São Paulo, sábado, 24 de janeiro de 2009

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Obama negocia mudanças em pacote

Presidente pede aprovação das medidas até 16 de fevereiro; cresce expectativa de nacionalização de bancos

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Reconhecendo existirem divergências entre democratas e republicanos no Congresso, o novo presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou ontem que pretende anunciar um novo pacote de estímulo para a economia antes de 16 de fevereiro, data do feriado do Dia do Presidente.
Segundo relato dos congressistas, Obama afirmou que ao menos 75% do dinheiro do pacote, estimado em US$ 825 bilhões (o equivalente a mais do que a metade do PIB do Brasil), deverá irrigar a economia nos próximos 18 meses.
O pacote incluirá uma série de gastos diretos em investimentos em infraestrutura (estimados US$ 100 bilhões), entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões para ajudar mutuários que correm o risco de perder seus imóveis e cerca de US$ 275 bilhões em um programa de redução de impostos.
O pacote inclui ainda bilhões de dólares para reforçar e ampliar o pagamento do seguro-desemprego e ajuda direta aos Estados para sustentar programas públicos de saúde.
O plano de alívio tributário é o que mais tem causado divergências, já que os republicanos gostariam de ampliá-lo e estender a ajuda a grandes empresas, como fez o ex-presidente George W. Bush em seu mandato.
Além de negociar o pacote de US$ 825 bilhões com o Congresso, a nova administração já recebeu o sinal verde dos parlamentares para gastar outros US$ 350 bilhões -a segunda metade do pacote de ajuda ao setor financeiro aprovado no final de 2008.
Ontem, Obama reafirmou que seu governo tomará "todas as providências" para que novas ajudas a bancos sejam repassadas rapidamente na forma de empréstimos aos consumidores americanos.
Obama e seu novo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, têm insistido nesse ponto, já que a maior parte dos mais de US$ 200 bilhões dirigidos aos bancos nos EUA nos últimos meses acabou "entesourada" pelas instituições.
Essas declarações vêm gerando uma expectativa de nacionalização, mesmo que "branca", de alguns bancos. Pois o governo dos EUA de fato poderá passar a ser o maior acionista de muitas instituições após as novas ajudas.
Dando mais indicações de que o governo pode querer aumentar o seu poder de comando, Obama e Geithner reafirmaram ontem que os bancos que receberem novas ajudas serão obrigados a limitar pagamentos e bônus a seus executivos e que serão vigiados de perto sobre como estarão empregado o dinheiro.
"As notícias que temos recebido nos últimos dias dão conta de que bancos que receberam dinheiro dos contribuintes usaram parte dos recursos para renovar banheiros e escritórios, e que há muita falta de transparência e acompanhamento na utilização desse dinheiro", disse Obama.
O governo Obama estaria considerando duas saídas para socorrer novamente os bancos e obrigá-los a voltar a repassar créditos a seus clientes.
A primeira hipótese seria a criação de uma instituição estatal que absorveria todos os ativos "tóxicos" dos bancos (empréstimos podres e sem garantias suficientes). Com seus balanços limpos, os bancos teriam novas condições de operar com financiamentos.
O problema dessa alternativa é que ela é vista como uma compensação aos atuais acionistas e dirigentes que geriram os bancos de forma considerada irresponsável.
Ganha força, portanto, a ideia de o governo absorver esses títulos "tóxicos" e deixar em aberto a possibilidade de convertê-los em ações dos próprios bancos, se assim decidir. Com isso, o governo americano passaria a ser virtualmente sócio ou controlador do banco, sem de fato sê-lo.
Nesse caso, estaria em condições de exigir certas atitudes das instituições sem necessariamente estar no comando direto delas.


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