|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Parmalat pede inquérito contra ex-coligadas
Empresa afirma que Carital e Zircônia, que faziam parte da antiga gestão, agem para prejudicar recuperação judicial
Atual controlador diz
que empresas atrapalharam a venda da Duchen; procuradas, Carital e Zircônia não se pronunciam
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Parmalat Brasil, controlada pelo fundo Laep Investments, pediu a abertura de dois
inquéritos policiais para esclarecimento de atos praticados
por empresas coligadas à antiga
Parmalat, que estariam prejudicando a nova gestão.
Segundo a Parmalat Brasil,
Carital Brasil e Zircônia Participações, que faziam parte do
confuso emaranhado societário da antiga Parmalat, agiram
para prejudicar sua recuperação judicial.
Procurado pela Folha, Francisco Mungioli, presidente da
Carital, afirmou, por meio de
sua secretária, ter sido orientado por advogados a não se pronunciar. Carlos Padeti, presidente da Zircônia, não respondeu a pedidos de entrevista.
No primeiro inquérito, que
corre no 15º Distrito Policial de
São Paulo, a Laep afirma que a
Carital e a Zircônia atrapalharam a venda da Duchen à Perdigão, com o objetivo de obter
eventual vantagem comercial.
Isso porque elas enviaram cartas à Perdigão e à Laep, durante
as negociações, dizendo que
eram donas da marca Duchen.
O segundo inquérito, aberto
a pedido da 2ª Promotoria de
Justiça Criminal da Capital, está sendo apurado pelo 4º Distrito Policial. Nele, a Parmalat
Brasil afirma que Carital e Zircônia reconheciam obrigações
em processos judiciais e imputavam à companhia a responsabilidade pelo pagamento.
"Isso significa que alguém
pode estar se locupletando,
principalmente se os créditos
pleiteados não forem verdadeiros", afirma Antônio Sérgio de
Moraes Pitombo, da Moraes
Pitombo Advogados, que representa o Laep nos inquéritos.
Mungioli e Padeti também
abriram ações contra Carital e
Zircônia, das quais ainda são
executivos e sócios, pedindo
seus direitos trabalhistas.
Reclamaram ainda responsabilidade solidária da Parmalat Brasil nas ações e encaminharam notificações à empresa, para que ela arcasse com os
custos de defesa. Em depoimento, Mungioli disse que a reclamação trabalhista tem valor
estimado de R$ 8 milhões.
Segundo advogados que trabalharam para a Parmalat e pedem para não serem identificados, a estratégia do Laep, com a
abertura dos inquéritos, é tentar se proteger de sucessões de
processos trabalhistas e tributários da antiga Parmalat.
Para um deles, a Carital e a
Zircônia sempre foram "fantasmas assombrando a recuperação da empresa".
No prospecto para a oferta
inicial de ações feita pelo Laep
em 2007, o fundo destacava
que a Parmalat Brasil havia sido considerada "responsável
solidária" numa dívida de R$
3,4 bilhões referente a autuações recebidas por Zircônia,
Carital e PPL Participações.
A empresa, porém, já havia
recorrido e, em sentenças semelhantes anteriores, recebido
decisões favoráveis.
Condutas ilícitas
Pitombo diz, no entanto, que
o motivo da abertura dos inquéritos foi tentar barrar condutas ilícitas, que ameaçavam a
recuperação judicial.
"A grande mudança trazida
pela recuperação judicial foi
permitir, por meio do esforço
coletivo, preservar a existência
da empresa", diz Pitombo. "Carital e Zircônia tentaram prejudicar a Parmalat, o que poderia
resultar em fechamento de fábricas e demissões."
No inquérito que apura as reclamações referentes à venda
da Duchen, Mungioli apresentou cópias do livro contábil de
2001 da Zircônia, no qual há
ativos referentes à compra de
marcas da Wishaw Trading, outra empresa ligada à antiga Parmalat, com sede no Uruguai.
Há ainda a cópia de um contrato de cessão de marcas de
2001, no qual a Wishaw vende à
Zircônia 59 marcas da Parmalat, por US$ 87 milhões. No documento, são elencadas Duchen, Grisbi, Mineirinho, Ouro
Branco e outras.
Carlos Monteiro, ex-diretor
da Parmalat, assina o documento na venda pela Wishaw e
na compra pela Zircônia.
Numa das cartas enviadas à
Laep e à Perdigão, Mungioli escreve que o fato era conhecido e
que ocorreram reuniões e troca
de correspondências com os
administradores e advogados
responsáveis pela recuperação
judicial da Parmalat. "Numa
delas, ocorrida em 2004, foi solicitado ao grupo Carital que
não alienasse as marcas de sua
titularidade. Tal pedido foi
atendido", escreveu Mungioli.
Em seu depoimento à polícia,
Mungioli diz que, apesar de a
marca Duchen aparecer nos livros contábeis da Zircônia desde 2001, a transferência de domínio no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)
só foi pedida em 2007.
O registro da marca Duchen
no Inpi aparece transferido de
Parmalat Indústria e Comércio
para Parmalat Brasil, em 2007.
"Quando foi comprada na recuperação judicial, todos os ativos vieram com a empresa",
afirma Julio Mandel, que representa a Parmalat Alimentos
na recuperação judicial.
Marcus Elias, presidente da
Parmalat Brasil e do Laep, diz,
em carta à Carital, que o desconhecimento dos fatos por Carital e Zircônia é gravíssimo e "ou
é intencional, resvalando para a
má-fé, ou de negligência".
Segundo Mandel, outras
ações trabalhistas, como as impetradas por Mungioli e Padeti,
não foram consideradas de responsabilidade da Parmalat.
De todo modo, a ação trabalhista de Mungioli foi considerada improcedente em primeira instância e a de Padeti foi extinta em janeiro.
Texto Anterior: Empurrada por governos, dívida só tende a crescer com o acréscimo de juros Próximo Texto: Frase Índice
|