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Socorro ao Citi pode levar à estatização
Governo dos EUA diz que pode exigir participação com direito a voto em bancos que não resistirem a aprofundamento da crise
Administração Obama fará teste com principais bancos; Citi pode receber mais ajuda em troca de ações com voto, e governo pode ter até 40%
Dennis Brack/Efe
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O presidente Barack Obama, e seu vice, Joseph Biden, durante a reunião na Casa Branca com governadores que tratou da crise
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
O governo dos EUA sinalizou
ontem aos maiores bancos do
país que poderá se tornar seu
principal acionista se reguladores verificarem que as instituições não suportam um aprofundamento da crise. O recado
chegou ao mesmo tempo em
que se confirmaram negociações em andamento com o Citigroup para elevar a participação do governo no grupo.
"As necessidades de capital
dos maiores bancos dos EUA
serão avaliadas sob um ambiente econômico mais desafiador", afirmaram em nota
conjunta ontem o Fed (banco
central americano), o Departamento do Tesouro e agências
reguladoras federais. "Se a avaliação indicar que uma infusão
adicional de verba é necessária", diz o comunicado, os bancos poderão ser forçados a dar
ao governo o direito de adquirir
ações ordinárias com direito de
voto em troca do socorro.
A discussão com o Citi sugere
que o governo poderá elevar o
controle na instituição dos
atuais 7,8% para até 40%, por
meio da troca de parte de suas
ações preferenciais por ações
ordinárias. O banco, o terceiro
maior dos EUA, já recebeu cerca de US$ 45 bilhões do Tesouro como parte do resgate de
US$ 700 bilhões para Wall
Street. Não haveria nova injeção de fundos com a troca.
A ideia partiu do próprio Citi.
A intenção é fortalecer o capital
da empresa, já que as ações preferenciais são essencialmente
encaradas como dívidas. Com
ações comuns, o Tesouro não
teria mais direito a uma porcentagem fixa de lucros, o que
no caso do Citi chega a US$ 2,25
bilhões por ano.
Por outro lado, a transformação diluiria as ações comuns do
banco. Seria o maior ganho de
controle do governo sobre uma
financeira desde o resgate em
setembro último da megasseguradora AIG, da qual o contribuinte detém hoje 80%.
Mesmo com o governo abocanhando menos de 50% do Citi, a medida seria vista por analistas como uma estatização de
fato. O temor é que Washington teria poder para manejar
decisões do banco com base em
sensibilidades políticas.
"O governo já tem controle
latente do Citigroup e, quando
quiser flexionar seus músculos,
fará isso. Acho que vamos ver
esse controle se tornar mais explícito", disse o consultor financeiro Bert Ely.
Testes de estresse
O Citigroup também espera
que a transformação das ações
do governo estimule outros detentores de preferenciais a fazer a troca, o que fortaleceria a
posição do banco em um índice
conhecido como TCE ("tangible common equity"). O TCE
dá peso a ações ordinárias na
avaliação de força de uma instituição.
O índice vem ganhando importância e será um dos medidores dos "testes de estresse"
que o governo fará a partir desta quarta-feira com simulações
de computador para ver se os
bancos suportariam piora dramática da economia.
Aos que fracassarem, será dada a oportunidade de buscar capital privado, escasso; se não
conseguirem, haverá venda forçada de ações ao governo.
No caso do Citi, especialistas
afirmam que a aquisição de
ações ordinárias teria efeito limitado. A conversão de preferenciais em ordinárias "ajuda
as avaliações de capital, mas
não resolve o problema dos títulos [tóxicos]", disse à Reuters
Walter Todd, da firma de investimentos Greenwood Capital
Associates LLC.
Sinais mistos
Em meio à tensão, os sinais
com relação à estatização são
mistos. O presidente-executivo
do Citigroup, Vikram Pandit,
enviou nota a funcionários do
banco para apaziguar temores
de tomada pelo governo.
"Enquanto ainda navegamos
nessa situação inédita, quero
reassegurar que continuo muito confiante nas perspectivas
do Citi e em sua posição de negócios ao redor do mundo."
A nota do Fed e do Tesouro
também disse que a "forte presunção" do governo é que "bancos devem continuar em mãos
particulares" e que qualquer
controle acionário seria apenas
temporário.
Já o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, se recusou a
descartar que a estatização dos
bancos está sob consideração
do governo. Pressionado em
entrevista coletiva, ele disse
apenas que "o presidente Barack Obama acredita hoje que
deixar o sistema financeiro em
mãos privadas é o melhor modelo". "Obviamente, há várias
movimentações no plano de estabilização do sistema financeiro", afirmou.
Com a especulação, as Bolsas
fecharam em forte queda ontem -o Dow Jones chegou ao
pior resultado em 12 anos. As
ações dos bancos, porém, tiveram leve melhora. O Citigroup
fechou em alta de 9,7%, em US$
2,14, depois de chegar a US$
2,48 à tarde. O Bank of America
teve alta de 3,7% e fechou em
US$ 3,91, depois de dizer que
não precisaria de mais ajuda do
governo por enquanto.
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