|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MEMÓRIA
Projeto foi
sonho de
bilionário
CLAUDIO CORDEIRO
do Banco de Dados
A saga do Projeto Jari teve
início em 1967, quando o megaempresário norte-americano Daniel Keith Ludwig decidiu criar um empreendimento
capaz de abastecer o mundo de
celulose e alimentos.
Ludwig acreditava que haveria uma carência generalizada
desses produtos na virada do
século e escolheu uma região
despovoada no meio da selva
amazônica para viabilizar seu
sonho.
O empresário, então um dos
quatro homens mais ricos do
mundo, com um patrimônio
estimado em US$ 3,5 bilhões,
comprou 1,6 milhão de hectares (área equivalente ao Estado
de Sergipe) nas margens do rio
Jari, entre o Pará e o Amapá.
O fracasso do projeto pode
ser explicado por uma sucessão
de erros e diagnósticos equivocados.
Solo
O desmatamento realizado
pelos tratores tirava as raízes e
o húmus, fazendo com que o
solo ficasse inadequado para o
cultivo.
A solução encontrada foi trocar os tratores por motosserras, em um processo mais caro
e demorado.
A gmelina, a árvore selecionada para a produção de celulose, foi trazida da Ásia e não se
adaptou ao clima amazônico,
além de ser vulnerável às pragas tropicais.
Diante do imprevisto, a gmelina foi substituída pelo pinus
e, mais tarde, por eucaliptos,
ocasionando mais custos e
atrasos.
O projeto ainda sofreu outros
reveses, como a explosão de
uma caldeira e o fracasso no
cultivo de arroz.
Em 78, ao tentar revitalizar o
projeto, uma unidade industrial e uma usina termogeradora de energia construídas sobre
balsas foram trazidas prontas
do Japão, em uma viagem de 57
dias e 21 mil quilômetros.
As terras que Ludwig adquiriu não estavam devidamente
regularizadas e sua propriedade passou a ser questionada no
final dos anos 70.
Nacionalismo
O governo militar, que
apoiou o projeto no começo,
era criticado e pressionado por
setores nacionalistas das Forças Armadas e da sociedade civil.
Em 82, o então ministro do
Planejamento, Delfim Netto,
aproveitou o descontentamento geral com o empreendimento e articulou sua venda para
um grupo de 23 empresários
brasileiros.
Ludwig, depois de investir
cerca de US$ 1,3 bilhão entre 67
e 82, foi embora do Brasil com
US$ 70 milhões. Morreu em 92,
deixando o que restava de sua
fortuna para uma fundação de
pesquisa contra o câncer.
Com o suporte financeiro do
BNDES e do Banco do Brasil, o
empresário Augusto Trajano
de Azevedo Antunes, do grupo
de mineração Caemi, liderou o
conglomerado até 92, quando
passou o comando para os netos Guilherme e Mário Frering.
Apesar de registrar lucro em
94, o primeiro de sua história,
os herdeiros levaram o empreendimento a uma espécie
de "concordata branca" para
renegociar as dívidas em 96.
Em abril de 97, um incêndio
destruiu a termoelétrica e paralisou a produção de celulose,
que só foi normalizada em janeiro de 98.
Os maiores credores da dívida de cerca de US$ 340 milhões
são o BNDES e o Banco do Brasil. Os dois bancos também são
acionistas e possuem 20% e
12% da empresa, respectivamente, mas o controle é da família Frering, com 37%.
A desvalorização do real e o
aumento do preço internacional da celulose devem melhorar o caixa da companhia e aliviar a dívida, pois 90% da produção é exportada para os Estados Unidos e Europa.
Texto Anterior: Máxi do real favoreceu setor Próximo Texto: Acordo automotivo: Regras serão prorrogadas por um mês Índice
|