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RECEITA ORTODOXA
Diretores do BC vêem queda do PIB no 3º tri como pontual
Ata do Copom sinaliza para queda lenta da taxa de juros
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central aposta que a
queda de 1,2% no PIB registrada
entre julho e setembro foi pontual
e acredita que a recuperação da
renda real e do nível de emprego
será suficiente para permitir a retomada do nível de atividade, enquanto as recentes e graduais reduções efetuadas na taxa de juros
não surtem efeito integralmente
na economia.
O cenário econômico dos diretores do BC, traçado na ata da última reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária), divulgada
ontem, sugere ainda que novos
cortes nos juros deverão seguir o
atual ritmo lento, apesar das pressões políticas. Desde outubro, o
Copom promove quedas de 0,5
ponto percentual na taxa básica, a
Selic, hoje em 18% ao ano.
A atitude tem sido bombardeada por ministros como Dilma
Rousseff (Casa Civil), Luiz Marinho (Trabalho) e Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento) e fragilizou ainda mais o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci, que
enfrenta ainda suspeitas de corrupção ligadas à sua gestão na
Prefeitura de Ribeirão Preto.
A expectativa desses integrantes
do governo, de boa parte do mercado e do setor produtivo era que,
após a retração do PIB no terceiro
trimestre e com a inflação convergindo para a meta, os cortes nos
juros fossem acelerados.
A manutenção do corte mensal
de meio ponto na reunião do Copom da semana passada levantou
suspeitas de que a equipe econômica esteja preocupada com o
afrouxamento fiscal defendido
por integrantes do governo.
A liberação de verbas para estimular a economia e fazer deslanchar setores estratégicos como infra-estrutura tem sido usada pelo
presidente Lula como resposta
aos dados ruins de crescimento e
também para ajudar numa possível campanha pela reeleição.
Apesar de os diretores do BC
afirmarem que a alta da inflação
em outubro e novembro foi transitória e que "atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão, em ritmo condizente com as
condições de oferta, de modo a
não resultar em pressões significativas sobre a inflação", eles dão
a entender que o ajuste nos juros
deve ser mantido na forma atual.
"Tal como na reunião de novembro, o Copom enfatiza que o
principal desafio da política monetária nesse contexto é garantir a
consolidação dos desenvolvimentos favoráveis que se antecipam
para o futuro", diz a ata.
Os diretores fazem questão de
enfatizar que, mesmo sendo esperada pelo Copom, a alta da inflação em outubro e novembro
-decorrente da alta dos combustíveis e do fim da queda no preço
dos alimentos- superou as expectativas. Por isso, destacam a
necessidade de acompanhar atentamente a evolução da inflação
para diferenciar reajuste pontuais
e persistentes e adequar a política
monetária às circunstâncias, "de
forma a assegurar que os ganhos
obtidos no combate à inflação até
o momento sejam permanentes".
Os diretores justificam o conservadorismo afirmando que ele
garantirá a redução da percepção
de risco do país, o que permitirá
juros menores no futuro: "O espaço para que observemos juros
reais menores no futuro continuará se consolidando de forma
natural como conseqüência dessa
melhora de percepção".
A partir de 2006, o Copom se
reunirá menos: em vez das 12 reuniões anuais, serão só oito. Isso
significa que, mesmo que acelere
um pouco o ritmo de corte, o BC
ainda estará mantendo a atitude
gradualista atual. "Com oito reuniões no ano, um corte de 0,75
ponto percentual equivale ao 0,5
atual", diz o economista Caio Megale, da MauáInvest, ressaltando
que a atitude do BC deverá ser a
de manter cortes menores por
mais tempo.
Na prática, o BC poderá até
anunciar quedas um pouco maiores nos juros, mas o efeito na economia estará sendo o mesmo.
(SHEILA D"AMORIM)
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