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OPINIÃO ECONÔMICA
O desafio de Alckmin
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Geraldo alckmin está
diante do grande desafio político de sua vida. Tem cinco meses para vencer Lula e Garotinho
ou para chegar ao segundo turno
bem posicionado. Eu diria, entretanto, que o momento crucial de
sua campanha serão os próximos
dois meses, porque será nesse período que ele terá que consolidar
sua visão do Brasil e, portanto, as
grandes linhas de sua proposta de
governo.
Há muita gente que duvida de
suas possibilidades. Diante da última pesquisa do Datafolha, vários agentes no mercado financeiro zeraram sua posição comprada em dólar prevendo Garotinho
no segundo turno. Tenho, entretanto, duas razões para acreditar
que o vitorioso nessas eleições será Alckmin. Primeiro porque eu o
conheço bastante bem, há muitos
anos, e tenho dele a melhor das
impressões como político. Não foi
por acaso que o grande estadista
que foi Mário Covas o escolheu
para seu companheiro. Alckmin é
um homem inteligente, equilibrado e firme. Exerce liderança de
forma natural sobre os que o rodeiam, sempre de forma modesta,
sem sombra de arrogância. E se
pauta pela ética da responsabilidade, como é próprio dos melhores políticos. Revelou-se em São
Paulo um notável administrador
público. Não há razão para que
não possa repetir o feito a nível
nacional.
Segundo, tenho uma visão do
povo brasileiro que é incompatível com a reeleição de Lula. Sei
que as pesquisas estão desmentindo o que afirmo, mas seu governo
foi tão ruim, e está de tal forma
desmoralizado, tanto no plano
moral quanto das reformas e realizações, que me custa acreditar
na sua viabilidade. Se seu primeiro governo foi tão desastroso e vazio, imagine o que poderia ser um
segundo.
Entretanto, para ganhar uma
eleição nacional, não basta criticar o adversário. É preciso ter
uma idéia e um projeto de Brasil
que conquistem o centro do eleitorado e, assim, identifiquem-se
com a nação. O próprio povo não
sabe qual é essa idéia e por certo
não tem condições de pensar em
um projeto, mas tem intuições
que estão sempre em movimento.
Como as elites, o povo é vítima
das ideologias hegemônicas, que,
desde o final dos anos 80, foram
neoliberais e globalistas no Brasil.
Mas os povos na América Latina
já se deram conta do grande fracasso dessas propostas vindas do
Norte em promover o desenvolvimento econômico e social do Sul.
Apenas os países da Ásia que não
as aceitaram -que não aceitaram crescer com poupança externa se endividando, que não perderam o controle de sua taxa de
câmbio e que mantêm os juros
baixos- se desenvolveram. É claro que esses países também mantêm rígida disciplina fiscal e controle da inflação.
O eleitor médio não entende de
política econômica, mas suas intuições são importantes. E elas estão mudando. O ciclo neoliberal e
globalista está terminando em todo o mundo, inclusive no Brasil.
A eleição de Lula em 2002 já foi
um sinal, mas depois ele traiu
seus compromissos, e seu governo
é um arremedo neoliberal. O
cientista político Rogério Schmitt
publicou no "Valor" (13/4) um artigo no qual diz que os brasileiros
continuam a apoiar a ortodoxia
convencional, mas os dados que
apresentou mostram o contrário.
Dado o tipo de pergunta, que leva
o respondente a confundir responsabilidade fiscal e dureza contra a inflação com essa ortodoxia,
a maioria ainda considera a política econômica adequada, mas
essa maioria está diminuindo. E,
diante da pergunta feita pelo Ibope se o novo governo deve fazer
mudanças profundas, dar continuidade ou fazer ajustes na atual
política, 54% foram a favor de
mudanças profundas.
Nos próximos dois meses, Alckmin deverá pensar muito. Ele já
vem fazendo consultas, e alguns
dos seus interlocutores são excelentes. Mas a grande e simples
síntese, não de um economista,
ou de um sociólogo, ou de um
cientista político, mas de um político que legitimamente aspira à
Presidência, será ele que terá que
realizar.
Os brasileiros, nas duas últimas
décadas, colocaram como suas
prioridades primeiro a democracia e a educação, depois o fim da
alta inflação; agora, que conseguiram a democracia e o controle
da inflação, somaram à educação
a busca da nação e do desenvolvimento. Nada mais compatível.
Compreenderam ou estão compreendendo que na era global os
Estados-nação competem economicamente e querem que o Brasil
tenha uma estratégia nacional de
desenvolvimento ou de competição. Ganhará as eleições o candidato que for capaz de expressar
essa intuição, esses sentimentos.
É possível que nenhum dos candidatos tenha uma visão. Lula já
a teve, mas a perdeu. Existem neste momento um vazio e uma
oportunidade para um candidato
tão bem equipado como é Alckmin. As eleições presidenciais de
2006 se travam em um quadro de
crise moral sem precedentes no
seio da política brasileira. Esse é
um grande trunfo de Alckmin, como é o governo que realizou em
São Paulo, mas os eleitores querem o futuro e a esperança: é nisso
que ele precisará concentrar suas
energias.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, 71, professor da Fundação Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de "Desenvolvimento e Crise no Brasil:
1930-2002".
Internet: www.bresserpereira.org.br
E-mail - lcbresser@uol.com.br
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