São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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Economia britânica tem maior retração desde 1980

Reino Unido retrocede 1,5% no 4º trimestre e entra oficialmente em recessão

Crescimento no ano passado foi de 0,7%, pior resultado desde 1992; analistas já estimam retração de até 4% neste ano

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

Os últimos três meses do ano passado foram os piores para a economia do Reino Unido em quase 30 anos e indicam que a recessão no país, agora oficial, será profunda e duradoura.
O PIB (Produto Interno Bruto) retrocedeu 1,5% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior, a maior queda desde 1980, quando o país enfrentava uma profunda recessão. A economia já vinha de uma queda de 0,6% nos três meses de julho a setembro, e o recuo por dois trimestres seguidos confirma que o país está oficialmente em recessão, pela primeira vez desde 1991.
O resultado foi tão ruim que derrubou o crescimento anual em 2008 para apenas 0,7%, o pior desde 1992, e levou analistas a preverem até dois anos seguidos de retração anual do PIB. Para 2009, a estimativa é a de um recuo de até 4% na sexta maior economia do planeta.
"Os números apenas enfatizam quão ruim é a situação. Nossa previsão agora é de uma queda de 3% a 4% neste ano e de crescimento negativo anual também em 2010", disse à Folha Neil Prothero, analista de Reino Unido da consultoria Economist Intelligence Unit, do grupo que edita a revista "The Economist".
A evolução das previsões mostra o quanto a situação piorou, tanto em velocidade quanto em profundidade. No final de outubro, ele estimava um recuo de 1% a 2% para 2009, com 2010 ainda em aberto.
"O primeiro trimestre deste ano deve ter uma nova queda acentuada no PIB, talvez não tanto quanto essa, mas ainda assim bem funda", disse Daniel Pimcott, repórter de economia do "Financial Times".
A queda no PIB no último trimestre de 2008 ocorreu em todos os setores da economia, dos serviços (responsáveis por dois terços do PIB britânico) à construção e à indústria, que teve o maior recuo, de 4,6%.
O ministro da Economia, Alistair Darling, disse que a recessão é "indiscutivelmente mais acentuada do que muitos acreditavam, principalmente porque a produção industrial caiu muito por causa do efeito ruim nos mercados de exportação".
Os números de ontem se somam a outras más notícias para a economia britânica. O desemprego não para de subir, está muito próximo dos 2 milhões (6,1%) e pode chegar a 3 milhões até o final do ano. No mercado de câmbio, a libra caiu de um pico de US$ 2,11 há alguns meses para US$ 1,35, a mais baixa cotação em 23 anos. Em relação ao euro, está próxima da paridade (o cardápio da Ryanair já não faz distinção entre uma moeda e outra).

Luz no fim do túnel
Apesar da enxurrada de notícias negativas, alguns analistas enxergam uma luz no final do túnel. "Virou uma corrida para o fundo do poço, para ver quem aparece com a previsão mais calamitosa", afirmou Jamie Danhauser, economista sênior da consultoria Lombard Street Research. Ele prevê uma retração anual de até 2% em 2009, mas influenciada pelo péssimo começo de ano, com recuperação já a partir do segundo semestre.
"Na recessão de 1980-82, a pior desde a Segunda Guerra, o PIB do país encolheu 5,9%, por sete trimestres consecutivos. Até agora, a retração foi de 2,1%. Com certeza deve ser pior que a do início dos anos 1990, mas ainda faltam dados para dizer que será a pior desde a Segunda Guerra, como muita gente tem falado", disse Danhauser à Folha.
As taxas de juros estão em 1,5% ao ano, o menor patamar em mais de 300 anos, e devem cair para próximo de zero nos próximos meses. Desde outubro, o governo já lançou dois pacotes de centenas de bilhões de libras para salvar o sistema bancário e impulsionar a economia. Apesar de terem evitado o pior, as medidas não foram suficientes para combater a enormidade da crise.


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