São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Presidente do Banco Mundial poupa país de "nova cruzada" da instituição que vai pregar moralidade

Corrupção no Brasil não incomoda Bird

Brendan Smialowski/France Presse
O presidente do Bird, Paul Wolfowitz, durante entrevista coletiva concedida em Washington


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O presidente do Bird (Banco Mundial), Paul Wolfowitz, transformou o tema do combate à corrupção em uma "nova cruzada" da instituição, com ações efetivas de cancelamento de US$ 1 bilhão em programas do banco com governos considerados corruptos.
A "cruzada", no entanto, não deve afetar o Brasil, imerso em um dos maiores escândalos de corrupção de sua história com as denúncias e comprovações da existência do mensalão e de caixa dois no governo do PT.
Questionado ontem pela Folha sobre o que teria a dizer a respeito da denúncia da Procuradoria Geral da República no Brasil contra 40 pessoas ligadas ao governo Lula, Wolfowitz desconversou:
"Não temos notícias de casos de corrupção nos nossos programas no Brasil, mas sim de bons resultados no caso do Bolsa-Família", disse. "Procuramos sempre assegurar que nossos programas sejam livres de problemas passíveis de corrupção."
Pouco antes, Wolfowitz havia qualificado como sendo "um câncer" a existência de casos de corrupção em governos, principalmente em países mais pobres. A referência de Wolfowitz à corrupção foi feita em termos mais amplos, e não apenas em relação aos programas financiados com dinheiro do Banco Mundial. "Temos de fechar o foco na construção de políticas e instituições que previnam os casos de corrupção antes que eles minem o desenvolvimento (dos países)", afirmou.
Com o Brasil assegurando que continuará com a sua política de superávits primários elevados para pagar os juros de sua dívida, os casos de corrupção no governo Lula passaram ao largo das preocupações do Banco Mundial e do FMI na reunião conjunta dos dois organismos, encerrada ontem em Washington.
O assunto não recebeu qualquer referência, mesmo que indireta, nos vários relatórios e entrevistas que abordaram os atuais problemas brasileiros.
Em relação a outros países menos "fiscalmente responsáveis" que o Brasil neste momento, houve cobranças.
Horas depois de o Banco Mundial ter anunciado o cancelamento da dívida de US$ 37 bilhões de 17 países pobres, por exemplo, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, disse ontem que as nações ricas precisam ter cuidado para não desencadear um novo ciclo de empréstimos e perdão que seja "interminável".
Em uma linguagem sutil, mas também abordando o tema da corrupção, Snow sugeriu que os países ricos fechem as torneiras de empréstimos a países que já se mostraram incapazes no passado de honrar compromissos.
"A experiência com vários países comprova que o acúmulo rápido de dívida pode conduzir em pouco tempo a incidentes de passivos impagáveis",disse.
"Um dos nossos principais objetivos deve ser o de fomentar a sustentabilidade de longo prazo da dívida, pondo fim ao ciclo de concessão de empréstimos e perdão aos países pobres que solicitam os empréstimos", afirmou Snow durante reunião do Comitê de Desenvolvimento do FMI.
Snow sugeriu ainda que os países pobres devam encontrar maneiras de se auto-financiarem com a ajuda do setor privado.
Ele exortou organismos internacionais como o Fundo e o Banco Mundial a permanecerem "atentos" na concessão de empréstimos a países com elevados níveis de corrupção.


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