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Banco Central faz compra recorde de dólar
Neste mês, valor adquirido no mercado já supera US$ 6,9 bi; apesar disso, cotação da moeda americana segue abaixo de R$ 2,10
BC diz que atua apenas para recompor reservas do país em moeda estrangeira; montante acumulado
chega perto de US$ 100 bi
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As compras de dólares feitas
pelo Banco Central no mercado
de câmbio devem bater recorde
neste mês pela segunda vez
consecutiva. Dados preliminares divulgados ontem mostram
que, até a última quinta-feira,
essas aquisições já haviam chegado a cerca de US$ 6,9 bilhões.
Em janeiro, o BC já havia
comprado US$ 4,8 bilhões,
maior valor já registrado em
um único mês desde que entrou em vigor o atual regime de
câmbio flutuante, em janeiro
de 1999. As intervenções se intensificaram neste mês, embora não tenham sido suficientes
para evitar que a cotação do dólar ficasse abaixo de R$ 2,10.
Ontem o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, evitou dar detalhes
sobre a atuação no câmbio. "As
compras seguem os princípios
estabelecidos em janeiro de
2004", afirmou, referindo-se à
data em que o BC anunciou que
começaria a comprar dólares
para reforçar as reservas em
moeda estrangeira do país.
Na ocasião, diretores do BC
afirmavam que as compras só
seriam feitas em volumes que
não afetassem, de forma significativa, a cotação da moeda
americana e só seriam feitas
quando as condições de mercado se mostrassem favoráveis.
De lá para cá, o BC já comprou quase US$ 70 bilhões no
mercado -já incluindo as operações deste mês-, o que fez as
reservas internacionais subirem para US$ 98,2 bilhões
-saldo apurado anteontem.
A valorização do real é alvo
de críticas, pois prejudicaria as
exportações de alguns setores
empresariais, principalmente
na indústria, o que dificultaria
o processo de retomada do
crescimento da economia.
Por isso, o BC tem sofrido críticas à sua política cambial. Alguns dizem que são os juros altos que atraem um volume excessivo de capital externo para
o mercado brasileiro, o que valoriza excessivamente o real.
Além disso, os juros também
aumentam o custo de manutenção das reservas internacionais. Isso porque, para comprar
os dólares no mercado, o BC
obtém reais tomando empréstimos no mercado interno, por
meio da venda de títulos públicos. Esses títulos, por sua vez,
têm rendimento próximo da
taxa Selic, hoje em 13% ao ano.
Seguindo esse raciocínio, o
BC teria que reduzir os juros de
forma mais acelerada, pois a
simples compra de dólares,
além de não produzir o efeito
desejado sobre a taxa de câmbio, também traria custos muito elevados para o governo.
O argumento do BC, porém, é
que a manutenção de um volume grande de reservas internacionais funciona como uma espécie de seguro para o país, pois
ajuda a proteger a economia de
eventuais crises externas.
"O dólar flutuante é a melhor
maneira de se trabalhar com o
câmbio", afirmou ontem o presidente do BC, Henrique Meirelles.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)
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