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LUÍS NASSIF
A TV digital e a Casa Civil
Ao chamar a si a coordenação dos debates sobre a TV
digital, a ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff, apenas
aplicou, em nível de governo, o
conceito da convergência digital.
TV digital é tema que passa pelo Ministério das Comunicações
(que cuida de telefonia e radiodifusão), pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
(por suas implicações na política
industrial e de comércio exterior), pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia (por envolver desenvolvimento tecnológico) e pelo
Ministério da Cultura (pelos desdobramentos na produção cultural).
No ano passado, o então ministro das Comunicações Miro Teixeira reservou uma verba e convocou uma rede de institutos de
pesquisa nacionais para discutir
o padrão nacional de TV digital.
Os institutos acabaram se apropriando do conhecimento, criando uma massa crítica que os
transformou em uma espécie de
bússola qualificada. A discussão
ficou mais rica, mas tudo isso foi
feito antes de discutir as regras de
convergência digital.
A ministra Dilma sabe que ninguém vai querer impedir a convergência. Em um determinado
momento, tanto TVs vão poder
ser capazes de atuarem com telefonia quanto as telefônicas poder
distribuir conteúdo. Mas há vários fatores a serem considerados.
O primeiro é a desproporção de
poder econômico entre as empresas de radiodifusão -a parte nacional da história- e os gigantes
internacionais da telefonia. Por
outro lado, não se pode perder de
vista que novas tecnologias com
voz sobre IP -tipo Skype-
ameaçam destruir valor da telefonia convencional, obrigando-a
a buscar novos modelos de negócio. Finalmente, há a questão da
produção independente no Brasil, com poucos canais de divulgação devido à estratificação do sistema de concessões radiofônicas.
A nova legislação terá que compatibilizar todos esses interesses e
dificilmente será ótima.
O grupo gestor trabalha com
três cenários de referência:
1. Um cenário incremental,
usando a TV digital dentro do
mesmo espectro de freqüência
atual. Se utilizar o sistema de modulação japonês e o compressor
de áudio e vídeo MPEG 2, haveria
possibilidade de utilizar uma
banda para a HDTV (TV digital)
e 3 mb ou 4 mb para multicasting
(sistema que permite enviar programas de uma fonte para várias
fontes IP). Esse é o cenário ideal
para os radiodifusores.
2. Cenário de desenvolvimento
com multiprogramação, adicionando mais canais aos atuais,
mais atores e permitindo criar
uma rede pública de TV. Haveria
outros serviços, não apenas radiodifusão, exigindo outra regulação.
3. Cenário de convergência, em
que se utilizaria a capacidade do
canal de retorno da HDTV para
prover a interatividade. Teria um
formato multiplataforma, com
telefone e internet. Nesse modelo
seria criado o operador de rede,
autoridade que definiria as regras de trânsito entre os diversos
conteúdos e plataformas, tal qual
o modelo inglês.
É apenas um início da discussão que promete ser rápida e precisa contemplar todos os interesses envolvidos, da forma mais
transparente possível.
E-mail:
Luisnassif@uol.com.br
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