São Paulo, quarta, 24 de março de 1999

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MERCADO FINANCEIRO
Problemas nas redes de varejo de Ricardo Mansur provocaram onda de saques no Crefisul, segundo o BC
Banco de Mappin e Mesbla é liquidado

da Sucursal de Brasília

As dificuldades enfrentadas pelas lojas Mesbla e Mappin causaram ontem a liquidação do braço financeiro do grupo do empresário Ricardo Mansur, o Crefisul.
Segundo o diretor de Fiscalização do Banco Central, Luiz Carlos Alvarez, as notícias sobre problemas nas redes varejistas desencadearam, a partir de janeiro, uma onda de saques de recursos depositados no banco, que tinha basicamente grandes clientes.
"São investidores mais ariscos, que são muito rápidos no gatilho", disse o diretor do Banco Central. O Crefisul tinha 13 agências e apenas R$ 6 milhões em depósitos à vista.
O BC decretou intervenção porque anteontem o banco ficou devedor em R$ 10 milhões na conta de reservas bancárias, uma espécie de conta corrente que os bancos são obrigados a manter no BC.
Havia também "grave comprometimento patrimonial" -o que significa que, aparentemente, os créditos que o Crefisul tem a receber não cobrem seus compromissos, como depósitos de clientes e dívidas com o BC.
Procurado pela Folha, Ricardo Mansur não se pronunciou. Ele divulgou comunicado dizendo ter sido surpreendido pela decisão. Atribuiu as dificuldades das instituições à conjuntura econômica e à "irresponsável e maldosa onda de boatos" que atingiu as empresas não-financeiras do grupo.
Alvarez disse que ainda é cedo para afirmar que o Crefisul dará prejuízos ao governo. Mas, de antemão, sabe-se que o BC é um dos principais credores do banco.
O balancete de janeiro indica dívida de R$ 120 milhões com o BC. Desse total, cerca de R$ 20 milhões são originários de empréstimos de socorro que a instituição vinha concedendo ao Crefisul.
Outros R$ 90 milhões se referem a empréstimo do Proer (programa de socorro aos bancos) concedido em 1996 na incorporação do banco Antônio de Queiroz pelo Crefisul, então denominado Banco United.

Socorro oficial
Ao entrar no vermelho anteontem, o Crefisul voltou a pedir empréstimo de socorro ao BC, que o negou por considerar insuficientes as garantias apresentadas.
Com a liquidação, um interventor nomeado pelo BC vai começar um trabalho de venda e cobrança de créditos e bens para cobrir os compromissos do Crefisul.
Análise preliminar, entretanto, já apontou alto índice de inadimplência. "Há riscos potenciais de perdas nos ativos", disse Alvarez.
O diretor do BC informou que a liquidação do Crefisul não implicará nenhuma restrição à operação da Mesbla e do Mappin, embora tenha sido decretada a indisponibilidade de bens de Mansur, controlador das três empresas.
A quebra do Banco Crefisul coloca sob risco o dinheiro investido por cerca de 20 mil associados do Consórcio M, o antigo Consórcio Mesbla, que também foi liquidado ontem. Boa parte dos recursos do consórcio estava no Crefisul.
Com a liquidação, o consórcio deverá se habilitar como qualquer outro credor e entrar na fila para receber de volta seus depósitos.
O seguro-depósito cobre apenas os depósitos à vista e a prazo, como CDBs (Certificados de Depósito Bancário), até R$ 20 mil.
Teoricamente, como um depositante comum, o Consórcio M teria direito a receber de volta apenas R$ 20 mil. Para reaver o resto, depende da venda e cobrança de bens e créditos do Crefisul.
Alvarez disse que o dono do Crefisul manifestou interesse em discutir formas de cobrir perdas dos clientes.



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