São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2010

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Alemanha quer FMI na ajuda à Grécia

Participação do Fundo foi uma das condições impostas por Berlim para discutir um pacote de auxílio

Ideia que deve enfrentar mais resistência é a de mudar o Tratado da União Europeia para endurecer o controle das dívidas

David Gannon - 5.mar.10/France Presse
Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, e George Papandreou, primeiro-ministro da Grécia

QUENTIN PEEL, BEN HALL E JOSHUA CHAFIN
DO "FINANCIAL TIMES"

A Alemanha estipulou três condições para qualquer pacote de ajuda à Grécia, entre as quais o envolvimento do FMI (Fundo Monetário Internacional) e o compromisso de seus parceiros da União Europeia quanto à imposição de novas e duras regras de controle das dívidas e deficit públicos na zona do euro, o que envolveria alterar as cláusulas necessárias no Tratado da União Europeia.
Um importante funcionário do governo alemão, em Berlim, explicou a posição de seu governo, enquanto França e Espanha propunham uma reunião de emergência entre os 16 líderes dos países da zona do euro a ser realizada amanhã, imediatamente antes de uma conferência de cúpula de toda a União Europeia, a fim de considerar a crise grega.
Berlim insiste em que não haverá acordo sobre o auxílio à Grécia durante a conferência de cúpula, mas a Comissão Europeia propôs negociar o mecanismo que poderia ser usado para organizar um pacote financeiro caso Atenas venha a solicitar ajuda.
Funcionários do governo francês continuavam esperançosos de que os líderes da União sejam capazes de fechar ao menos um acordo provisório; ou, no mínimo, que seja possível um acordo entre os líderes da zona do euro. Mas Angela Merkel, a chanceler [primeira-ministra] alemã, está determinada a fazer da assistência financeira uma ferramenta de "último recurso".
A Alemanha insiste em que o FMI faça uma "contribuição substancial" a qualquer pacote de resgate e que os 27 países-membros da União Europeia aceitem negociar novas e severas regras -com alterações no tratado de união, caso necessário- para evitar que volte a surgir uma crise semelhante.
A posição de Berlim emergiu em resposta à crescente pressão da Comissão e de outros países membros da União, que desejam chegar a um acordo na conferência de cúpula.
Em Bruxelas, o anúncio foi visto como positivo, enquanto Nicolas Sarkozy, o presidente francês, parece ter relaxado sua oposição ao envolvimento do FMI. Ele convocou a conferência de cúpula europeia depois de uma reunião com o primeiro-ministro espanhol, José Luis Zapatero.
Em entrevista ao "Financial Times" no domingo, José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia, declarou que um acordo era necessário para reassegurar os mercados financeiros e garantir a estabilidade do euro. Ele expressou confiança em que Merkel, por ser uma líder que tem "compromisso com a Europa", apoiasse um acordo.
A demanda alemã que enfrentaria maior resistência da parte dos demais países da União é a insistência em negociar novas regras que imponham disciplina orçamentária, mesmo que isso signifique alterar o tratado. Tanto a França quanto o Reino Unido se opõem a qualquer sugestão que envolva reabrir negociações quanto ao tratado.
"Devemos extrair as consequências que isso terá para o futuro, com o objetivo de chegar a acordo sobre sanções e medidas preventivas mais efetivas contra o endividamento excessivo, mesmo que isso envolva mudar o tratado", disse o funcionário alemão, que falou sob a condição de que seu nome não fosse revelado.
O envolvimento do FMI é um debate muito mais aberto, na União Europeia. Barroso não expressou objeções, desde que qualquer esforço de resgate seja liderado pela Europa. Existem divisões sobre o assunto na Alemanha, mas assessores de Merkel parecem ter saído vitoriosos, depois de feroz debate com o ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, que se opõe à participação do FMI.
Herman Von Rompuy, presidente do Conselho Europeu, estava em busca de um acordo quanto à proposta de uma conferência dos líderes da zona do euro, mas também propôs um debate no jantar, na conferência de cúpula da União Europeia, sobre "desequilíbrios de competitividade e balanço de pagamentos", o que permitiria que os 27 países tratassem da crise na zona do euro, ainda que sob outro rótulo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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