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HAMISH MCRAE
Internet e o poder do consumidor
Com a internet, temos
a capacidade de procurar bons negócios e comparar
qualidade além de preços
EM TEORIA, é isso que deveria
acontecer -mas é bom saber
que está de fato acontecendo.
Em teoria, o desenvolvimento da
internet é imensamente democrático. Dá a todos nós acesso a um conhecimento que, uma década atrás,
teria requerido o departamento de
pesquisa de uma multinacional.
Mas demora um pouco para que as
pessoas descubram como usar novas tecnologias e para que os serviços distribuídos por meio dessas
tecnologias se desenvolvam. E-mail,
banda larga, Google, eBay, YouTube,
Skype e diversos outros empreendimentos estão alterando o balanço de
poder entre os indivíduos, de um lado, e o Estado e as grandes empresas, do outro.
Os últimos dias ofereceram diversos exemplos dessa virada no balanço de poder no Reino Unido. A capacidade dos consumidores para comparar os preços do gás se combinou à
liberalização do mercado para permitir que optássemos pelo fornecedor que oferece o melhor negócio,
algo que a Centrica (empresa de
energia do Reino Unido) está pagando caro por descobrir. O poder da rede deu aos correntistas dos bancos a
confiança necessária a questionar
tarifas e o mecanismo necessário
para que o façam. O acesso fácil ao e-mail permitiu que 1,8 milhão de pessoas protestasse ao primeiro-ministro, Tony Blair, sobre o custo dos pedágios. Os times de futebol tiveram
de reduzir os preços de seus ingressos. E assim por diante.
Essa virada na distribuição do poder não aconteceu apenas devido à
tecnologia; surgiu em parte devido a
uma revolução mais ampla no mercado. Haveria menos utilidade em
poder comparar os preços do gás se,
como em muitos países, não fosse
possível trocar de fornecedor. Mas,
mesmo que exista uma empresa
monopolista de um lado da equação,
o simples fato de que os indivíduos
tenham acesso a informações globais muda o balanço de poder entre
pessoas e instituições.
Ainda estamos nos estágios iniciais dessa virada, de modo que o
que presenciamos até o momento
apenas prenuncia o futuro. Mas já é
possível avaliar algumas das conseqüências, a maioria das quais -embora nem todas- bastante encorajadoras.
Uma delas é o crescimento sustentado no poder do consumidor. Já
temos a capacidade de procurar
bons negócios e comparar qualidade
além de preços, mas o processo é demorado e os maus fornecedores
nem sempre são punidos de imediato. No futuro, serão, o que forçará
uma elevação ainda maior na qualidade dos produtos e serviços.
Uma segunda é o declínio no poder dos especialistas. Por exemplo,
as receitas dos médicos podem ser
verificadas em termos de eficiência
-e verificadas em nível mundial,
não só em um país. A incompetência
pode ser localizada, desafiada e punida.
Uma terceira é o declínio no poder
dos políticos ou, mais precisamente,
pressão adicional para que eles façam o que os eleitores desejam, em
lugar de seguirem suas preferências
ideológicas pessoais.
Por outro lado, os benefícios dessa
"democracia da internet" só se aplicam aos indivíduos com nível de
educação suficiente para aproveitá-los. Temos de ter acesso, é claro, mas
também é preciso que saibamos
usar o fluxo de informações ora disponível. Como no caso de todos os
avanços, e o que estamos vivendo é
imenso, há pessoas que ficam para
trás. A sociedade também precisa
cuidar delas.
HAMISH MCRAE é colunista do "Independent", jornal em
que este texto foi publicado originalmente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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