São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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Participação estrangeira em títulos públicos é recorde

Proporção de papéis nas mãos de investidor externo vai a 7,15%, o equivalente a R$ 112 bi

Para Tesouro, incidência de IOF não deve reduzir apetite de estrangeiros pelos títulos; dívida pública cai após quatro meses de alta


EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Enquanto o governo adota medidas para tentar frear a invasão de capital externo no país com o objetivo de conter a apreciação do câmbio, a participação do investidor internacional no estoque da dívida brasileira bateu recorde em setembro. Com queda de 1,39% após quatro meses seguidos de elevação, o endividamento fechou o período em R$ 1,488 trilhão.
Equivalente a R$ 111,6 bilhões, a proporção de títulos em posse de estrangeiros chegou no mês passado a 7,15% da dívida, o maior valor da série histórica do Tesouro Nacional, iniciada em janeiro de 2006.
O pico anterior havia sido em agosto de 2008, com 7%. Na crise, a retração mundial de capitais fez a participação desses investidores minguar, ficando em 5,6% em março.
Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Fernando Garrido, o retorno dos agentes internacionais deve ser atribuído à percepção da capacidade do Brasil em honrar os compromissos.
"Isso reflete a confiança nos fundamentos econômicos do país e a retomada da economia brasileira", avaliou.
Para Garrido, a adoção da cobrança de IOF, com taxa de 2% na entrada de capitais no país, não deve influir significativamente no movimento dos investidores estrangeiros, uma vez que a maioria negocia papéis de longo prazo.
"O apetite continuará alto porque, mesmo com a tributação, o rendimento dos títulos brasileiros com esse perfil ainda é maior que o de outros países", diz Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.
Além disso, os juros pagos em papéis prefixados em setembro ficaram maiores. A remuneração dos títulos NTN-F com vencimento em 2013, por exemplo, passou de 11,98% ao ano no início do mês passado para 12,96% no primeiro leilão de outubro. A solução encontrada pelo Tesouro, então, foi negociar menos papéis para não alimentar a alta dos bônus.
Com isso, os resgates superaram as emissões em R$ 27,63 bilhões, contribuindo para a redução da dívida no mês. O resultado não inclui o empréstimo, via emissão de títulos, de US$ 1,250 bilhão no mercado externo, ocorrida no fim de setembro, mas registrada apenas em outubro.
"A estratégia do Tesouro em momentos de grande volatilidade do mercado é diminuir os lotes de títulos prefixados de longo prazo, além de reduzir o intervalo médio de vencimento dos papéis emitidos ao longo do mês", disse Garrido, que revelou que o planejamento está se repetindo em outubro.
Para o estrategista-sênior do Banco WestLB, Roberto Padovani, o próprio governo é responsável pela necessidade de uma menor emissão desses títulos. "É natural a exigência de prêmios maiores por parte dos investidores quando existe a percepção de uma política fiscal menos responsável."


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