São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Barclays paga US$ 91 bi pelo ABN Amro

Se aceita pelos acionistas, proposta do banco britânico impede o desmembramento do holandês ABN Amro Bank

Juntos, serão a quinta maior instituição financeira do planeta; 26 mil devem ser demitidos, com ganho anual, dizem, de 3,5 bi


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O banco britânico Barclays anunciou ontem, após cinco semanas de negociações, a compra do holandês ABN Amro Bank por US$ 91 bilhões. O negócio foi o maior e o mais disputado da história da indústria bancária internacional.
Os bancos dizem que vão economizar 3,5 bilhões por ano até 2010 com ganho de sinergia, incluindo a demissão de 26,3 mil pessoas -10% dos funcionários no mundo. Juntos, os dois serão o quinto maior banco do mundo, com US$ 190 bilhões em valor de mercado. Terão 47,4 milhões de clientes e mais de 8.000 agências em 53 países. No novo banco, o Barclays terá 52% de participação, e o ABN, os 48% restantes. A sede será em Amsterdã, mas a presidência ficará com o Barclays.
O negócio tem o potencial de detonar onda de fusões e aquisições no sistema bancário europeu, com reflexos nos principais mercados do mundo, Brasil inclusive.
Separadamente, os negócios do ABN no mundo interessavam aos maiores bancos globais. Mas nenhum, além do próprio Barclays, pretendia comprá-lo como um todo.
Se concretizada, será a vitória daqueles que desejavam manter o banco holandês unido contra os que pretendiam fatiá-lo, mesmo que tivessem de pagar 10% a mais por isso. Será ainda a união de dois bancos de perfil conservador contra instituições financeiras mais agressivas na conquista de mercados e clientes.
"Estamos falando em construir um dos melhores bancos do mundo. A outra oferta era a desconstrução por um consórcio. É muito diferente", disse John Varley, presidente do Barclays.
Para viabilizar a fusão, no entanto, o ABN Amro teve de se desfazer do banco La Salle, que concentrava suas operações nos EUA e foi vendido ao Bank of America por US$ 21 bilhões. Se o negócio com o banco americano não vingar, a fusão não será concretizada.
A compra ainda tem de passar pelo crivo dos acionistas de ambos os lados e pelas autoridades européias. Descontentes com a remuneração, os acionistas do ABN podem desautorizar o negócio. Eles têm reunião marcada na quinta, mas só devem discutir a fusão em agosto.
O Barclays diz que vai pagar 36,25 por cada ação do ABN -33% mais do que o preço das ações quando iniciou as negociações, em 16 de março. Segundo o banco, o valor é 49% superior à media das ações seis meses antes dos primeiros rumores da fusão. O pagamento, no entanto, será por meio da troca de papéis, o que pode desagradar aos acionistas.
O consórcio liderado pelo RBS (Royal Bank of Scotland), por exemplo, se dispunha a pagar até 40 por papel do ABN. Mais: dizia que poderia pagar a maior parte em "cash".
Para não desagradar ainda mais aos acionistas, o ABN fechou a venda do LaSalle em "cash". O dinheiro levantado será utilizado para saciar o apetite dos acionistas.
Ontem, as ações do ABN tiveram baixa de 1,4%, e as do Barclays, de 2,3%.
Os dois bancos têm muito em comum. Ambos eram pressionados por parte dos acionistas, sobretudo os grandes fundos de investimento, a dar cada vez mais lucro. Em comum ainda, os dois têm a dedicação ao crédito e à poupança, atividades tradicionais da indústria bancária, mas que hoje perdem em retorno para as operações feitas pelas tesourarias no mercado de capitais.
Não fosse a união, ambos seriam alvo de propostas hostis de instituições financeiras consideradas mais agressivas, como os bancos americanos, além do HSBC e do Santander.
Os dois bancos tem atividades globais complementares. O Barclays é forte no varejo britânico, enquanto o ABN tem agências mais pulverizadas no mundo. Ambos são fortes em investimentos, gestão de fortunas e operações estruturadas.


Com agências internacionais

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