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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

País reclama de yuan desvalorizado, mas vê exportações para o vizinho crescerem 27,8%

Japão pega carona no crescimento chinês

JAMES BROOKE
DO "NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

O Japão e os Estados Unidos se queixam de que a moeda da China está desvalorizada. Mas, enquanto os norte-americanos vêem seu déficit comercial com o país inflar em ritmo recorde, o Japão anunciou na quinta-feira que suas exportações para o mercado chinês aumentaram 27,8%.
O déficit mensal no comércio japonês com a China caiu 21% em outubro, para pouco menos de US$ 2 bilhões. E, quando incluímos no cálculo o comércio com Hong Kong, o déficit na prática se transforma em um superávit de US$ 778 milhões no mês.
"As queixas sobre o valor baixo do yuan se aquietaram bastante porque as exportações seguem nos trilhos", disse Peter J. Morgan, economista-chefe do banco HSBC, sobre as reclamações ouvidas no Japão, um mês atrás, da taxa de câmbio chinesa, cujo valor não se altera há muito tempo.
Com China e Hong Kong adquirindo aço, peças para celulares, componentes para aparelhos de videogame e telas de cristal líquido japoneses em grande volume, as vendas para os mercados chinês e de Hong Kong responderam por 63% do crescimento das exportações japonesas no mês passado. Em contraste, as exportações japonesas aos Estados Unidos caíram 6,2%, o décimo mês consecutivo de queda.

Dependência
As exportações japonesas ao mercado norte-americano caíram, em parte, porque as montadoras de automóveis do país cada vez mais produzem seus veículos em fábricas nos EUA -em lugar de enviá-los de navio para o outro lado do oceano Pacífico. Além disso, o iene se valorizou 10% em relação ao dólar, de julho para cá, e fechou na quinta-feira cotado a 107,50 ienes por dólar.
"A China continua a ser a fonte da maior parte do crescimento nas exportações", escreveu Richard Jerram, economista da ING Financial Markets. Com a China se tornando o maior exportador mundial para o Japão, escreveu ele, "a dependência japonesa em relação aos Estados Unidos foi substituída por uma dependência ainda maior ante a China e os Estados Unidos ao mesmo tempo".
O Japão, que nos últimos anos avançou relativamente pouco rumo às reformas econômicas, agora se vê arrastado para uma alta devido ao vigoroso crescimento de seus dois maiores parceiros comerciais. A economia dos EUA cresceu a um ritmo anualizado de 7,2% no terceiro trimestre, enquanto a China atingiu um ritmo de crescimento anualizado de 9,1%. Preso entre os dois, o Japão conseguiu registrar crescimento anualizado de 2,2% no período.
"A economia está se recuperando", disse a assessoria do gabinete japonês ao anunciar formalmente uma melhora em sua avaliação da situação econômica do país, que registrou sete trimestres sucessivos de crescimento.
"Nós adotamos uma avaliação mais positiva, já que os investimentos e os lucros das empresas avançaram, e a produção industrial do país se recuperou", disse Heizo Takenaka, ministro da Economia, em entrevista coletiva concedida na quinta-feira.
O Instituto Daiwa de Pesquisa, um dos mais importantes órgãos japoneses de levantamento econômico, previu que a economia do Japão cresceria 2,7% no ano fiscal que se encerra em 31 de março de 2004 e que o ritmo de crescimento atingiria os 2,8% no ano seguinte.

Sinais
A Kobe Steel informou na quinta que seus lucros semestrais haviam subido 72% ante o mesmo período de 2002, uma alta atribuída em parte às robustas vendas de aço e derivados à China.
Embora a China continue a ser o propulsor mais forte da economia japonesa, a recuperação está acarretando o pagamento de gratificações de fim de ano mais elevadas, que devem estimular o consumo, fonte de metade da atividade econômica japonesa.
As boas notícias econômicas fizeram o índice médio Nikkei da Bolsa de Valores de Tóquio subir 2,6% na quinta-feira, quase eliminando a queda registrada durante a semana, que o levou abaixo da marca dos 10 mil pontos, uma barreira psicologicamente importante. O índice fechou em 9.865 pontos. Nas últimas três semanas, investidores estrangeiros compraram mais ações do que venderam nas bolsas japonesas, segundo informou na quinta-feira a Bolsa de Tóquio.
Com os economistas de Tóquio prevendo índices de crescimento da ordem dos 9% para a China neste ano e no ano que vem, todos os setores da economia japonesa estão tentando se redirecionar. As linhas aéreas vêm aumentando o número de vôos para a China, as companhias de turismo estão tentando atrair mais turistas chineses, e as empresas estão construindo mais fábricas na China ou vendendo bens de capital para que empresários locais construam fábricas próprias.
"O Japão é um grande exportador de bens de capital, e existe um forte boom de investimento em bens de capital em curso na China", disse Morgan.
Por enquanto, as duas maiores economias asiáticas são razoavelmente complementares. A China se especializa em produtos que requerem uso intensivo de mão-de-obra, e o Japão tem seu melhor desempenho nos bens de alta tecnologia, que requerem capital e talento de design.
Até o momento, cerca de um quarto das exportações japonesas concorrem diretamente com produtos chineses, estimou Graham Hutchings, analista de assuntos chineses na Oxford Analytica, em palestra nesta semana. Capturando o tom do momento atual, o título da palestra de Hutchings era "A Ascensão da China: O Japão Precisa Ter Medo?"
Embora as respostas oferecidas por ele não sejam conclusivas, muitas das lideranças empresariais japonesas parecem encarar a China mais como oportunidade do que como ameaça. A China não segue o modelo protecionista adotado pelo Japão no pós-guerra. Neste ano, as importações chinesas aumentaram 40%.
Os líderes empresariais japoneses continuam a escrever artigos de opinião para os jornais lastimando a cotação deslealmente baixa da moeda chinesa. Mas, no mês passado, eles conseguiram enviar ao mercado chinês o recorde de US$ 5,7 bilhões em exportações -e isso excluídas as vendas para Hong Kong.



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