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OPINIÃO ECONÔMICA
Um teste importante
para o real
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A economia brasileira está
hoje definitivamente integrada nesse grande mundo que se
convencionou chamar "economia
globalizada". Nunca na história
da humanidade as economias estiveram tão interligadas como
agora. No período anterior à Primeira Guerra Mundial a integração era grande, em alguns aspectos até maior (não havia barreiras à movimentação de mão-de-obra, por exemplo). Mas, nas
questões financeiras, não há paralelo com o arranjo atual, em
que os ativos financeiros respondem de forma instantânea às novas informações.
Como o número de economias é
muito grande, elas são agrupadas
em unidades com uma maior homogeneidade entre si. Assim os
Estados Unidos, a Europa unida e
o Japão formam o G3. Outro grupo é formado pelas economias
asiáticas (menos Japão), tais como Coréia, Taiwan e China. Há
ainda os "emergentes" (incluindo
países asiáticos), que podem ser
divididos em grupos menores em
razão das características de suas
economias. Por fim, há classificações que podem abarcar países
desenvolvidos e "emergentes" em
razão, por exemplo, da importância de suas exportações de commodities. Nesse último subgrupo
estão países tão díspares como
Austrália, África do Sul, Chile,
Brasil, entre outros.
A partir daí os mercados definem os preços dos ativos de cada
um em função de uma leitura sobre o estado da economia mundial e de cada grupo específico.
Assim, se há uma leitura de que
os preços das ações de um determinado grupo devem subir, os investidores compram uma carteira
diversificada nos vários mercados
dentro desse grupo. O mesmo
ocorre com títulos da dívida externa de países emergentes denominados em alguma moeda forte
(dólar, euro e iene) e, mais recentemente, com títulos locais desses
países denominados nas respectivas moedas nacionais. Essas últimas, por sua vez, também fazem
parte do universo de investimentos.
Há alguns meses os mercados
identificaram como uma boa alternativa de investimentos a troca de dólares pelas moedas nacionais dos países exportadores de
commodities, entre eles o Brasil.
Os preços elevados desses produtos estavam (e ainda estão) gerando saldos comerciais crescentes nessas economias, criando
com isso condições favoráveis para a valorização dessas moedas e
atraindo capitais especulativos
que reforçaram essa tendência.
No Brasil, a atração adicional dos
juros altos tornou o real o campeão de valorização. Ao longo
desse processo, mesclaram-se fundamentos econômicos com demanda especulativa, inclusive
trazendo para o jogo moedas de
países com situação mais frágil,
na forma de expressivos déficits
em conta corrente.
No entanto, ao longo de março
houve uma incipiente inversão
nesse movimento especulativo,
em razão da expectativa de um
aumento mais rápido dos juros
no chamado G3, que poderia reduzir o movimento financeiro em
direção a economias mais exóticas. Em um primeiro momento o
real ameaçou ser arrastado nesse
movimento de redução de risco.
Nos mercados de derivativos
ocorreu uma redução de mais de
US$ 5 bilhões de apostas no fortalecimento de nossa moeda. Mas
essa pressão foi contrabalançada
pela entrada de divisas a partir
do saldo de nossa balança comercial e dos investimentos estrangeiros diretos: o saldo comercial continua acima de US$ 45 bilhões
nos últimos 12 meses e o investimento estrangeiro ficou próximo
a US$ 16 bilhões no mesmo período.
O resultado foi uma pequena
desvalorização do real, próxima a
1%, acumulada nas três primeiras semanas de março. O Banco
Central aproveitou de maneira
eficiente essa ocasião e reduziu
significativamente suas compras
de dólares no mercado. O ponto
fundamental é que nossa moeda
passou neste primeiro teste de sua
fase mais internacional. Foi um
teste relativamente fácil, sem dúvida, mas que serviu para mostrar aos mais incrédulos a força
de nossa balança de pagamentos.
Essa é a grande mudança que
ocorreu na nossa economia nos
últimos anos e que permite uma
atitude mais agressiva no processo de redução de juros.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 63,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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