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SOCIAIS & CIA.
Demissão se torna dilema para empresa "responsável"
Programas visam recolocar pessoas dispensadas no mercado de trabalho
Para diretor de consultoria, companhias erram em oferecer treinamento e qualificação para grupo
de funcionários demitidos
ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O atual estágio da crise financeira global, caracterizado pelos efeitos sobre o lado real da
economia, vem gerando um novo dilema para as empresas que
se denominam socialmente
responsáveis: lidar com as demissões coletivas.
O tema é controverso. É socialmente responsável, por
exemplo, a empresa que demite
seus funcionários apenas para
alcançar determinada meta de
crescimento nos lucros?
E aquela que demite para poder continuar sobrevivendo,
garantindo dessa forma emprego e renda dos trabalhadores
que ficam?
De um lado, centrais sindicais -e setores do governo no
Brasil e no exterior- alegam
que, após tantos anos de resultados positivos e crescentes nas
empresas, não parece justo que
os empregados paguem a conta
da crise.
Os empresários, por sua vez,
argumentam que demitir é custoso sob todos os aspectos, mas
que, em alguns casos, é impossível fazer os ajustes necessários sem esse tipo de medida.
Como pano de fundo, um cenário sombrio para o emprego
no mundo. Na previsão mais
pessimista, fala-se de até 50 milhões de novos desempregados
no planeta até o fim deste ano,
desde o agravamento da crise,
em setembro passado. No Brasil, demissões coletivas em
grandes empresas são cada vez
com mais frequentes.
Some-se a isso a importância
crescente do tema da responsabilidade social no mundo corporativo e o quanto isso foi
alardeado ao público nos últimos anos, via marketing e propaganda. Entre os principais
conceitos da responsabilidade
social empresarial, está justamente o modo como uma empresa se relaciona com os seus
diferentes públicos, entre os
quais os seus próprios funcionários.
"Essa é uma discussão bastante delicada e repleta de
nuances. De qualquer forma,
parece óbvio que uma empresa
que se denomine socialmente
responsável não pode fazê-lo
somente nos momentos de bonança. Pelo contrário: é nos
momentos de crise que elas
mostram o quanto realmente
incorporaram alguns desses
conceitos. E isso vale para o
modo como elas tratam suas
questões trabalhistas", afirma
Flávia Moraes, diretora da
FCM Consultoria em Sustentabilidade.
Segundo especialistas consultados pela Folha, a demissão coletiva deve ser encarada
pelo empresário como última
opção, mesmo dentro de um
quadro de crise. Antes disso,
existem outras alternativas
-como férias coletivas, redução da jornada de trabalho e até
redução dos salários em troca
da garantia do emprego.
"A maior responsabilidade
social do empresário é manter
o emprego de seus funcionários. E, se não puder fazê-lo, a
demissão tem de ser extremamente cautelosa, com uma comunicação transparente, o que
infelizmente muitas vezes não
acontece", afirma Eliane Belfort, diretora do Comitê de
Responsabilidade Social da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"É importante que o empresário não pense na demissão apenas como uma redução de custos imediata, pois o impacto
que um processo desses tem no
clima organizacional e na própria produtividade da empresa
é sempre muito significativo."
Programa
Se um processo de dispensa é
inevitável, há maneiras responsáveis de fazê-lo. Algumas empresas, por exemplo, adotam
programas de "demissão responsável", um conceito herdado da legislação europeia, no
qual as empresas, em caso de
demissões coletivas motivadas
por motivos econômicos (crises, fusões, aquisições), apoiam
e estruturam planos de recolocação dos empregados demitidos no mercado de trabalho.
"Não se trata de 'outplacement", que é um benefício estendido aos altos executivos
das empresas para se recolocarem, mas sim de estruturar e
incentivar células de emprego
para a base da pirâmide", diz
Gilberto Guimarães, diretor da
BPI (Business & People Integration), consultoria especializada em recolocação de profissionais dentro desse conceito.
"Tenho visto muitas empresas
optando por dar treinamento,
mas o fato é que o trabalhador
demitido não quer treinamento, ele quer emprego. Treinamento e qualificação a empresa
tem de dar para quem está empregado", afirma.
Prova do momento delicado
envolvendo o assunto: nenhuma das 11 empresas procuradas
pela reportagem da Folha quis
detalhar seus projetos de demissão responsável, mesmo
tendo publicamente assumido
esse tipo de programa na sua
gestão de pessoal.
Na maior parte dos casos, a
alegação da empresa foi a de
que, em meio a uma delicada
discussão envolvendo centrais
sindicais, entidades representativas das empresas e governo
federal, na qual as demissões
ocupam papel central, era melhor não haver manifestação
pública sobre o assunto.
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