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bastidores
Lula quer comprar para depois vender
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva condicionou a
edição da MP (medida provisória) que permitirá aos bancos oficiais comprar a participação acionária em empresas privadas à venda futura
desses ativos. Ou seja, o governo pretende vender esses
eventuais ativos assim que
uma houver melhora no cenário econômico nacional e
mundial.
Nas palavras de Lula, "não
é para estatizar, é para comprar e vender depois", segundo relato de auxiliares que
acompanharam as reuniões
internas do presidente com a
equipe econômica. Lula disse ter a preocupação de, no
futuro, recuperar o dinheiro
oficial investido, inclusive
com eventual lucro.
Segundo um ministro, esse
cenário é possível porque o
governo fará compras na maré baixa. Esse ministro diz
que uma eventual venda no
futuro com lucro renderia dividendo político ao governo.
No entanto, ele admite que
uma venda com prejuízo teria efeito inverso.
Dois principais critérios
devem ser levados em conta
pelo governo, segundo um
integrante da equipe econômica. O primeiro: se a eventual quebra da empresa poderá gerar um efeito dominó
no setor em que atua. Isso
vale para qualquer área, da financeira à construção civil.
O segundo critério é tocante à quantidade de mão-de-obra gerada. A área da construção civil é um setor de
mão-de-obra intensiva.
Mais: em relação à operação de compra de pequenos
bancos em dificuldade, o governo já detectou um lobby
dos grandes bancos privados
contra a MP. A medida dá aos
bancos oficiais condições antes autorizadas apenas às
instituições privadas.
Isso aumenta a concorrência no setor e permite que o
Banco do Brasil e a Nossa
Caixa tenham instrumentos
jurídicos para agir como os
bancos privados -estes perderam um diferencial que
lhes dava vantagem nas negociações com pequenas instituições financeiras em dificuldades. Antes da MP, as
eventuais aquisições do BB e
da Caixa eram mais lentas.
Segundo apurou a Folha,
Lula foi convencido de que o
governo deveria aumentar
os mecanismos jurídicos para enfrentar uma crise na
economia real nos seus dois
últimos anos de governo.
Lula pretende lançar a
eventual candidatura presidencial da ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff, e deixar o governo com popularidade. Uma grave crise econômica poderia afetar o seu
cacife político e a chance de
sucesso de sua candidata.
De acordo com o diagnóstico da equipe econômica
apresentado ao presidente, a
crise será longa e virá em ondas. Ou seja, poderá afetar na
reta final do mandato de Lula setores da economia real
que mais necessitam de
mão-de-obra intensiva (que
geram mais empregos).
Daí a Caixa ter ganhado
autorização para se tornar
sócia de construtoras ou até
comprar completamente a
empresa. Um integrante da
equipe econômica disse que,
se houvesse hoje um caso
Encol (1996-1997), o governo compraria a empresa.
O governo já se preparava
ao final da tarde de ontem
para reagir às críticas da
oposição à MP. Segundo um
integrante da equipe econômica, se a MP for inviabilizada no Congresso, a oposição
seria responsabilizada politicamente pela falta de instrumentos para enfrentar a crise com eficácia. Ou seja, Lula
jogaria a culpa nas contas do
PSDB e do DEM.
Com um discurso algo catastrofista, o governo espera
vencer as resistências e
aprovar a medida provisória.
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