São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

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Encontro está longe de ser um Bretton Woods

MAURÍCIO MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Bretton Woods 2. A reunião dos países do G20, convocada ontem pelo presidente americano George W. Bush para 15 de novembro, já ganhou uma alcunha. O termo é uma referência ao encontro histórico que em 1944 redesenhou o sistema financeiro mundial.
Na reta final da 2ª Guerra, com a Europa destruída, 44 países se reuniram na cidade americana de Bretton Woods sob a batuta dos EUA, criando instituições como o FMI e o Banco Mundial.
"Eu sou muito cético [sobre a idéia de um Bretton Woods 2]", diz Rubens Ricupero. Para o ex-ministro da Economia, a cúpula deve resultar apenas numa maior regulamentação do mercado.
O economista Luís Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, também crê na necessidade de uma "supervisão financeira global". "Talvez um novo organismo", diz, para evitar bolhas como a do subprime.
Seria o tal organismo um super Banco Central internacional? "Essa era a proposta do [economista inglês John] Keynes [em 1944]. Ele defendia uma espécie de moeda internacional, com gestão multilateral" para servir como referência às reservas nacionais.
Sua proposta não vingou e o dólar se estabeleceu definitivamente como a moeda internacional. Foi o chamado "padrão-ouro", que estabelecia um rastro do metal para cada dólar americano. Os demais países tinham, então, suas reservas referenciadas em dólar e poderiam trocar no Federal Reserve seus dólares por ouro. Em 1971, no governo Richard Nixon, os EUA abandonaram unilateralmente o sistema. Nascia o câmbio flutuante e começava a grande farra.

A festa americana
"Há quem diga que nós já vivemos um segundo Bretton Woods", diz Ricupero, referindo-se ao atual "equilíbrio" financeiro, iniciado com o câmbio flutuante.
Desde então, os EUA se sentiram livres para se endividar. Seus principais credores passaram a ser a China e os "tigres asiáticos", cujas economias exportadoras cresceram vertiginosamente no lastro do apetitoso mercado importador americano.
O redesenho deste sistema a la Bretton Woods incluiria a revisão desta relação, o que parece pouco provável, a julgar pelos polpudos US$ 6 trilhões em reservas dos asiáticos (quase metade do PIB de US$ 14 trilhões dos EUA).


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