São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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Herdeiro da Toyota "rala" e mira o topo

Neto do fundador começou na montadora como trainee e, após dez anos como piloto, chorou a 240 km/h em corrida

Executivo iniciou sua carreira em estágio na administração, trabalhou na linha de montagem e foi vendedor de carros em lojas

Koji Sasahara - 4.out.07/Associated Press
Cotado para presidir a Toyota, o vice-presidente-executivo, Akio Toyoda, ao lado do Lexus IS no autódromo de Oyama, em Tóquio

MICHELINE MAYNARD
DO "NEW YORK TIMES", EM TOYOTA CITY, JAPÃO

Um busto do fundador Kiichiro Toyoda saúda os visitantes que chegam à sede da Toyota em Toyota City, Japão.
Num dos andares superiores da torre envidraçada, outro Toyoda -o neto e sósia de Kiichiro, Akio- encara tarefas que podem lhe dar um lugar ao lado de seu antepassado.
Executivos da Toyota e também especialistas que acompanham os acontecimentos na empresa prevêem que Akio Toyoda, 51, vai se tornar seu próximo presidente quando Katsuaki Watanabe, 66, aposentar-se. E Toyoda está se preparando para essa possibilidade de uma maneira que seu avô talvez não tivesse previsto.
Em junho passado, ele vestiu um uniforme branco de piloto e passou quatro horas na direção de um Lexus IS 300 na corrida de 24 horas no célebre circuito alemão de Nürburgring.
Orientado pelo piloto-chefe da equipe, pilotou no meio de outros 250 carros, levando o Lexus modificado a velocidades superiores a 240 km/h na reta do circuito. Durante a última hora que passou na corrida, lágrimas escorriam por seu rosto, recordou Toyoda em rara entrevista concedida em Toyota City na semana passada.
As lágrimas não se deviam apenas ao estresse da competição, mas à emoção de ter alcançado mais uma meta em sua jornada para compreender a montadora fundada pela família -uma jornada que exigiu dez anos de treinos mensais pilotando carros de corrida. "Se eu quero comandar a empresa, quero ser o proprietário-chefe", disse ele -com conhecimento não apenas dos veículos da empresa mas também dos ingredientes deles. "Eu provo meu carro. Se o sabor é bom, eu o forneço ao cliente."
Presidir a Toyota pode parecer ser um direito natural e inato de Akio Toyoda, mas não é algo garantido. A família Toyoda, que fundou a montadora em 1937 como subproduto de sua companhia de teares automatizados, atualmente controla menos de 1% de suas ações.
De acordo com James P. Womack, especialista em eficiência manufatureira e observador de longa data da Toyota, "se Akio vai ou não chegar ao cargo mais alto, vai depender das circunstâncias. Não há nada de inevitável no retorno de um Toyoda a essa posição".
Se chegar lá, Akio Toyoda pode enfrentar comparações difíceis com o pai, Shoichiro Toyoda, 83, que presidiu a empresa de 1982 a 1992 e hoje é presidente honorário do conselho. Sob a direção do pai de Akio, a Toyota livrou-se do rótulo de exportadora japonesa, construiu fábricas nos Estados Unidos e na Europa e iniciou uma campanha lenta e constante de aumento de suas vendas.
Quando seu pai se aposentou, Akio foi considerado jovem demais para tomar seu lugar, e, desde então, a Toyota foi comandada por três executivos sucessivos vindos de fora da empresa: Hiroshi Okuda, Fujio Cho (atual presidente do conselho) e Katsuaki Watanabe. Toyoda entrou para a empresa em 1984 como trainee administrativo, tendo passado períodos na linha de montagem e nas vendas de automóveis, exatamente como os outros recém-contratados.
Além disso, ele presidiu o controle de produção da New United Motor Manufacturing, a joint venture Toyota-General Motors na Califórnia. Depois, ajudou a Toyota a sair de uma joint venture fracassada na China e a criar outra com a First Automotive Works, cujas vendas vêm subindo rapidamente desde 2003.
Hoje, Toyoda dirige as operações de vendas no Japão, onde as vendas estagnadas de automóveis fizeram o país perder para os EUA a posição de maior mercado da Toyota.

É preciso gostar
Indagado se aperfeiçoou o conhecimento sobre os carros para se tornar presidente, Toyoda disse que a experiência diversificada que acumula não se deveu apenas a isso. "Quem trabalha no setor precisa gostar de automobilismo."
Ele declarou que só o que falta em seu currículo é um período passado no desenvolvimento de produtos. Indagado se desejaria ter se tornado engenheiro, respondeu, sorrindo: "Não, não, não. Não tenho inteligência suficiente para isso".
Ele se diplomou em direito pela Universidade Keio, no Japão, e obteve MBA do Babson College, em Boston. Em seguida, mudou-se para Nova York para trabalhar como banqueiro de investimentos na A.G. Becker (hoje do Merrill Lynch). Depois, entrou para a consultoria Booz Allen Hamilton. Em 1984, perguntou a seu pai se deveria entrar para a Toyota.
"Ninguém quer ser seu chefe", disse Toyoda, pai, segundo seu filho (o pai recusou pedidos de entrevista). "A Toyota não precisa de você. Se você quiser trabalhar aqui, siga o caminho normal" -ou seja, começar como trainee administrativo.
O nome de Toyoda ajudou a lhe garantir uma ascensão fácil que o levou a se tornar o mais jovem membro do conselho da Toyota, em 2000.
Em 2005, Toyoda foi promovido ao alto cargo de vice-presidente-executivo. Além de querer evitar a impressão de favorecimento, Akio disse que a atitude pouco paternalista de seu pai se deve ao fato de este ter perdido seu próprio pai, Kiichiro, em 1952, quando ainda não tinha 30 anos.


Tradução de CLARA ALLAIN


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