São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Mantega telefona a Paulson; Meirelles, a Bernanke

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ligou para o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para o seu colega do Fed, Ben Bernanke, antes de anunciarem ontem o pacote de medidas autorizando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprarem participações em instituições financeiras privadas. O objetivo deles foi mostrar que o Brasil estava atuando em sintonia com os principais países do mundo para enfrentar a crise financeira internacional.
Tanto Paulson como Bernanke teriam apoiado as medidas adotadas pelo governo. Bernanke teria, inclusive, acenado com a possibilidade de trocar dólares por reais, a exemplo das operações que o Fed tem feito com o Banco Central Europeu e com o Banco Central do Japão. Uma das medidas de ontem do pacote autoriza o Banco Central a realizar operações de "swap" de moedas com bancos centrais de outros países.
O principal objetivo do Banco Central, ao adotar essa medida de "swap" de moedas, é adquirir dólares do Fed para ter mais uma ferramenta do governo para conter a desvalorização do câmbio no país. Com esse instrumento, o BC poderia poupar o uso das reservas internacionais.
Nos últimos dias, o governo brasileiro tem intensificado suas ligações com os Estados Unidos. A reunião do G20, em Washington, há duas semanas, ajudou a aproximar os dois países neste momento de crise financeira global. O encontro, que foi presidido por Guido Mantega, contou inclusive com a participação inesperada do presidente George Bush.
No início de novembro, haverá uma nova reunião do G20 em São Paulo, com a presença dos ministros da Fazenda e presidentes do banco central dos maiores países do mundo e dos emergentes. Esse encontro deve servir como uma espécie de prévia para a reunião do G8 ampliado no dia 15 de novembro, que já está sendo chamada de um novo Bretton Woods do mundo.

Lula se espelha em política anticrise de Gordon Brown

O presidente Lula está cada vez mais inspirado no primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Durante sua viagem à Índia, Lula conversou com Brown sobre a crise internacional. O primeiro-ministro traçou um quadro alarmante, que deixou Lula assustado com a extensão e a duração da crise.
A partir dessa conversa, Lula determinou a Guido Mantega (Fazenda), e a Henrique Meirelles (BC), que adotassem ações mais vigorosas contra a crise global. A medida provisória publicada ontem no "Diário Oficial", que autoriza o governo a adquirir participação acionária em instituições financeiras privadas, segue essa linha.
Lula está convicto de que a saída para a crise foi a solução adotada por Brown. Ele lançou um pacote anticrise focado na estatização parcial de instituições financeiras em dificuldade, plano que está sendo copiado no mundo inteiro.
Entre os economistas, no entanto, a MP brasileira gerou controvérsias. Para Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC, a medida é "uma prudência necessária", embora não haja evidências de que os bancos enfrentem problemas financeiros graves. Já William Eid Junior, da FGV, não viu a decisão com bons olhos. "Ao fazer isso, o governo está dizendo que há instituições financeiras em risco."

FESTA DE ARROMBA
Por conta da crise, Milton Muraro, dono do Anzuclub, em Itu, terá que investir mais do que esperava no Ultra Music Festival, evento de música eletrônica que promoverá em novembro. Quando fechou contratos com DJs estrangeiros, antes do agravamento da crise, pagou metade dos cachês. O restante ficou para depois e caiu "no pico do dólar". Bebidas importadas também estão pesando, segundo Muraro, que ainda não repassou aos clientes. "Estou reduzindo na minha margem de lucro por enquanto, mas se a situação não mudar, terei que subir o preço em 2009."

TELEFONE
Fábio Barbosa (Febraban) ligou ontem para Guido Mantega para elogiar a MP 443. Para ele, a medida fortalece o sistema financeiro.

ELOGIO
Adalberto Savioli (Acrefi), também elogiou a ação. Segundo ele, não há bancos brasileiros quebrando, mas sim com problemas de liquidez e de confiança.

BOLA DE NEVE
Francisco Fragata Jr., advogado especializado em relações de consumo, do Fragata e Antunes Advogados, que diz que com a crise vem uma tendência de alta no volume de inadimplências, e, com isso, as ações no Judiciário devem aumentar; "o número de pessoas não pagando vai crescer e isso eleva a demanda no Poder Judiciário"; segundo Fragata, Estados como Bahia e São Paulo não estão preparados para atender ao aumento

LIQUIDEZ
Armando Monteiro Neto (CNI) disse ao vice-presidente José Alencar, que, nesta crise, uma saída para elevar a liquidez é subir, mesmo provisoriamente, o prazo de recolhimento de tributos. E as empresas ganhariam capital de giro sem recorrer a bancos. Hoje, elas fecham contratos de vendas para receber em 120 dias, mas têm de recolher tributos entre 30 e 45 dias.

com JOANA CUNHA e MARINA GAZZONI


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