São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Comércio e nordestinos chineses


Alta nas vendas no varejo tornou-se mais uniforme pelo país em 2007, ao contrário do 2006 de boom no Nordeste

O ANO DE 2006 havia sido "chinês" para os mais pobres e o Nordeste. Mas renda e economia cresciam pouco na média nacional; a metade menos pobre do país mal via o salário melhorar após uma década. A julgar pelo balanço do comércio em 2007, a particularidade chinesa do Nordeste acabou.
As taxas de crescimento das vendas do comércio em cada Estado estão mais próximas umas das outras. Caiu a dispersão, uma medida da diferença do crescimento do comércio de cada Estado em relação à média nacional (vendas nominais). Caiu para o menor valor desde 2001, desde quando há dados comparáveis no IBGE. O ano de eleição de 2006 foi o das diferenças mais acentuadas.
Em 2006, o aumento das vendas nos Estados do Nordeste foi, na média sem ponderação, o dobro (cerca de 10%) do resultado de São Paulo. Em 2007, o comércio paulista foi dos que mais cresceram. Subiu 12,5% em volume, contra 9,6% no Brasil, superando os Estados do Nordeste afora Alagoas e Maranhão, ainda "pontos fora da curva". Como o ano foi o melhor da série, quase todo mundo ganhou. Dados os primeiros indícios, é provável que também a renda dos mais ricos pelo país tenha se recuperado. O crescimento parece se espraiar entre classes e regiões.
Aparentemente, o impacto distributivo regional do grande incremento de transferências sociais não se perpetuou, a depender ao menos das vendas do comércio. Mas será preciso esperar a Pnad, no final do ano, a fim de precisar as diferenças regionais e de classes de renda. A hipótese sobre o que ocorreu entre 2005 e 2006 no Nordeste e com os mais pobres é conhecida: mais transferências federais, mais salário mínimo, grande evolução dos benefícios sociais. No Sudeste, a fatia da renda que vinha do trabalho em 2006 era quase a mesma de 2001 entre os 50% mais pobres. No Nordeste, a renda do trabalho era 74% da renda do décimo mais pobre da população em 2001; caiu a 49% em 2006. Entre o restante da metade mais pobre, a fatia do trabalho na renda caiu de cinco a dez pontos percentuais no período. O salário não baixou: a renda ficou mais gorda de benefícios sociais. Ainda assim, as transferências não explicam tudo.
O crescimento do comércio em 2007 deveu-se principalmente à queda do juro real (que pouca influência tivera em 2006), superando a contribuição de salário e crédito, que tiveram pesos semelhantes nos dois anos, na conta de economistas do Itaú. O banco prevê aumento de 7,6% para o comércio em 2008. Bom, mas desacelerando devido à provável estagnação dos juros.
A massa salarial ainda crescerá, menos que em 2007, com mais emprego formal. Os novos empregos pagam pouco, porém. Não deve haver impulso na renda dos mais pobres por meio de reajustes fortes de salário mínimo e benefícios sociais. De onde viria o impulso adicional para a redução da desigualdade?

vinit@uol.com.br


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