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OPINIÃO ECONÔMICA
Chiliques
BENJAMIN STEINBRUCH
É estranho observar o impacto da crise provocada pelas denúncias que atingiram um
ex-assessor da Casa Civil. Na primeira semana após as denúncias,
o mercado financeiro sofreu um
baque. Acionistas venderam
ações, refugiaram-se em aplicações que consideram mais seguras
e derrubaram as cotações na Bolsa de São Paulo. O dólar e o risco
Brasil subiram, e até os juros de
mercado ficaram mais altos, com
impacto no custo da dívida pública.
Há razões objetivas para tudo
isso? A resposta é obviamente
"não" se os fatos forem analisados com maturidade. Primeiro,
não se deve prejulgar ninguém, e
constitui desonestidade agir de
forma oportunista para tirar vantagem política de um fato cuja
responsabilidade não foi apurada. Segundo, essa não é a primeira crise com a qual o Brasil tem de
conviver. Já passamos por muitas,
e outras certamente virão. Terceiro, o caminho traçado pelo governo Lula é correto em linhas gerais, com alguns desvios pontuais,
e não há razão para achar que o
país vai cair no primeiro tropeço.
Ninguém pode ser contra a apuração de responsabilidades em
denúncias dessa natureza, seja
por meio de Comissões Parlamentares de Inquérito, seja pelas
vias normais do combate ao crime. CPIs, por sua teórica independência em relação a governos,
são instrumento eficiente para investigação. Mas elas também servem -e isso já presenciamos à
exaustão no passado- de holofote para iluminar políticos em busca de estrelato. Além disso, costumam criar um clima em que normalmente são relegados a segundo plano os debates legislativos de
alterações vitais no âmbito social
e na economia.
Investigar crimes que possam
ter sido cometidos pelo ex-assessor da Casa Civil e outros funcionários públicos que com ele se relacionavam é, portanto, uma
obrigação. O Brasil, porém, precisa continuar no caminho traçado, e a tarefa de manter esse movimento deve ser de todos: do presidente Lula, dos ministros de Estado, dos deputados e senadores,
dos funcionários públicos, dos
empresários, dos trabalhadores e
dos brasileiros em geral.
O Brasil precisa continuar a seguir seu caminho cuidando de
coisas objetivas, que valem a pena
enumerar:
1) baixando os juros, porque a
inflação está visivelmente em
queda e não haverá crescimento
razoável de produção e de emprego enquanto as taxas reais estiverem no nível atual;
2) complementando as reformas tributária e da Previdência;
3) reduzindo impostos para atividades específicas a fim de estimular o emprego, como no caso
da Cofins para alguns setores, tal
qual prometeu o ministro Antonio Palocci Filho;
4) iniciando a discussão da reforma trabalhista no Congresso,
para mudar legislações que tolhem a competitividade da empresa brasileira e colaboram para
reduzir a oferta de emprego formal;
5) aprovando a lei sobre PPPs
(Parcerias Público-Privadas), que
podem ajudar a impulsionar investimentos em infra-estrutura;
6) votando e aprovando a nova
Lei de Falências, vital para ajudar a reduzir "spreads" bancários
e custos financeiros das empresas;
7) discutindo a necessária reforma política.
Em horas como esta, pessoas
responsáveis têm a obrigação de
deixar de lado diferenças ideológicas e tentações de ganhos políticos para tomar uma atitude pró-Brasil. Se as denúncias não forem
comprovadas, ótimo. Se forem,
que os culpados sejam punidos na
forma da lei. Independentemente
de pessoas, temos de estar preparados para que o país não se desvie do caminho traçado, que é o
da estabilidade, do crescimento
econômico, da criação de empregos e do bem-estar dos brasileiros.
Chiliques, impropérios, exageros retóricos e maledicências, venham de que lado vierem, não
ajudam em nada. Maturidade e
serenidade, estas, sim, são virtudes necessárias na vida normal e
indispensáveis em momentos como este.
Bom fim de Carnaval a todos.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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