São Paulo, sexta-feira, 23 de outubro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mercado de trabalho ainda folgado


Setembro era o mês em que costumava crescer a procura por emprego, mas não neste ano; renda sobe devagar


QUANDO LULA ainda estava fresquinho no cargo, na segunda metade de 2003, a massa de salários caía em torno de horríveis 11% (em relação ao ano anterior. A massa de salários é a soma de todos os rendimentos de fato recebidos pelas pessoas ocupadas, segundo a pesquisa do IBGE, em seis regiões metropolitanas). Recessão e inflação limavam salários e empregos. Ao final daquele ano, a economia cresceria apenas 1,15%.
Difícil dizer agora se Lula está mais fresco ou mais passado do que em 2003, mas neste ano da anunciada mãe de todas as recessões a massa de salários em agosto cresceu 2,2% em relação a agosto de 2008, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. O PIB deste ano deve crescer menos de 1%. Os brasileiros estão mais ricos, depois de alguns anos de crescimento razoável desde 2004, devido à inflação baixa e devido ao real forte (isto é, devido à desvalorização do dólar que tanta celeuma provoca).
Note-se que não se faz aqui um elogio do real forte, mas apenas de uma constatação de fato.
Em 1994/95, o real também estava forte, consumia-se alegremente (isto é, quem podia), estourou-se o deficit externo e acabamos na crise do real de 1998/99, na explosão da dívida pública e em outras bombas. Mas se tratava aqui dos números do emprego. Apesar da espantosa resistência do mercado brasileiro nesta crise, a massa de rendimento real vem crescendo cada vez mais devagar (vide gráfico ao lado).
O crescimento da população ocupada em setembro foi um dos piores de que se tem notícia (embora a série dessas notícias seja curta, pois as estatísticas do IBGE que podem ser usadas na comparação começam em 2002). Apenas cinco resultados foram piores, desde o início da série de dados. Não, isso não é sinal ou sintoma de grande problema. Mas os dados nos dizem algo de útil nas discussões de política monetária (isto é, para onde vão as taxas de juros).
A população economicamente ativa (PEA, pessoas ocupadas e/ou à procura de emprego) caiu em setembro e tem crescido devagar, assim como a população empregada e a massa de salários. O desemprego foi baixo em setembro devido ao fato de que menos gente procurou trabalho. Mas setembro costumava ser o mês em que mais gente passa a procurar emprego (fábricas e lojas reforçam as equipes para as vendas do período de festas). Não desta vez, mesmo que a economia tenha se saído melhor que o previsto, mesmo com o otimismo no ar, mesmo com a volta do crescimento.
Enfim, a pressão por empregos e, pois, por salários, não parece por ora lá muito relevante para quem se ocupa de pensar taxas de juros. No mercado de trabalho, até agora há folga (embora os dados do emprego formal, do Caged, pareçam melhores do que os do IBGE). Folga que persiste na capacidade de produção das fábricas. A inflação nem desponta na esquina.

vinit@uol.com.br


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