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Sem acordo sobre dívida, bancos e empresas "correm" por dólares
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Além do estresse de ontem
no mundo e das repercussões
negativas do pacote anunciado
pelo governo, a alta do dólar ontem no Brasil teve um outro
motivo. As negociações entre
as empresas e os bancos para
tentar equacionar as perdas
com operações no mercado derivativo de câmbio, antecipadas
pela Folha, sofreram um revés
nos últimos dias. O acordo ficou mais distante, e os bancos e
as empresas correram para
comprar dólar no mercado à
vista para tentar zerar as suas
posições.
O grande problema que está
gerando o impasse nas negociações é a alta volatilidade do
dólar. Enquanto permanecer
esse sobe-e-desce do dólar, fica
difícil fixar um preço para as
perdas das empresas com as
operações no mercado futuro
de câmbio. Num dia o dólar sobe e a dívida fica mais elevada,
e, no outro, a moeda cai e o valor do débito se encolhe.
Uma das maiores negociações e a também a mais difícil é
a das perdas da Aracruz. A empresa anunciou que o prejuízo
com as operações de derivativos somava R$ 1,95 bilhão, mas
esse cálculo foi feito quando o
dólar estava a R$ 1,76. No patamar de R$ 2,30, como ocorreu
ontem, esse montante supera a
casa dos R$ 6 bilhões, segundo
cálculos do mercado. Isso também está ocorrendo com outras empresas.
Diante desse impasse nas negociações, muitos bancos, principalmente os estrangeiros,
que foram os que mais realizaram essas operações de alto risco, já começaram a fazer provisões nos balanços para se precaverem de possíveis perdas no
futuro.
Para isso, no entanto, os bancos precisam cobrir a dívida
das empresas com a aquisição
de dólar no mercado à vista.
O fato é que foram poucas as
empresas que zeraram as perdas obtidas nas apostas erradas
que fizeram no mercado derivativo de câmbio. Até o momento, só um caso é conhecido,
o do grupo Votorantim, cujo
prejuízo somou R$ 2,2 bilhões.
Conservadora, a Votorantim
preferiu liquidar o seu passivo.
A divulgação da operação já gerou um trauma interno na empresa, que tem uma tradição de
ser pouco agressiva nos mercados especulativos.
As perdas totais das empresas com essas operações foram
calculadas em mais de R$ 40
bilhões, mas o valor poderá ser
maior dependendo da cotação
do dólar.
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