São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS/ REAÇÃO GLOBAL

Saída recorde de estrangeiro derruba Bolsa

Baixa de 3,32% ontem fez Bovespa acumular no ano perda de 15,11%; até agora, já saíram R$ 4,5 bi em capital externo

Estrangeiro vende ativos no Brasil para cobrir perdas lá fora, afirmam analistas; dólar sobe e registra alta de 2,70% no ano diante do real

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Durou apenas um dia a trégua no mercado. Perdas expressivas voltaram a abalar as Bolsas de Valores pelo mundo. A Bovespa, após operar em queda durante todo o pregão, encerrou com desvalorização de 3,32%. No acumulado do ano, a baixa é de 15,11%.
A fuga recorde de estrangeiros tem sido fundamental para o desabamento da Bovespa. Até o dia 21 deste mês, o saldo das operações dos estrangeiros na Bolsa paulista estava negativo em R$ 4,5 bilhões -o pior resultado mensal já registrado.
"No curto prazo, a Bovespa vai seguir sofrendo muito, com os estrangeiros vendendo ações aqui para cobrir perdas que têm tido lá fora. E não consigo ver um final para essa crise tão cedo", afirma Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
A saída de capital externo do mercado acionário tem colaborado para a alta do dólar. Ontem o dólar subiu 1,84% e fechou as operações vendido a R$ 1,825. No ano, a alta da moeda americana está em 2,70%.
O resultado de ontem desanimou quem esperava que o mercado financeiro retomasse a rota de alta após a inesperada redução de juros, de 4,25% para 3,50% anuais, anunciada pelo Fed (o banco central dos Estados Unidos) na terça-feira.
"Os últimos dias mostram que o mercado enfrenta um momento de volatilidade forte e que veio para ficar. O mercado vai seguir oscilando bastante, mesmo com a redução de juros nos EUA e o pacote preparado pelo governo do país. O 1º semestre, pelo menos, será bem turbulento", afirma Alexandre Horstmann, diretor de gestão da Meta Asset Management.
A Bolsa de Valores de São Paulo já abriu em forte queda, acompanhando o mau desempenho do mercado europeu, que se decepcionou com a perspectiva de manutenção dos juros na Europa -investidores esperavam que o BC europeu seguisse o Fed.
O Ibovespa, mais importante índice da Bolsa, chegou a registrar perdas de 5,50% no pior momento de ontem.
A recuperação da Bolsa de Nova York no fim do pregão de ontem -que reverteu as perdas e subiu 2,5%-, quando a Bovespa já tinha encerrado suas operações, pode fazer com que o dia seja mais favorável ao mercado acionário hoje.
A queda do barril de petróleo, que tem sido afetado pelo temor de recessão nos EUA, que comprometeria a demanda pelo produto, prejudicou as ações de petrolíferas nas Bolsas européias e americana. O barril de petróleo, que bateu em US$ 100 no começo de 2008, caiu 2,5% ontem e fechou a US$ 86,99.
Com as ações da Petrobras não foi diferente. O papel ordinário da Petrobras caiu 1,92%, e o preferencial recuou 1,71%.
"A Bovespa é muito dependente do desempenho de Petrobras e Vale, que têm sofrido com a baixa do petróleo e das commodities metálicas no exterior", diz Horstmann.
No pregão de ontem, quase 35% da movimentação da Bovespa ficou com as ações das duas companhias. Mais do que Petrobras, as ações da Vale tiveram um pregão bem ruim. O papel PNA da companhia recuou 6,10%, e o ON, 5,46%.
Essas ações costumam ser muito negociadas pelos investidores estrangeiros, que têm se desfeito de papéis na Bovespa com força neste ano.
"Os fluxos externos para a Bovespa costumam ser exagerados tanto para o bem, nos momentos de alta, quanto para o mal, como agora", afirma Horstmann.


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