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Bancos retomam tratores em Mato Grosso
Além do seqüestro de máquinas dos agricultores inadimplentes, instituições resolveram negativar o cadastro dos devedores
Sem máquinas, produtores
podem ficar em situação mais complicada, pois não teriam como colher a safra; desemprego pode crescer
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RONDONÓPOLIS
Sede do maior complexo de
esmagadoras de soja e pólo exportador responsável por 25%
do comércio de Mato Grosso
com o exterior, Rondonópolis
(220 km de Cuiabá) é um retrato de como a crise tem afetado o
agronegócio no país.
Mesmo após o anúncio da liberação de uma linha extraordinária de crédito de R$ 500
milhões pelo CMN (Conselho
Monetário Nacional), destinada justamente a socorrer os
agricultores inadimplentes, os
bancos mantiveram os arrestos
de equipamentos agrícolas em
fazendas da região.
Na noite de quarta-feira, a
Folha acompanhou um ato de
busca e apreensão de 27 máquinas -entre tratores, plantadeiras, arados e colheitadeiras-
em uma propriedade rural localizada a cerca de 80 quilômetros da sede de Rondonópolis.
Os arrestos foram realizados
por um oficial de Justiça, a pedido dos bancos DLL (De Lage
Landen) e Rabobank Brasil.
Inadimplente com a parcela
do financiamento vencida em
15 de outubro -uma dívida de
R$ 3.063.867,61-, o produtor
Evandro Silveira, 47, disse à reportagem que iria tentar reverter na Justiça o que qualificou
como "uma violência".
"Estamos há dez dias do final
do plantio e iniciando a cobertura de fertilizante nas áreas já
plantadas. Se tirarem todas as
máquinas, não sei como vamos
fazer para continuar", disse.
O sindicato rural do município reuniu produtores no local
e fez um ato de protesto no momento em que o primeiro trator era levado embora. Além do
seqüestro de máquinas, os bancos resolveram negativar o cadastro dos devedores.
Pólo de uma região que inclui
mais de 20 municípios produtores e destino prioritário de
investimentos em agroindústrias -4 das 16 maiores unidades industriais implantadas no
Estado desde 2005 estão no
município-, a cidade vivencia
tempos de incerteza.
"O ministro [Reinhold] Stephanes [Agricultura] disse que
a inadimplência afeta apenas
Mato Grosso e Goiás. Isso representa 41% da produção de
soja do país. É evidente que a
crise é grave e trará conseqüências. A mais imediata será o desemprego", disse Ricardo
Tomczyc, presidente do Sindicato Rural de Rondonópolis.
A Ampa (Associação Mato-grossense dos Produtores de
Algodão) estima que 25 mil
postos de trabalho no campo
sejam cortados até 2009 -caso
se cumpra a estimativa de redução de até 40% na área plantada com a cultura.
Plantio zero
O agricultor gaúcho Claudino Marin, 56, disse que desde
que chegou à região, há 33 anos,
nunca viu crise igual. Experimentado nas turbulências do
setor -oscilações de preços,
clima nem sempre favorável e
sucessivos planos econômicos-, ele afirma que a atual
conjunção de fatores é a pior
que já pôde testemunhar.
"As crises anteriores eram
setoriais, localizadas e, bem ou
mal, você tinha o mercado de
crédito aberto. Hoje a crise é
mundial, o financiamento acabou, não temos mais mercado
futuro e o risco é de 100%", disse o agricultor que, pela primeira vez em dez anos, não plantará nem sequer um pé de algodão. "Plantei 2.500 hectares na
safra passada. Neste ano plantarei zero", afirmou.
Proprietário de duas unidades de processamento de pluma de algodão -com capacidade para preparar até 9.000 toneladas-, Marin já prevê não
empregar a estrutura em 2009.
"Em situações normais, geramos 250 postos de trabalho.
Desta vez, não será preciso
mais do que 50."
O catarinense João Carlos
Diel, 50, também deixou de
plantar algodão e, nos 2.500
hectares que preparou com soja, investiu menos em tecnologia. Ele calcula que a perda de
produtividade neste novo cenário poderá chegar a cinco sacas por hectare -10% em relação à safra passada.
No dia em que falou à Folha,
Diel recebeu uma carta informando que seu nome havia sido negativado pelo Banco do
Brasil na Serasa. A dívida é relacionada a uma linha de financiamento agrícola vencida em
setembro e que, segundo ele,
não será paga. "O grande "x" será a próxima safra, ou seja, qual
será o tamanho do prejuízo."
A reportagem entrou em
contato com a direção e as assessorias jurídicas dos bancos
que vêm executando dívidas
em Mato Grosso. Até a conclusão desta edição, nenhum deles
retornou as ligações.
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