São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Diretores do BC vêem queda do PIB no 3º tri como pontual

Ata do Copom sinaliza para queda lenta da taxa de juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central aposta que a queda de 1,2% no PIB registrada entre julho e setembro foi pontual e acredita que a recuperação da renda real e do nível de emprego será suficiente para permitir a retomada do nível de atividade, enquanto as recentes e graduais reduções efetuadas na taxa de juros não surtem efeito integralmente na economia.
O cenário econômico dos diretores do BC, traçado na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada ontem, sugere ainda que novos cortes nos juros deverão seguir o atual ritmo lento, apesar das pressões políticas. Desde outubro, o Copom promove quedas de 0,5 ponto percentual na taxa básica, a Selic, hoje em 18% ao ano.
A atitude tem sido bombardeada por ministros como Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Marinho (Trabalho) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e fragilizou ainda mais o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que enfrenta ainda suspeitas de corrupção ligadas à sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto.
A expectativa desses integrantes do governo, de boa parte do mercado e do setor produtivo era que, após a retração do PIB no terceiro trimestre e com a inflação convergindo para a meta, os cortes nos juros fossem acelerados.
A manutenção do corte mensal de meio ponto na reunião do Copom da semana passada levantou suspeitas de que a equipe econômica esteja preocupada com o afrouxamento fiscal defendido por integrantes do governo.
A liberação de verbas para estimular a economia e fazer deslanchar setores estratégicos como infra-estrutura tem sido usada pelo presidente Lula como resposta aos dados ruins de crescimento e também para ajudar numa possível campanha pela reeleição.
Apesar de os diretores do BC afirmarem que a alta da inflação em outubro e novembro foi transitória e que "atividade econômica deverá se recuperar nos próximos meses e continuar em expansão, em ritmo condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação", eles dão a entender que o ajuste nos juros deve ser mantido na forma atual.
"Tal como na reunião de novembro, o Copom enfatiza que o principal desafio da política monetária nesse contexto é garantir a consolidação dos desenvolvimentos favoráveis que se antecipam para o futuro", diz a ata.
Os diretores fazem questão de enfatizar que, mesmo sendo esperada pelo Copom, a alta da inflação em outubro e novembro -decorrente da alta dos combustíveis e do fim da queda no preço dos alimentos- superou as expectativas. Por isso, destacam a necessidade de acompanhar atentamente a evolução da inflação para diferenciar reajuste pontuais e persistentes e adequar a política monetária às circunstâncias, "de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação até o momento sejam permanentes".
Os diretores justificam o conservadorismo afirmando que ele garantirá a redução da percepção de risco do país, o que permitirá juros menores no futuro: "O espaço para que observemos juros reais menores no futuro continuará se consolidando de forma natural como conseqüência dessa melhora de percepção".
A partir de 2006, o Copom se reunirá menos: em vez das 12 reuniões anuais, serão só oito. Isso significa que, mesmo que acelere um pouco o ritmo de corte, o BC ainda estará mantendo a atitude gradualista atual. "Com oito reuniões no ano, um corte de 0,75 ponto percentual equivale ao 0,5 atual", diz o economista Caio Megale, da MauáInvest, ressaltando que a atitude do BC deverá ser a de manter cortes menores por mais tempo.
Na prática, o BC poderá até anunciar quedas um pouco maiores nos juros, mas o efeito na economia estará sendo o mesmo.
(SHEILA D"AMORIM)


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