São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Sem acordo sobre dívida, bancos e empresas "correm" por dólares

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Além do estresse de ontem no mundo e das repercussões negativas do pacote anunciado pelo governo, a alta do dólar ontem no Brasil teve um outro motivo. As negociações entre as empresas e os bancos para tentar equacionar as perdas com operações no mercado derivativo de câmbio, antecipadas pela Folha, sofreram um revés nos últimos dias. O acordo ficou mais distante, e os bancos e as empresas correram para comprar dólar no mercado à vista para tentar zerar as suas posições.
O grande problema que está gerando o impasse nas negociações é a alta volatilidade do dólar. Enquanto permanecer esse sobe-e-desce do dólar, fica difícil fixar um preço para as perdas das empresas com as operações no mercado futuro de câmbio. Num dia o dólar sobe e a dívida fica mais elevada, e, no outro, a moeda cai e o valor do débito se encolhe.
Uma das maiores negociações e a também a mais difícil é a das perdas da Aracruz. A empresa anunciou que o prejuízo com as operações de derivativos somava R$ 1,95 bilhão, mas esse cálculo foi feito quando o dólar estava a R$ 1,76. No patamar de R$ 2,30, como ocorreu ontem, esse montante supera a casa dos R$ 6 bilhões, segundo cálculos do mercado. Isso também está ocorrendo com outras empresas.
Diante desse impasse nas negociações, muitos bancos, principalmente os estrangeiros, que foram os que mais realizaram essas operações de alto risco, já começaram a fazer provisões nos balanços para se precaverem de possíveis perdas no futuro.
Para isso, no entanto, os bancos precisam cobrir a dívida das empresas com a aquisição de dólar no mercado à vista.
O fato é que foram poucas as empresas que zeraram as perdas obtidas nas apostas erradas que fizeram no mercado derivativo de câmbio. Até o momento, só um caso é conhecido, o do grupo Votorantim, cujo prejuízo somou R$ 2,2 bilhões. Conservadora, a Votorantim preferiu liquidar o seu passivo. A divulgação da operação já gerou um trauma interno na empresa, que tem uma tradição de ser pouco agressiva nos mercados especulativos.
As perdas totais das empresas com essas operações foram calculadas em mais de R$ 40 bilhões, mas o valor poderá ser maior dependendo da cotação do dólar.


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