|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Barclays paga US$ 91 bi pelo ABN Amro
Se aceita pelos acionistas, proposta do banco britânico impede o desmembramento do holandês ABN Amro Bank
Juntos, serão a quinta maior instituição financeira do planeta; 26 mil devem ser demitidos, com ganho anual, dizem, de 3,5 bi
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O banco britânico Barclays
anunciou ontem, após cinco semanas de negociações, a compra do holandês ABN Amro
Bank por US$ 91 bilhões. O negócio foi o maior e o mais disputado da história da indústria
bancária internacional.
Os bancos dizem que vão
economizar 3,5 bilhões por
ano até 2010 com ganho de sinergia, incluindo a demissão de
26,3 mil pessoas -10% dos
funcionários no mundo. Juntos, os dois serão o quinto
maior banco do mundo, com
US$ 190 bilhões em valor de
mercado. Terão 47,4 milhões
de clientes e mais de 8.000
agências em 53 países. No novo
banco, o Barclays terá 52% de
participação, e o ABN, os 48%
restantes. A sede será em Amsterdã, mas a presidência ficará
com o Barclays.
O negócio tem o potencial de
detonar onda de fusões e aquisições no sistema bancário europeu, com reflexos nos principais mercados do mundo, Brasil inclusive.
Separadamente, os negócios
do ABN no mundo interessavam aos maiores bancos globais. Mas nenhum, além do
próprio Barclays, pretendia
comprá-lo como um todo.
Se concretizada, será a vitória daqueles que desejavam
manter o banco holandês unido contra os que pretendiam
fatiá-lo, mesmo que tivessem
de pagar 10% a mais por isso.
Será ainda a união de dois bancos de perfil conservador contra instituições financeiras
mais agressivas na conquista
de mercados e clientes.
"Estamos falando em construir um dos melhores bancos
do mundo. A outra oferta era a
desconstrução por um consórcio. É muito diferente", disse
John Varley, presidente do
Barclays.
Para viabilizar a fusão, no entanto, o ABN Amro teve de se
desfazer do banco La Salle, que
concentrava suas operações
nos EUA e foi vendido ao Bank
of America por US$ 21 bilhões.
Se o negócio com o banco americano não vingar, a fusão não
será concretizada.
A compra ainda tem de passar pelo crivo dos acionistas de
ambos os lados e pelas autoridades européias. Descontentes
com a remuneração, os acionistas do ABN podem desautorizar o negócio. Eles têm reunião
marcada na quinta, mas só devem discutir a fusão em agosto.
O Barclays diz que vai pagar
36,25 por cada ação do ABN
-33% mais do que o preço das
ações quando iniciou as negociações, em 16 de março. Segundo o banco, o valor é 49% superior à media das ações seis meses antes dos primeiros rumores da fusão. O pagamento, no
entanto, será por meio da troca
de papéis, o que pode desagradar aos acionistas.
O consórcio liderado pelo
RBS (Royal Bank of Scotland),
por exemplo, se dispunha a pagar até 40 por papel do ABN.
Mais: dizia que poderia pagar a
maior parte em "cash".
Para não desagradar ainda
mais aos acionistas, o ABN fechou a venda do LaSalle em
"cash". O dinheiro levantado
será utilizado para saciar o apetite dos acionistas.
Ontem, as ações do ABN tiveram baixa de 1,4%, e as do
Barclays, de 2,3%.
Os dois bancos têm muito
em comum. Ambos eram pressionados por parte dos acionistas, sobretudo os grandes fundos de investimento, a dar cada
vez mais lucro. Em comum ainda, os dois têm a dedicação ao
crédito e à poupança, atividades tradicionais da indústria
bancária, mas que hoje perdem
em retorno para as operações
feitas pelas tesourarias no mercado de capitais.
Não fosse a união, ambos seriam alvo de propostas hostis
de instituições financeiras consideradas mais agressivas, como os bancos americanos,
além do HSBC e do Santander.
Os dois bancos tem atividades globais complementares. O
Barclays é forte no varejo britânico, enquanto o ABN tem
agências mais pulverizadas no
mundo. Ambos são fortes em
investimentos, gestão de fortunas e operações estruturadas.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Barclays descarta vender operação do ABN no Brasil Índice
|