São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009

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Plano dos EUA subsidia risco, e Bolsa dispara

Governo Obama fica com até 95% do risco e do custo do plano de US$ 1 tri para tentar limpar "papéis tóxicos" do mercado

Obama diz que "é um bom começo", e o secretário do Tesouro admite riscos; Bolsa de NY sobe 6,8%, enquanto a Bovespa ganha 5,9%


Todd Heister/"The New York Times"
O presidente Barack Obama (dir.) e o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, no anúncio do plano financeiro na Casa Branca

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Departamento do Tesouro dos EUA detalhou ontem um ambicioso plano para retirar até US$ 1 trilhão de ativos "tóxicos" do sistema bancário americano. O objetivo é limpar as carteiras de crédito dos bancos para tentar restaurar o mercado de crédito, epicentro da crise global.
Cerca de 95% do custo e do risco do programa serão assumidos pelo governo federal, e, no caso de perdas, pagos pelos contribuintes.
O valor envolvido alcança quase o tamanho do PIB anual do Brasil. Especialistas e o mercado financeiro reagiram positivamente à abrangência e detalhamento do plano. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York disparou 6,8%. A Bovespa subiu 5,9%.
Embora batizado como Programa de Investimento Público-Privado, o governo dos EUA entrará com quase todo o dinheiro e garantias a eventuais investidores que queiram participar da compra dos papéis.
A expectativa é que investidores privados paguem do próprio bolso por apenas 5% dos ativos a serem adquiridos.
Os títulos "tóxicos" são ativos resultantes de empréstimos feitos pelos bancos sem garantias reais suficientes e geralmente lastreados pelo setor imobiliário, no qual os preços das casas estão em queda livre há dois anos. Por isso, esses papéis perderam muito do seu valor, abrindo rombos gigantescos nos bancos, e não encontram preço no mercado.
Uma das principais dúvidas em relação ao programa era como determinar o valor desses ativos. O plano do Tesouro é fazer uma espécie de leilão entre investidores. Quem quiser pagar mais leva os papéis -com financiamento e garantias do governo americano.
De saída, o programa dará financiamento para a compra de US$ 500 bilhões, podendo chegar a US$ 1 trilhão. Para isso, serão utilizados inicialmente entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões de dinheiro do Tarp, plano aprovado no governo Bush para enfrentar o problema dos ativos "tóxicos".
O plano funcionaria da seguinte maneira (no caso hipotético de um volume de ativos "tóxicos" de US$ 100):
1) A FDIC, agência federal que supervisiona o sistema bancário, fará um leilão desses títulos junto a investidores privados. No leilão, o comprador mais agressivo oferece, por exemplo, US$ 84 pelos papéis;
2) A FDIC garantirá ao investidor um empréstimo subsidiado de até US$ 72;
3) Para os US$ 12 restantes, o investidor privado entrará com US$ 6, e o Departamento do Tesouro, com mais US$ 6 (de dinheiro do Tarp).
No formato do programa, portanto, cerca de 95% do risco e do financiamento são estatais. Pois, no caso de esse mesmo volume de US$ 100 em ativos (comprados por US$ 84) continuar se desvalorizando até se tornar definitivamente imprestável, o investidor privado pode simplesmente abandonar o investimento. O grande "mico" ficará com a FDIC.
No caso oposto, de valorização, todos saem ganhando. A valorização no caso desses papéis só se dará se os imóveis que estiverem por trás dos títulos voltarem a se valorizar um dia ou se, por exemplo, um mau pagador de hipotecas voltar a honrar suas dívidas.
Com sua generosa participação no programa, o governo dos EUA espera atrair para os leilões fundos de pensão, empresas de seguros e investidores de longo prazo. Ao contrário dos bancos, que já receberam recursos diretamente do Tesouro, não haverá restrição a pagamento de bônus ou a salários de executivos de fundos ou empresas que participarem do novo programa.
"Não existe nenhum dúvida de que o governo está assumindo um risco", afirmou o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, ao anunciar o programa. "Mas a questão é qual a melhor maneira de fazer isso."
Já o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que o plano é "um bom começo". "Não vai acontecer da noite para o dia, mas estamos nos movendo na direção correta", disse.


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