animador para a safra 2008/9. O mercado externo, que poderia servir de escoamento do produto, ainda não está desenvolvido.
Transformar a cana-de-açúcar em açúcar também não resolve porque há excesso de produto no mercado internacional. Outro empecilho para o setor é a política fiscal de alguns Estados, como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia, onde os impostos tornam o álcool menos competitivo.
O Brasil não tem problema de excesso de oferta, "mas essa produção maior faz com que o preço se torne inviável para as usinas", diz Padua.
A queda nos preços do álcool respinga também sobre os produtores, que recebem conforme o valor final do açúcar e do álcool. "O nosso momento é delicado. A expectativa é recebermos R$ 35 por tonelada em média neste ano, bem abaixo do custo de R$ 42", afirma Ismael Perina Júnior, presidente da Orplana, associação de produtores de cana.


Texto Anterior: Agrofolha
Prejuízo já reduz investimentos no álcool

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.