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FOLHAINVEST
AÇÕES NA BOLSA
Com mudanças, empresas tendem a profissionalizar gestão e a deixar seus balanços mais transparentes
Pulverização de capital favorece investidor
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O investidor que busca alavancar seus ganhos investindo em
ações, num cenário em que aplicações atreladas à taxa de juro
tendem a render menos, encontra
novas oportunidades na onda de
pulverizações de controle de capital que importantes empresas
anunciam desde o início do ano.
Na semana passada foi dada a
partida a mais uma dessas operações. A operadora de telefonia fixa Telemar propôs aos seus acionistas uma reestruturação societária em que, ao final do processo,
os controladores venderão de 9%
a 15% do capital total na Bolsa.
Esse movimento começou em
2005 com a bem sucedida operação da Lojas Renner que, entre junho e julho do ano passado, vendeu 100% do seu capital na Bolsa,
no segmento conhecido como
Novo Mercado, que tem regras
que exigem maior transparência
aos acionistas minoritários.
Desde janeiro, Embraer, Diagnósticos da América (Dasa), Submarino e Perdigão iniciaram processos para colocar parte das
ações dos seus controladores no
mercado. Dasa e Submarino já
concluíram as operações.
Para o investidor pessoa física, o
risco desses papéis é igual ao oferecido pelas ações das demais empresas listadas na Bolsa: os preços
oscilam ao sabor do mercado, da
situação macroeconômica e do
desempenho do setor e da empresa. Esses indicadores têm de ser
analisados antes da compra.
A vantagem, segundo analistas,
é que essas companhias tendem a
ser mais profissionalizadas -já
que não têm um dono ou grupo
controlador- e seus balanços seguem exigências de maior transparência - o que facilita a análise
da empresa. Além disso, elas só
possuem ações ordinárias (ON),
que dão direito a voto. Quase todas as empresas listadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São
Paulo) têm também ações preferenciais (PN), sem direito a voto.
"Numa empresa que tem só
ações ordinárias os sócios majoritários não vão prejudicar os minoritários, pois também saem
perdendo", observa Alexandre
Garcia, analista da corretora Ágora Sênior. No caso dessa empresa
ser comprada por um grupo estrangeiro, o comprador terá de
pagar aos minoritários no mínimo 80% do preço pago pelas
ações dos demais acionistas - é o
chamado "tag along".
Os analistas alertam que as empresas que pulverizam seu capital
embora sejam mais profissionalizadas não estão vacinadas contra
problemas de gestão. Elas podem
estar livres de disputas familiares
ou societárias, mas sem o olho do
dono correm o risco de ser controladas por diretorias cujos bônus dependem dos desempenhos
trimestrais apresentados.
Os analistas lembram os casos
da Enron e World Com, dos EUA,
cujos diretores maquiavam balanços para esconder a real situação das empresas que acabaram
quebrando. "Quando não há um
controlador o "dono" da empresa
acaba sendo a diretoria. O presidente não responde a ninguém
especificamente e sim aos acionistas que são pulverizados e não organizados e não têm acesso às decisões", diz Eduardo Borges, sócio
responsável pela área de Investment Banking do Banco Modal.
Para Borges, o principal cuidado que o investidor de empresas
pulverizadas deve ter é com a
qualidade da gestão. "Em geral,
quando pulveriza o controle o antigo dono fortalece a presidência
da empresa. Se o gestor for competente , é uma ótima operação."
O investidor também deve ficar
atento à qualidade das informações fornecidas pela empresa. Em
geral quem pulveriza o capital
tem normas de governança corporativa mais transparentes.
"Para o investidor a governança
é importante, mas dificilmente
mensurável", diz Gustavo Barbeito, analista da Prosper Corretora.
Ele alerta que "pulverização e
governança não fazem mágica,
por si só não geram uma valorização contínua das ações". Com exceção da Lojas Renner, a primeira
a pulverizar seu capital na Bolsa,
as demais tiveram queda de preço
nos papéis após o anúncio das
emissões, lembra Barbeito.
As ações da Renner subiram
205% até a última quinta-feira,
desde julho do ano passado quando a americana J.C. Penney vendeu 100% do seu capital no mercado acionário e saiu do negócio.
"Essa valorização não foi conseqüência da pulverização. Todas as
empresas do setor de varejo e
consumo tiveram alta devido à
expectativa de queda dos juros."
Nas demais empresas, que já fizeram ou anunciaram emissões
para pulverizar o capital, as ações
ordinárias caíram desde então. A
Perdigão desvalorizou 10% por
conta da gripe aviária e do embargo russo à importação de frango.
A Embraer subiu na época do
anúncio mas agora acumula queda de 12,5%, segundo ele resultado da correção da diferença de
preços que havia entre as ações
ON e PN. A partir de maio, a empresa só negociará as ações ordinárias.
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