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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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DINHEIRO NO BOLSO

Mais de 1 milhão de trabalhadores com data-base no 2º semestre obtém reajuste igual ou acima do INPC

"Elite" trabalhadora consegue aumento real

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os reajustes salariais concedidos no segundo semestre à chamada "elite" dos trabalhadores do país -formada por categorias como metalúrgicos, petroleiros e bancários- conseguiram zerar ou superar a inflação acumulada nos últimos 12 meses.
O resultado faz parte de levantamento realizado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), a pedido da Folha, e leva em conta 15 acordos feitos por 12 categorias profissionais com data-base entre julho e novembro.
No conjunto, essas categorias reúnem 2 milhões de trabalhadores e representam 7% da mão-de-obra do mercado formal de trabalho do país -ou quase um quinto dos empregados com carteira assinada no Estado de São Paulo.
Nos 15 acordos salariais analisados, em 8 (53%) houve recuperação do poder de compra com reajustes iguais ou superiores ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE. Esses oito acordos beneficiam 1,162 milhão de trabalhadores, ou 58% dos que fecharam negociação no segundo semestre.
O indicador é o mais usado nas negociações salariais e serve de referência para reajustes do salário mínimo e benefícios previdenciários desde 1979, quando começou a ser calculado.
"O cenário mudou no segundo semestre. Os juros caíram, o câmbio ficou estável, houve recuo do risco Brasil e da inflação, além de sinais de recuperação em algumas atividades, principalmente no setor industrial", diz o economista José Silvestre Prado de Oliveira, supervisor de atendimento técnico do Dieese. Esses fatores, aliados à ação sindical dessas categorias, contribuíram para a melhora nas negociações salariais em relação ao primeiro semestre, diz.
De janeiro a junho deste ano, o Dieese registrou o pior resultado nas negociações desde o Plano Real, quando o governo encerrou a política que garantia reposição automática das perdas da inflação. Em 54% dos 149 acordos firmados nesse período não se conseguiu sequer zerar a variação do INPC nos 12 meses anteriores a cada data-base.
"Apesar de as amostras pesquisadas serem diferentes [no primeiro e no segundo semestres], os resultados são significativos por reunirem informações de categorias consideradas com mais poder de fogo nas negociações e que influenciam as demais", diz Oliveira. O Dieese deve divulgar só em 2004 o balanço completo dos acordos feitos neste ano.
O melhor aumento conseguido entre as categorias consideradas mais tradicionais -metalúrgicos, químicos, bancários e petroleiros- foi o dos trabalhadores das montadoras paulistas: 2% de aumento real.
"A redução do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] concedida às montadoras e as medidas de incentivo ao crédito adotadas pelo governo permitiram melhora nas vendas, o que facilitou as negociações", diz Adi dos Santos Lima, presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT. As vendas de veículos no mercado interno aumentaram 12,6% no mês passado em relação a setembro e atingiram o nível mais alto em um ano e meio.
A tradição sindical também pesou na negociações. O sindicalista lembra que o resultado foi conseguido após várias greves nas montadoras do ABC paulista.
Entre as categorias menos tradicionais, conseguiram melhores reajustes as que estão relacionadas a atividades exportadoras. Caso dos empregados do setor de papel e papelão, considerado o termômetro da economia.



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