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Plano dos EUA subsidia risco, e Bolsa dispara
Governo Obama fica com até 95% do risco e do custo do plano de US$ 1 tri para tentar limpar "papéis tóxicos" do mercado
Obama diz que "é um bom começo", e o secretário do Tesouro admite riscos; Bolsa de NY sobe 6,8%, enquanto a Bovespa ganha 5,9%
Todd Heister/"The New York Times"
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O presidente Barack Obama (dir.) e o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, no anúncio do plano financeiro na Casa Branca
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O Departamento do Tesouro
dos EUA detalhou ontem um
ambicioso plano para retirar
até US$ 1 trilhão de ativos "tóxicos" do sistema bancário
americano. O objetivo é limpar
as carteiras de crédito dos bancos para tentar restaurar o
mercado de crédito, epicentro
da crise global.
Cerca de 95% do custo e do
risco do programa serão assumidos pelo governo federal, e,
no caso de perdas, pagos pelos
contribuintes.
O valor envolvido alcança
quase o tamanho do PIB anual
do Brasil. Especialistas e o mercado financeiro reagiram positivamente à abrangência e detalhamento do plano. O índice
Dow Jones da Bolsa de Nova
York disparou 6,8%. A Bovespa
subiu 5,9%.
Embora batizado como Programa de Investimento Público-Privado, o governo dos EUA
entrará com quase todo o dinheiro e garantias a eventuais
investidores que queiram participar da compra dos papéis.
A expectativa é que investidores privados paguem do próprio bolso por apenas 5% dos
ativos a serem adquiridos.
Os títulos "tóxicos" são ativos resultantes de empréstimos feitos pelos bancos sem garantias reais suficientes e geralmente lastreados pelo setor
imobiliário, no qual os preços
das casas estão em queda livre
há dois anos. Por isso, esses papéis perderam muito do seu valor, abrindo rombos gigantescos nos bancos, e não encontram preço no mercado.
Uma das principais dúvidas
em relação ao programa era como determinar o valor desses
ativos. O plano do Tesouro é fazer uma espécie de leilão entre
investidores. Quem quiser pagar mais leva os papéis -com
financiamento e garantias do
governo americano.
De saída, o programa dará financiamento para a compra de
US$ 500 bilhões, podendo chegar a US$ 1 trilhão. Para isso,
serão utilizados inicialmente
entre US$ 75 bilhões e US$ 100
bilhões de dinheiro do Tarp,
plano aprovado no governo
Bush para enfrentar o problema dos ativos "tóxicos".
O plano funcionaria da seguinte maneira (no caso hipotético de um volume de ativos
"tóxicos" de US$ 100):
1) A FDIC, agência federal
que supervisiona o sistema
bancário, fará um leilão desses
títulos junto a investidores privados. No leilão, o comprador
mais agressivo oferece, por
exemplo, US$ 84 pelos papéis;
2) A FDIC garantirá ao investidor um empréstimo subsidiado de até US$ 72;
3) Para os US$ 12 restantes, o
investidor privado entrará com
US$ 6, e o Departamento do
Tesouro, com mais US$ 6 (de
dinheiro do Tarp).
No formato do programa,
portanto, cerca de 95% do risco
e do financiamento são estatais. Pois, no caso de esse mesmo volume de US$ 100 em ativos (comprados por US$ 84)
continuar se desvalorizando
até se tornar definitivamente
imprestável, o investidor privado pode simplesmente abandonar o investimento. O grande
"mico" ficará com a FDIC.
No caso oposto, de valorização, todos saem ganhando. A
valorização no caso desses papéis só se dará se os imóveis que
estiverem por trás dos títulos
voltarem a se valorizar um dia
ou se, por exemplo, um mau pagador de hipotecas voltar a
honrar suas dívidas.
Com sua generosa participação no programa, o governo dos
EUA espera atrair para os leilões fundos de pensão, empresas de seguros e investidores de
longo prazo. Ao contrário dos
bancos, que já receberam recursos diretamente do Tesouro, não haverá restrição a pagamento de bônus ou a salários de
executivos de fundos ou empresas que participarem do novo programa.
"Não existe nenhum dúvida
de que o governo está assumindo um risco", afirmou o secretário do Tesouro, Timothy
Geithner, ao anunciar o programa. "Mas a questão é qual a melhor maneira de fazer isso."
Já o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que o plano é "um bom começo". "Não
vai acontecer da noite para o
dia, mas estamos nos movendo
na direção correta", disse.
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