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Economia britânica tem maior retração desde 1980
Reino Unido retrocede 1,5% no 4º trimestre e entra oficialmente em recessão
Crescimento no ano passado foi de 0,7%, pior resultado desde 1992; analistas já estimam retração
de até 4% neste ano
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Os últimos três meses do ano
passado foram os piores para a
economia do Reino Unido em
quase 30 anos e indicam que a
recessão no país, agora oficial,
será profunda e duradoura.
O PIB (Produto Interno Bruto) retrocedeu 1,5% no quarto
trimestre em relação ao trimestre anterior, a maior queda desde 1980, quando o país enfrentava uma profunda recessão. A
economia já vinha de uma queda de 0,6% nos três meses de
julho a setembro, e o recuo por
dois trimestres seguidos confirma que o país está oficialmente em recessão, pela primeira vez desde 1991.
O resultado foi tão ruim que
derrubou o crescimento anual
em 2008 para apenas 0,7%, o
pior desde 1992, e levou analistas a preverem até dois anos seguidos de retração anual do
PIB. Para 2009, a estimativa é a
de um recuo de até 4% na sexta
maior economia do planeta.
"Os números apenas enfatizam quão ruim é a situação.
Nossa previsão agora é de uma
queda de 3% a 4% neste ano e
de crescimento negativo anual
também em 2010", disse à Folha Neil Prothero, analista de
Reino Unido da consultoria
Economist Intelligence Unit,
do grupo que edita a revista
"The Economist".
A evolução das previsões
mostra o quanto a situação piorou, tanto em velocidade quanto em profundidade. No final
de outubro, ele estimava um recuo de 1% a 2% para 2009, com
2010 ainda em aberto.
"O primeiro trimestre deste
ano deve ter uma nova queda
acentuada no PIB, talvez não
tanto quanto essa, mas ainda
assim bem funda", disse Daniel
Pimcott, repórter de economia
do "Financial Times".
A queda no PIB no último trimestre de 2008 ocorreu em todos os setores da economia, dos
serviços (responsáveis por dois
terços do PIB britânico) à construção e à indústria, que teve o
maior recuo, de 4,6%.
O ministro da Economia,
Alistair Darling, disse que a recessão é "indiscutivelmente
mais acentuada do que muitos
acreditavam, principalmente
porque a produção industrial
caiu muito por causa do efeito
ruim nos mercados de exportação".
Os números de ontem se somam a outras más notícias para
a economia britânica. O desemprego não para de subir, está
muito próximo dos 2 milhões
(6,1%) e pode chegar a 3 milhões até o final do ano. No
mercado de câmbio, a libra caiu
de um pico de US$ 2,11 há alguns meses para US$ 1,35, a
mais baixa cotação em 23 anos.
Em relação ao euro, está próxima da paridade (o cardápio da
Ryanair já não faz distinção entre uma moeda e outra).
Luz no fim do túnel
Apesar da enxurrada de notícias negativas, alguns analistas
enxergam uma luz no final do
túnel. "Virou uma corrida para
o fundo do poço, para ver quem
aparece com a previsão mais
calamitosa", afirmou Jamie
Danhauser, economista sênior
da consultoria Lombard Street
Research. Ele prevê uma retração anual de até 2% em 2009,
mas influenciada pelo péssimo
começo de ano, com recuperação já a partir do segundo semestre.
"Na recessão de 1980-82, a
pior desde a Segunda Guerra, o
PIB do país encolheu 5,9%, por
sete trimestres consecutivos.
Até agora, a retração foi de
2,1%. Com certeza deve ser pior
que a do início dos anos 1990,
mas ainda faltam dados para dizer que será a pior desde a Segunda Guerra, como muita
gente tem falado", disse
Danhauser à Folha.
As taxas de juros estão em
1,5% ao ano, o menor patamar
em mais de 300 anos, e devem
cair para próximo de zero nos
próximos meses. Desde outubro, o governo já lançou dois
pacotes de centenas de bilhões
de libras para salvar o sistema
bancário e impulsionar a economia. Apesar de terem evitado o pior, as medidas não foram suficientes para combater
a enormidade da crise.
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