São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estrangeiro compra papéis no exterior para fugir do IOF

Patrimônio de fundos "offshore", formados com títulos brasileiros, cresce 52%

Aplicação em modalidade de investimento aumentou ao mesmo tempo em que participação de estrangeiros na Bolsa de SP diminuiu

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a cobrança de IOF do capital externo que desembarca no país esfriou a entrada de recursos no mercado local, ao menos o interesse por ativos brasileiros não diminuiu. Pelo contrário. Isso é o que demonstra o forte fluxo de capital, nos últimos meses, para os chamados fundos "offshore". Desde setembro, o patrimônio da categoria saltou 52% e alcançou inéditos R$ 50,51 bilhões. No período, o mercado de fundos como um todo cresceu 7%.
Os fundos "offshore" são constituídos no exterior, mas por meio de um gestor sediado no país. São aplicações oferecidas só a clientes com recursos mantidos lá fora e têm em sua carteira papéis brasileiros, como ações e títulos de dívida.
Em outubro, o governo decidiu passar a cobrar 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) do capital externo que ingressa no país destinado a ações ou renda fixa. O efeito foi sentido no mercado local.
Na Bolsa de Valores, os estrangeiros diminuíram o ritmo de suas aplicações. De 32,7% do total negociado nos pregões da Bolsa em setembro, os estrangeiros respondem neste mês por cerca de 27,5%. A entrada líquida de capital na Bolsa, que alcançou R$ 4,04 bilhões em setembro, ficou em apenas R$ 512,2 milhões em dezembro. Neste mês, até o dia 20, o saldo era de apenas R$ 36,3 milhões.
O que a expansão dos fundos "offshore" sinaliza é que parte do capital que deveria entrar no país foi desestimulada pelo IOF, tendo sido redirecionada a esse tipo de aplicação.
"O segundo semestre de 2009 foi bastante positivo no que se refere à percepção do estrangeiro em relação ao Brasil. Até o anúncio do Rio como sede da Olimpíada provocou uma impressionante reação dos investidores", afirma Alexandre Silvério, estrategista do Santander Asset Management. A instituição oferece dois tipos de fundo "offshore", um de ações e outro de renda fixa.
Silvério diz que um investidor que entrar, no exterior, em um fundo "offshore" de papéis brasileiros não vai pagar IOF. "Apenas se o gestor decidir trazer parte desse capital externo para adquirir, por exemplo, ações na Bolsa. Daí [esses recursos] seriam taxados com o IOF. Mas o cotista não."
Segundo profissionais do mercado, quem tem fortalecido o segmento nos últimos meses são especialmente os investidores asiáticos, que cada vez mais têm buscado aplicar em ativos brasileiros.
O aquecimento desse tipo de aplicação tem despertado a atenção dos bancos. O Bradesco, por exemplo, decidiu em outubro passado lançar dois fundos "offshore". A partir de Luxemburgo, esses fundos são oferecidos a investidores de varejo e institucionais.

Investidores brasileiros
Rodrigo Felippe Afonso, gerente de distribuição da BBDTVM (Banco do Brasil), diz que, diferentemente do que se imagina, há investidores brasileiros em fundos "offshore". "Mas são clientes que já têm recursos lá fora, que estão estabelecidos no exterior. É o caso de empresas que têm subsidiárias lá fora, que geram recursos no exterior e que optam por aplicar em um fundo com papéis brasileiros, mas sem ter que trazer o capital para cá."
O patrimônio dos fundos "offshore" representa hoje 3,5% do total do mercado brasileiro. Há um ano, esse percentual estava próximo de 2%.
O aumento da tensão e da aversão ao risco no mercado internacional na semana passada levantou o temor de que os estrangeiros podem voltar a retrair suas aplicações nos emergentes. Na última quarta, quando a China voltou a preocupar o mercado, saíram líquidos da Bolsa brasileira quase R$ 500 milhões em capital externo. "Mas ainda é cedo para começarmos a temer uma fuga do risco, como houve em 2008. Ainda há muito dinheiro em circulação no mercado internacional e, no médio prazo, papéis do Brasil devem seguir como diversificação importante para os investidores estrangeiros", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, da KNA Consultores.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Fundos no Brasil reservam parte da carteira ao mercado externo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.