São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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FOLHAINVEST

AÇÕES NA BOLSA

Com mudanças, empresas tendem a profissionalizar gestão e a deixar seus balanços mais transparentes

Pulverização de capital favorece investidor

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O investidor que busca alavancar seus ganhos investindo em ações, num cenário em que aplicações atreladas à taxa de juro tendem a render menos, encontra novas oportunidades na onda de pulverizações de controle de capital que importantes empresas anunciam desde o início do ano.
Na semana passada foi dada a partida a mais uma dessas operações. A operadora de telefonia fixa Telemar propôs aos seus acionistas uma reestruturação societária em que, ao final do processo, os controladores venderão de 9% a 15% do capital total na Bolsa.
Esse movimento começou em 2005 com a bem sucedida operação da Lojas Renner que, entre junho e julho do ano passado, vendeu 100% do seu capital na Bolsa, no segmento conhecido como Novo Mercado, que tem regras que exigem maior transparência aos acionistas minoritários.
Desde janeiro, Embraer, Diagnósticos da América (Dasa), Submarino e Perdigão iniciaram processos para colocar parte das ações dos seus controladores no mercado. Dasa e Submarino já concluíram as operações.
Para o investidor pessoa física, o risco desses papéis é igual ao oferecido pelas ações das demais empresas listadas na Bolsa: os preços oscilam ao sabor do mercado, da situação macroeconômica e do desempenho do setor e da empresa. Esses indicadores têm de ser analisados antes da compra.
A vantagem, segundo analistas, é que essas companhias tendem a ser mais profissionalizadas -já que não têm um dono ou grupo controlador- e seus balanços seguem exigências de maior transparência - o que facilita a análise da empresa. Além disso, elas só possuem ações ordinárias (ON), que dão direito a voto. Quase todas as empresas listadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) têm também ações preferenciais (PN), sem direito a voto.
"Numa empresa que tem só ações ordinárias os sócios majoritários não vão prejudicar os minoritários, pois também saem perdendo", observa Alexandre Garcia, analista da corretora Ágora Sênior. No caso dessa empresa ser comprada por um grupo estrangeiro, o comprador terá de pagar aos minoritários no mínimo 80% do preço pago pelas ações dos demais acionistas - é o chamado "tag along".
Os analistas alertam que as empresas que pulverizam seu capital embora sejam mais profissionalizadas não estão vacinadas contra problemas de gestão. Elas podem estar livres de disputas familiares ou societárias, mas sem o olho do dono correm o risco de ser controladas por diretorias cujos bônus dependem dos desempenhos trimestrais apresentados.
Os analistas lembram os casos da Enron e World Com, dos EUA, cujos diretores maquiavam balanços para esconder a real situação das empresas que acabaram quebrando. "Quando não há um controlador o "dono" da empresa acaba sendo a diretoria. O presidente não responde a ninguém especificamente e sim aos acionistas que são pulverizados e não organizados e não têm acesso às decisões", diz Eduardo Borges, sócio responsável pela área de Investment Banking do Banco Modal.
Para Borges, o principal cuidado que o investidor de empresas pulverizadas deve ter é com a qualidade da gestão. "Em geral, quando pulveriza o controle o antigo dono fortalece a presidência da empresa. Se o gestor for competente , é uma ótima operação."
O investidor também deve ficar atento à qualidade das informações fornecidas pela empresa. Em geral quem pulveriza o capital tem normas de governança corporativa mais transparentes.
"Para o investidor a governança é importante, mas dificilmente mensurável", diz Gustavo Barbeito, analista da Prosper Corretora.
Ele alerta que "pulverização e governança não fazem mágica, por si só não geram uma valorização contínua das ações". Com exceção da Lojas Renner, a primeira a pulverizar seu capital na Bolsa, as demais tiveram queda de preço nos papéis após o anúncio das emissões, lembra Barbeito.
As ações da Renner subiram 205% até a última quinta-feira, desde julho do ano passado quando a americana J.C. Penney vendeu 100% do seu capital no mercado acionário e saiu do negócio. "Essa valorização não foi conseqüência da pulverização. Todas as empresas do setor de varejo e consumo tiveram alta devido à expectativa de queda dos juros."
Nas demais empresas, que já fizeram ou anunciaram emissões para pulverizar o capital, as ações ordinárias caíram desde então. A Perdigão desvalorizou 10% por conta da gripe aviária e do embargo russo à importação de frango. A Embraer subiu na época do anúncio mas agora acumula queda de 12,5%, segundo ele resultado da correção da diferença de preços que havia entre as ações ON e PN. A partir de maio, a empresa só negociará as ações ordinárias.


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