São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NOS MERCADOS/ RISCOS

Copom mantém juros em 11,25% ao ano

Após decisão unânime e esperada, BC afirma que vai ficar atento aos desdobramentos da turbulência nos mercados

Copom não reduz a taxa desde outubro, preocupado com o risco de o crescimento pressionar a inflação e agora com a crise nos EUA

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como esperado pelo maioria dos analistas do mercado, o Banco Central manteve ontem a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 11,25% ao ano. A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária, formado pelos diretores do BC) foi unânime. Em nota, a autoridade monetária mostrou que estará atenta aos desdobramentos da turbulência na economia mundial. O último corte da Selic foi em setembro.
"Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés. O comitê irá acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária", justificou o BC, em nota.
A ata da reunião, com os motivos da diretoria do BC para a manutenção dos juros, será divulgada na próxima quinta-feira. Esse documento serve como uma sinalização para o mercado financeiro de quais serão os passos seguintes do Copom. O próximo encontro será nos dias 4 e 5 de março.
Assessor direto do ministro Guido Mantega (Fazenda), o secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa, qualificou a decisão do BC de cautelosa. "Num momento de turbulência, é recomendável esperar para ver o comportamento da economia", afirmou ontem à noite, após o anúncio da decisão.

Alta
A maioria das cem instituições financeiras consultadas pelo BC, na semana passada, espera que os juros permaneçam em 11,25% ao longo de 2008. Muitos já admitem, porém, que a Selic pode subir durante o ano, com o agravamento da turbulência financeira internacional.
A piora da crise nos Estados Unidos, causada pela quebradeira dos fundos atrelados a créditos imobiliários de alto risco, causou a mudança de expectativas em relação aos juros no Brasil. Nas vésperas da última reunião do Copom do ano passado, nos dias 4 e 5 de dezembro, o mercado financeiro projetava que a Selic poderia cair a partir de abril. Essa hipótese está descartada pelos economistas ouvidos pelo BC na sexta-feira passada.

Mudança de foco
A última queda da Selic foi em setembro, depois de dois anos e meio consecutivos de corte na taxa básica. Em outubro, a autoridade monetária interrompeu a seqüência de redução dos juros, mas os motivos de preocupação para a autoridade monetária mudaram desde então. Até dezembro, o foco das atenções era o crescimento econômico acelerado. Os diretores do BC, assim como os economistas do mercado financeiro, temiam que a produção nacional não fosse suficiente para suprir o aumento do consumo, o que poderia gerar inflação no futuro.
Atualmente, todas as atenções estão voltadas para o risco de a crise no mercado americano levar o país à recessão. Se esse cenário se confirmar, a inflação no Brasil corre igual risco de subir, com a queda das exportações e eventual recuo nos preços das commodities (como soja e café, por exemplo).
A inflação medida pelo IPCA, usada como balizador da política monetária, acumulou alta de 4,46% no ano passado, muito próximo do centro da meta, de 4,5%.
A redução de 0,75 ponto percentual de juros nos Estados Unidos nesta semana, para estimular a economia local, trouxe um alívio para o Brasil porque aumentou a diferença entre as taxas pagas pelo títulos no mercado brasileiro e os americanos.
A reunião de ontem contou com três novatos. Desde o último encontro do Copom, tomaram posse a diretora de Assuntos Internacionais, Maria Cellina Arraes, o diretor de Administração, Anthero Meirelles, e o diretor de Fiscalização, Alvin Alberto Hoffmann. Todos eles são funcionários de carreira do Banco Central.


Texto Anterior: Artigo: Bem-vindo à nova moderação
Próximo Texto: Empresários criticam decisão do Banco Central
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.