São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banco Central faz compra recorde de dólar

Neste mês, valor adquirido no mercado já supera US$ 6,9 bi; apesar disso, cotação da moeda americana segue abaixo de R$ 2,10

BC diz que atua apenas para recompor reservas do país em moeda estrangeira; montante acumulado chega perto de US$ 100 bi


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As compras de dólares feitas pelo Banco Central no mercado de câmbio devem bater recorde neste mês pela segunda vez consecutiva. Dados preliminares divulgados ontem mostram que, até a última quinta-feira, essas aquisições já haviam chegado a cerca de US$ 6,9 bilhões.
Em janeiro, o BC já havia comprado US$ 4,8 bilhões, maior valor já registrado em um único mês desde que entrou em vigor o atual regime de câmbio flutuante, em janeiro de 1999. As intervenções se intensificaram neste mês, embora não tenham sido suficientes para evitar que a cotação do dólar ficasse abaixo de R$ 2,10.
Ontem o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, evitou dar detalhes sobre a atuação no câmbio. "As compras seguem os princípios estabelecidos em janeiro de 2004", afirmou, referindo-se à data em que o BC anunciou que começaria a comprar dólares para reforçar as reservas em moeda estrangeira do país.
Na ocasião, diretores do BC afirmavam que as compras só seriam feitas em volumes que não afetassem, de forma significativa, a cotação da moeda americana e só seriam feitas quando as condições de mercado se mostrassem favoráveis.
De lá para cá, o BC já comprou quase US$ 70 bilhões no mercado -já incluindo as operações deste mês-, o que fez as reservas internacionais subirem para US$ 98,2 bilhões -saldo apurado anteontem.
A valorização do real é alvo de críticas, pois prejudicaria as exportações de alguns setores empresariais, principalmente na indústria, o que dificultaria o processo de retomada do crescimento da economia.
Por isso, o BC tem sofrido críticas à sua política cambial. Alguns dizem que são os juros altos que atraem um volume excessivo de capital externo para o mercado brasileiro, o que valoriza excessivamente o real.
Além disso, os juros também aumentam o custo de manutenção das reservas internacionais. Isso porque, para comprar os dólares no mercado, o BC obtém reais tomando empréstimos no mercado interno, por meio da venda de títulos públicos. Esses títulos, por sua vez, têm rendimento próximo da taxa Selic, hoje em 13% ao ano.
Seguindo esse raciocínio, o BC teria que reduzir os juros de forma mais acelerada, pois a simples compra de dólares, além de não produzir o efeito desejado sobre a taxa de câmbio, também traria custos muito elevados para o governo.
O argumento do BC, porém, é que a manutenção de um volume grande de reservas internacionais funciona como uma espécie de seguro para o país, pois ajuda a proteger a economia de eventuais crises externas.
"O dólar flutuante é a melhor maneira de se trabalhar com o câmbio", afirmou ontem o presidente do BC, Henrique Meirelles. (NEY HAYASHI DA CRUZ)

Texto Anterior: Hamish Mcrae: Internet e o poder do consumidor
Próximo Texto: Análise: Juro alto ajuda a trazer dólares ao país
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.