São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

O homem do Tesouro de Obama


Geithner, do Fed de NY, não é economista nem trabalhou em banco, mas é um elo entre Wall Street e Washington

TIMOTHY Geithner, 47, jamais trabalhou em banco, mas desde 2003 preside o Fed de Nova York, o braço operacional do BC dos EUA. Deve ser o secretário do Tesouro de Barack Obama. Não é economista, mas gerencia a crise financeira. Na prática, foi o "banqueiro" que planejou e financiou a venda do Bear Stearns para o JPMorgan.
Seu único emprego sério no setor privado foi na consultoria (lobby global) de Henry Kissinger. É um dos raros burocratas de carreira do Tesouro a chegar ao topo.
Como Barack Obama, estudou em países "exóticos". Completou o colégio na Tailândia e morou em outros países da Ásia e na África, onde seu pai trabalhou para a Usaid e para a Fundação Ford. A carreira exótica não o impediu de se tornar um burocrata enturmado com Wall Street. A escolha de Geithner para o Fed foi algo surpreendente para o público externo. Mas os presidentes de Feds regionais são escolhidos pelos seus conselhos, a maioria composta de indicados pela banca. No caso do Fed de Nova York, o conselho muita vez e outra é dominado por CEOs de Wall Street. Geithner contava ainda com a simpatia de Alan Greenspan, então presidente do Fed, e de seu lendário antecessor, Paul Volcker.
Geithner teve longa e abençoada experiência no Tesouro, onde entrou em 1988. Caiu nas graças de Lawrence Summers, que era subsecretário de Assuntos Internacionais de Robert Rubin, secretário do Tesouro de Clinton. Rubin deixaria o cargo para Summers, que por sua vez colocaria Geithner em sua cadeira. Rubin lidera o grupo de executivos e economistas clintonianos, mas Geithner é "apartidário".
Como assistente de Summers, Geithner trabalhou nos pacotes para México, Indonésia, Coréia e Brasil nas crises de 1997-99. Na subsecretaria, era também responsável pela ligação com FMI, Bird e G7. Com o fim do governo Clinton, tornou-se diretor do FMI, responsável pela aprovação e gestão de pacotes de ajuda. Ganhou experiência e fama de gerente habilidoso. Calmo, não gosta de aparecer, fala baixo e é considerado um mestre em "networking". Costuma ser chamado de "agregador", "prático" e "pragmático". Não leva adiante idéias politicamente inviáveis. Traduz Wall Street para Washington e vice-versa.
Seus amigos de Wall Street dizem que ele não sabia nada de mercado quando foi para o Fed, mas aprendeu rápido. Summers diz que ele se "doutorou em política financeira" na prática. Na realidade, Geithner graduou-se em governo e estudos asiáticos no Dartmouth College e é mestre em economia internacional e estudos do leste asiático pela Escola de Relações Internacionais da Universidade Johns Hopkins.
Segundo se depreende de depoimentos de banqueiros e altos funcionários ao Congresso americano, Geithner foi o principal incentivador do negócio Bear-JPMorgan e da estatização da AIG. Queria salvar o Lehman, ao que Paulson se opôs. É tido como "intervencionista". Foi ele quem teve a idéia de permitir o acesso de bancos de investimento ao redesconto. Achava que o Fed tinha de ter mais poder de supervisão.
Difícil saber o que pensa. Escreveu muito pouco. Fala pouco. É muito mais um político (a sério) do mundo da finança do que pensador.

vinit@uol.com.br


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